MAI admite desconforto com cartoon e rejeita racismo nas forças de segurança. PSP apresentou queixa

José Luís Carneiro reagiu à animação do Spam Cartoon da RTP que mostra um polícia a disparar, com cada vez mais intensidade, sobre alvos cada vez mais escuros. PSP já apresentou queixa.

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José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

O ministro da Administração Interna admitiu ter expressado o seu desconforto com o cartoon sobre polícia e racismo emitido pela RTP durante a transmissão do festival de música Nos Alive e assegurou que as forças de segurança portuguesas garantem o cumprimento do principio da igualdade.

"Na sexta-feira, tive oportunidade de falar com o presidente do Conselho de Administração da RTP para manifestar desagrado com o facto de um cartoon daquela natureza ter sido exibido num festival que tem tantos milhares de jovens", disse esta segunda-feira José Luís Carneiro, à margem da cerimónia de apresentação do plano de prevenção e segurança da Praia de Matosinhos.

O cartoon, da autoria de Cristina Sampaio, colaboradora do colectivo Spam Cartoon, que tem uma rubrica semanal na RTP — e colaboradora também do PÚBLICO, na rubrica Desalinho, do P2 —​, chama-se Carreira de Tiro e mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, são mostrados quatro alvos, do mais claro ao mais escuro. O mais claro não foi atingido, ao passo que o polícia acertou progressivamente mais em todos os outros.

Reconhecendo o respeito pela liberdade de expressão, o ministro sublinhou, por outro lado, a necessidade de chamar a atenção da administração da RTP para "o sentido de responsabilidade, para que a liberdade de expressão não coloque em causa a imagem e o prestígio das instituições".

José Luís Carneiro disse ainda compreender a explicação do ilustrador André Carrilho, co-fundador do Spam Cartoon, que disse que a animação era alusiva à realidade em França, onde recentemente o jovem Nahel, francês com ascendência magrebina, foi alvejado fatalmente pela polícia numa operação stop​.

Em defesa das forças de segurança portuguesas, o governante assegurou que "cumprem e fazem cumprir a legalidade democrática e os valores constitucionais", desde logo o princípio da igualdade. "Esse é um valor que é marca do nosso país e da actuação das forças de segurança", sublinhou.

Fonte oficial da RTP disse à Lusa que o Spam Cartoon, sendo da autoria de "alguns dos mais reconhecidos cartoonistas portugueses",​ "é um exercício de opinião livre sobre a actualidade nacional e internacional que a RTP acolhe desde 2017".

"Em nenhuma circunstância [o cartoon em questão] serviu para instigar à violência contra quem quer que seja. Os valores da liberdade de expressão e de opinião são basilares da democracia e do serviço público da RTP", salientou o canal de televisão.

Com críticas ao cartoon, o PSD já questionou o Conselho de Administração da RTP e o Chega propôs a audição no Parlamento do canal público e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

PSP apresenta queixa crime

Já esta tarde, a PSP considerou que o vídeo "representa juízos ofensivos da honra e consideração de todos os profissionais da PSP". Em comunicado enviado às redacções, o gabinete de imprensa da Polícia de Segurança Pública revela "que foi hoje foi elaborado auto de notícia, já remetido ao Ministério Público, com referência aos factos apurados até ao momento" e à informação que a PSP considera ter relevância criminal.

A PSP lembra que, em 2005, esta entidade foi a primeira a aprovar o documento "que define claramente as regras aplicáveis ao uso da força público por parte dos seus profissionais".

"A PSP repudia qualquer tipo de imagem, vídeo, discurso ou comentário de teor racista e reitera que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei", lê-se no comunicado.

A PSP apresentou ainda queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social e à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

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