Crise climática: os abelharucos estão a mudar de território?

Pelo segundo Verão consecutivo, a ave foi detectada no Reino Unido pelos especialistas. Em Portugal, este bonito pássaro colorido que come abelhas está em declínio, segundo os dados da SPEA.

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Os abelharucos, como outras espécies, estão a mudar de sítio para nidificar e sobreviver. A fotografia pode parecer uma ilustração, mas não é Anadolu Agency / GettyImages
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É uma boa notícia para os observadores de aves no Reino Unido. E todos sabemos como estamos a precisar de boas notícias quando se fala de ambiente. Porém, a boa nova também tem um lado mau. Pelo segundo Verão consecutivo, o exótico abelharuco europeu está a nidificar na Inglaterra e no mesmo local: escolheram uma antiga pedreira desactivada em Norfolk, um condado na região leste. Mas, apesar de esta presença inesperada ser muito bem-vinda, é (mais) um sinal da crise climática.

A notícia do The Guardian dá às boas-vindas ao "glamour tropical" dos abelharucos. "Com plumagem vermelho-cereja, ultramarino, turquesa e amarela, normalmente encontrados como dardos multicoloridos nos céus de Marrocos, Tunísia, Argélia e Espanha, apresentam-se como o epítome do glamour tropical."

"Os abelharucos têm geralmente aparecido no Reino Unido numa base muito ad hoc, até agora nunca utilizando o mesmo local de nidificação duas vezes", refere Mark Thomas da Sociedade Real de Protecção às Aves (RSPB), citado na notícia.

Os observadores de aves estão obviamente entusiasmados, mas o especialista alerta para um aspecto que não deixa ninguém satisfeito. "O seu regresso é um lembrete vivo das mudanças que estão a ser provocadas pelo sobreaquecimento do nosso planeta. Os abelharucos são uma espécie comum no Sul do Mediterrâneo e no Norte de África e, à medida que o nosso planeta aquece, eles – juntamente com outras espécies – estão a ser empurrados mais para norte", refere Mark Thomas.

Os abelharucos, como outras espécies, estão a mudar de sítio para sobreviver. E, com essas viagens, o mapa da biodiversidade vai-se alterando. Para já, neste caso específico, estamos a falar de uma presença discreta, mas é um sinal que não deve ser ignorado.

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"Os três abelharucos, incluindo um par em nidificação, foram avistados numa pedreira de areia perto de Cromer, no Norte de Norfolk. Os observadores prevêem que mais poderão ainda juntar-se a eles. No ano passado, oito abelharucos instalaram-se no mesmo local, onde chocaram e criaram crias antes de regressarem ao Sul", contabiliza a notícia do The Guardian.

Sobre a viagem dos abelharucos, prevê-se que as aves permaneçam na zona até ao final do Verão nesta pedreira que serve como incubadora e estância de férias. No final do Verão, as aves devem regressar ao Sul para passar o Inverno em África.

Como o próprio nome sugere, os abelharucos alimentam-se de abelhas, mas não só. Também "caçam" libélulas e outros insectos voadores, que apanham em pleno voo. Em Portugal, um trabalho recente da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) alertava para o declínio desta espécie.

O aviso está, por exemplo, no relatório do censo das aves comuns em Portugal divulgado em 2020, um programa de monitorização de aves comuns iniciado pela SPEA em 2004, que tem como objectivo dar a conhecer as tendências populacionais das aves comuns reprodutoras em Portugal.

Neste documento, a SPEA já nota que, entre as espécies associadas aos habitats agrícolas, há um declínio de espécies insectívoras como o picanço-real, o abelharuco e a andorinha-das-chaminés, mas também das espécies granívoras, com destaque para pintassilgo, milheirinha e pardal-comum. Com o alerta para o declínio de algumas espécies associadas aos habitats agrícolas, fica também o apelo para a necessidade de monitorizar eventuais impactos para a biodiversidade.

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