Ambientalistas contrariam central fotovoltaica com área de 150 campos de futebol em Tavira

Para a implantação de 175 mil painéis solares em área equivalente a 150 campos de futebol será preciso abater milhares de árvores. Ambientalistas temem impacto ambiental e na população de Tavira.

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Ambientalistas temem que a instalação de painéis fotovoltaicos tenham um intenso impacto ambiental Nuno Ferreira Santos
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Ambientalistas da Associação Pró-Barrocal Algarvio (Probaal) opõem-se à implantação de 175 mil painéis solares em mais de 150 hectares — área superior a 150 campos de futebol — na cidade de Tavira, no Algarve. A empresa espanhola Iberdrola, responsável pela instalação da central fotovoltaica, enfrenta discordâncias não só da Probaal como também da câmara municipal da cidade e da Amnistia Internacional de Portugal. Entre as razões da oposição destacam-se os prejuízos ambientais como os impactos nos aquíferos e ameaça à biodiversidade da região.

A activista da Probaal Sofia Palmeiro declarou à TSF que a estrutura do terreno sofrerá alterações, tornando-se um “deserto” após a instalação da central fotovoltaica. “Para conseguirem instalar estes mais de 150 hectares de painéis solares, o armazenamento de baterias e fazer o corredor para os 21 postes de alta tensão, terão de rapar e decapar o solo e despregar todas as rochas e rochedos que ali se encontram”, afirmou a representante da associação.

Além das modificações visuais, os ambientalistas temem que o fornecimento de água para a população local também seja afectado. A construção da central está planeada para onde se situa o aquífero de Peral-Moncarapacho, que funciona como um reservatório de água subterrânea alimentado pelas chuvas e "fornece água a milhares de pessoas através de furos artesianos e rede pública”, explica a associação.

Localização da central é contestada

O projecto foi questionado pela Amnistia Internacional (AI) Portugal no mês passado através de um documento. Nele, a organização contesta o avanço dos projectos por temer o prejuízo ambiental e a desflorestação de milhares de árvores em zonas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (REN).

A AI Portugal apontou, ainda, a falta de transparência e de recursos que possibilitem uma participação pública activa na tomada de decisões. No documento, Vera Ferreira, investigadora em alterações climáticas e políticas de desenvolvimento sustentável no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, explicou que “os mecanismos que estão a ser aplicados não são inclusivos, nem eficazes, nem garantem que haja justiça energética. As pessoas não são envolvidas nos processos de tomada de decisão.”

A Câmara Municipal de Tavira também se manifestou contra a localização escolhida pela Iberdrola para sediar este megaprojecto. A autarca Ana Paula Martins, em declarações à Agência Lusa, salientou ser necessária a realocação da central de Estoi para proteger os sistemas aquíferos e as paisagens na unidade de paisagem do Barrocal.

“Considera-se que a escassez de água existente supera outras preocupações, designadamente a energia, podendo ser encontrado outro local que não afecte o ambiente e a paisagem, pelo que o local não será de todo o mais adequado à construção da central fotovoltaica”, advertiu a Câmara de Tavira.

O projecto para a central solar fotovoltaica de Estoi entrou em consulta pública, promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a 19 de Maio deste ano e ficará disponível até 20 de Julho. A Probaal ressalta a importância da participação pública para “fazer ouvir a sua voz”. As opiniões acerca da proposta podem ser registadas no portal Participa.

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