Abelharuco: a ave colorida que gosta de comer abelhas

Vermelho, amarelo, azul, castanho, branco... São tantas as cores do abelharuco que é praticamente impossível confundi-lo com qualquer outra ave.

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Dois abelharucos (Merops apiaster) Juan Maria Coy Vergara/GETTY IMAGES
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Tem tantas cores que é inconfundível e, ao mesmo tempo, torna-se difícil fixar, num relance, todos os tons que o pintam. O abelharuco (Merops apiaster) começa a chegar a Portugal no final de Março, para se reproduzir, e fica por cá até finais de Setembro, quando voa para a África Central, até à próxima Primavera. Para uns, será das aves mais bonitas que podemos ver em território nacional, mas para os apicultores pode ser uma dor de cabeça.

Se só pudéssemos dizer uma coisa sobre os abelharucos, o mais provável é que caíssemos no comum: são lindos. Se nunca se cruzou com eles (e não tivesse aqui uma fotografia a que se agarrar), o Guia das Aves (Assírio & Alvim) ajuda-o a imaginar o que estamos a falar: tem, esclarece, “plumagem com ricas cores, exóticas e garridas”. O adulto, acrescenta-se, é “praticamente inconfundível: garganta amarelo-viva, peito e ventre azulados; manchas branco-amareladas nos ombros e castanho-avermelhado na coroa, dorso e painel da parte interior das asas”.

Não vai, por isso, ser difícil identificá-los se tiver a sorte de os ver por aí. E se quer tentar essa sorte, o melhor é dirigir-se ao Alentejo ou Algarve, eventualmente, à Beira Interior, onde as colónias destas pequenas aves migradoras são mais comuns.

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Um abelharuco em plena acção Javier Vegas Gonzalez

Insectívoros inveterados, adoram caçar enquanto voam e são “verdadeiros acrobatas”, diz Hany Alonso, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que coordena o Censo de Aves Comuns (CAC) deste órgão e tem verificado como a espécie está, por cá, em “declínio moderado”, desde, pelo menos, 2001. Uma situação comum a Espanha e que pode prender-se com a redução de alimento e com as alterações climáticas, que têm invadido a Península Ibérica com cada vez mais ondas de calor.

O investigador da SPEA diz que os primeiros exemplares da espécie, que tem um estatuto de conservação “pouco preocupante”, começam a chegar a Portugal ainda em Março, mas que os grandes grupos só por cá estão em Abril. Na hora de partir, há também alguma disparidade de tempo: alguns podem começar o longo voo até ao Senegal ou países vizinhos logo no final de Agosto, outros deixam-se ficar até quase ao fim de Setembro.

E, enquanto cá estão, o mais fácil será encontrá-los nos barrancos junto aos rios, nas regiões a sul do Tejo e interiores, onde as colónias fazem buracos que funcionam como ninhos (embora também o possam fazer junto a estradas ou na costa, desde que as encostas o permitam). É aí que depositam os ovos, logo em Maio, seguindo-se o período de incubação (quase um mês) e em que têm de alimentar as crias, incapazes ainda de voar — algo que também se prolongará por cerca de um mês.

Qual a diferença entre uma ave e um pássaro?

A diferença entre ave e pássaro está no facto de que o termo ave é dado a todos os animais pertencentes à classe Aves, mas o termo pássaro só deve ser utilizado para indicar indivíduos da ordem Passeriforme. Isso significa, portanto, que todos os pássaros são aves, porém nem todas as aves pode ser considerada um pássaro.

Coloridos e sociais

Nesta fase, diz Hany Alonso, a espécie tem uma característica que é pouco comum entre as aves: “Eles fazem uma coisa muito engraçada, têm ‘helpers’ para os ajudar a alimentar as crias. São aves muito sociais, vivem em colónias, e acontece que em vez de termos dois adultos, temos três ou quatro a alimentar uma ninhada, que pode ser de entre cinco a sete crias.”

Estes ajudantes são, em geral, membros da mesma família (crias do ano anterior, por exemplo), que encontram neste sistema de entreajuda uma garantia de que pelo menos parte dos seus genes será transmitida à próxima geração, explica o responsável da SPEA. A outra curiosidade é que são insectívoros e têm um particular apetite por elementos da família das abelhas. Em inglês, o seu nome traduz-se, à letra, por “comedores de abelhas”.

Por isso, não são as criaturas favoritas dos apicultores. Mas, eles também comem vespas ou zangões, e, com a vespa asiática a ser a maior dor de cabeça de quem tem colmeias, ter um abelharuco por perto pode, afinal, nem ser assim tão mau, desde que eles escolham comer estas criaturas, como ironiza o investigador.

Se o fizerem, vão apanhá-las, muito provavelmente, no ar e depois bater com a presa no local onde estão pousados, para a matar, engolindo-a em seguida.

Procure-os por aí, enquanto estão por cá. E, se quiser, tente a sorte na praia do Barranco das Belharucas, no Algarve, que — sim — terá sido baptizada graças a estas aves, que costumavam fazer o ninho nas suas encostas calcárias. Agora, com a afluência de banhistas, é menos provável que por ali andem, mas, quem sabe não tem sorte?


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Notícia corrigida com alteração do título. O abelharuco é uma ave.

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