As JMJ no caminho de uma reconciliação?

A Igreja Católica verá recaírem sobre si todos os aspetos negativos da organização da Jornada, que poderá não ser esse momento de retoma dos laços perdidos ou desgastados.

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No campo de uma psicologia coletiva, da adesão de uma larga comunidade, os momentos de festejo são sempre um misto de apaziguadores e de motivadores – paziguar criando consensos acima das contingências, motivar porque suscitam contentamento, agrado e orgulho. Para a Igreja Católica, as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) deveriam ser um momento paradigmático nessa reconstrução de uma relação que se tem degradado, quer com a crescente laicização da sociedade, quer com as mais recentes decorrências dos abusos sexuais por parte de membros do clero.

Contudo, as JMJ poderão não ser esse momento de retoma dos laços perdidos ou desgastados. Com uma responsabilidade repartida por um largo grupo de entidades, a Igreja Católica verá recaírem sobre si todos os aspetos negativos da organização, mesmo aqueles em relação aos quais, pouco ou nada seja da sua responsabilidade. Disto tinha dado conta de forma cristalina Américo Aguiar, entretanto catapultado para cardeal, ao ter reagido como reagiu quando foi detonada a explosão de indignação sobre o custo da estrutura de altar junto ao Trancão.

De facto, através da figura do presidente da Fundação JMJ, a Igreja Católica tem tentado gerir de forma muito inteligente a representação da sua responsabilidade num contexto que não lhe é favorável, seja pela situação conjuntural e da imagem algo degradada junto de parte da população, seja pela crise económica que não cria tempos em que grandes gastos sejam vistos como naturais.

Mas este esforço, encabeçado, possivelmente, pela pessoa mais bem preparada para tal, não garante resultados positivos. Poderá mitigar algum descontentamento, mas não libertará totalmente a Igreja Católica de ser percecionada como a grande responsável pelos transtornos que assolarão muitos portugueses nos primeiros dias de agosto.

Desprovida da benesse de uma instituição imune aos males e aos erros, todas as falhas de organização, mesmo quando identificados os responsáveis e quem assuma o ónus, será sobre a Igreja Católica que recairá o olhar critico por ser a justificação última do evento.

Longe de ser um momento de reconciliação, as JMJ serão, pelo menos para parte da população da Grande Lisboa, um momento de transtorno, de dificuldade nas deslocações, de mudança no quotidiano. Veremos como o somatório final, das mais e das menos valias, ira ajudar, ou não, a Igreja Católica a reposicionar-se na sociedade portuguesa.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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