Harmonização: vinhos para petiscos de esplanada

Brancos, rosados, tintos e espumantes: todos têm o seu lugar à mesa, quando casados com os petiscos que fazem da esplanada uma instituição do Verão português.

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Os vinhos perfumados e refrescantes ajudam a elevar as gambas ao alho a outro patamar sensorial. Goncalo Dias/Arquivo Público
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Perfeitas para desacelerar e o local de eleição para fruir dos dias de sol e calor de Verão, sem obrigações e sem hora marcada. O ambiente descontraído e a brisa convidativa fazem da esplanada um refúgio retemperador. Petiscos, conversas e risadas combinam lindamente quando acompanhados por vinhos a condizer, num quadro de boa disposição e indulgência ao ar livre.

Gambas ao Alho

Leve, cheio de aroma e sabor, é um petisco triunfante de roda de amigos numa qualquer esplanada. Criado em Espanha, afamado como “gambas al ajillo”, combina na perfeição camarões descascados, alho e azeite. Fácil e rápido, faz a glória dos que se aventuram de avental posto.

O segredo está no alho. Frito em azeite, liberta aroma e sabor intensos, e parece ter um pacto secreto com as gambas. O único senão é o de o alho poder ser algo problemático para o vinho. O corte do alho em tiras bem fininhas será bem mais tolerável pelo vinho. E o hálito agradece. Um borrifo de limão e pitada de salsa são o toque especial que faz a ponte com o vinho.

As gambas ou o camarão (é mais pequeno e tende a secar) têm uma textura delicada e sabor adocicado a sugerir vinhos com toque de envolvência frutada. Em jeito de dica, as gambas frescas ficam ainda melhores quando descascadas na hora, pois têm menos água e seu sabor fica mais concentrado. Tudo pronto e com o vinho à medida, perfumado e refrescante, temos uma explosão sensorial inigualável, que apetece repetir sempre.

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Para muitos, a imperial geladinha é a companhia certa para os caracóis. Mas vale a pena pô-los diante de Vinhos Verdes aromáticos com vivacidade de sabor. Miguel Manso/Arquivo Público

Caracóis

O letreiro onde se lê “Há caracóis” multiplica-se de norte a sul do país, a anunciar o petisco que faz as alegrias de muitos. O Verão é a época certa para comê-los. No mês de Maio termina o ciclo de criação dos caracóis e até Agosto estão no ponto ideal para serem consumidos.

É uma daquelas raras guloseimas que fazem “bem”. Dizem os nutricionistas que o caracol é constituído sobretudo por água, é rico em proteínas e pobre em gorduras e calorias. Logo, é saudável! A desculpa até calha bem para os muito aficionados do petisco.

Boa parte das receitas conjuga os caracóis com louro, orégãos, sal, pimenta preta e piripíri. Pode-se dizer que é um petisco bem aromático que nos prende logo pelo cheiro. Cebola e alho são bastante comuns, também. Para muitos a cerveja em dose imperial geladinha é a bebida predilecta. Que não levem a mal, mas já experimentaram com Vinho Verde? Se não, aqui ficam propostas a condizer de vinhos aromáticos com vivacidade de sabor, de várias cores e texturas.

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Um vinho frutado, com frescura ácida e fragrância de aroma, é a escolha acertada para os jaquinzinhos fritos. Matilde Fieschi/Arquivo Público

Jaquinzinhos

“Jaquinzinhos” são carapaus de pequeno calibre que se comem, em geral, inteiros e fritos. Autêntico deleite para os amantes de peixe fresco frito. É especialidade da pesca artesanal, da arte-xávega, mas nem sempre está disponível devido a restrições de pesca.

A preparação do “jaquinzinho” é simples. Temperados com sal, pimenta e sumo de limão e, depois, passados por farinha. O segredo para torná-los irresistíveis é garantir que fiquem estaladiços por fora, saborosos por dentro, sem ficarem oleosos. Arroz malandrinho de tomate, arroz de feijão ou açorda são comitivas habituais. O modo “escabeche” é outra especialidade. Em todas há um jogo de texturas quase irresistível.

Um vinho frutado, com frescura ácida e fragrância de aroma, é a escolha acertada o este prato. Do branco, passando pelo espumante até ao rosado, tudo vale. Inusitado para muitos, mas eficaz e delicioso, é o Vinho Verde tinto, dos ligeiros, de fruta vivaça e taninos macios, servido a 14 graus centígrados, em particular com o “jaquinzinho” com arroz de tomate.

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Um vinho branco mais untuoso e volumoso, com ou sem barrica, unirá todos os sabores do pica-pau. José Sarmento Matos/Arquivo Público

Pica-Pau

Petisco que facilmente une amigos em torno da mesa: pratinhos, garfinhos ou palitos distribuídos entre os comensais, junte-se o vinho e copos, e a festa está armada.

Associado à festa brava na charneca do Ribatejo, o pica-pau é uma deliciosa combinação de carne salteada, temperada com alho, louro e refrescada por vinho branco. Ao longo do tempo, a popularidade levou à substituição das carnes “rijas” originais por cortes mais macios, como lombo ou alcatra. Hoje, são comuns as receitas com vitela e porco. Especiarias, pimentos, picles e azeitonas são algumas das terminações costumeiras junto da carne douradinha pela frigideira. É uma festa de sabor.

Se há coisa de que fica bem com pica-pau é vinho a condizer. O tinto frutado, macio, com frescura de sabor e de temperatura, é o óbvio. Mas não há necessidade de ficar apenas por aí. Um vinho branco um pouco mais untuoso e volumoso, com ou sem barrica, unirá todos os sabores. Assim como um rosé em versão tranquila ou efervescente. Todas são opções de prazer certo, capazes de cantar vitória na atmosfera galhofeira de uma esplanada.


Este artigo foi publicado no n.º 9 da revista Singular.

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