Ondas de calor provocaram 2212 mortes em Portugal em 2022, estima estudo

Vagas de calor que varreram a Europa no Verão de 2022 podem ter provocado mais de 61 mil mortes, indica um estudo publicado na revista científica Nature Medicine. Desse total, 2212 em Portugal.

Foto
Os autores estimam que, no período entre 30 de Maio e 4 de Setembro de 2022, ocorreram 61 672 mortes como resultado do calor extremo Kaique Rocha/DR
Ouça este artigo
00:00
03:47

As ondas de calor que varreram a Europa no Verão de 2022 podem ter provocado mais de 61 mil mortes, indica um estudo publicado esta segunda-feira na revista científica Nature Medicine. Desse total, os investigadores estimam que mais de 2200 óbitos terão tido lugar em Portugal.

“Estimámos 2212 mortes relacionadas com o calor no Verão de 2022 em Portugal. Em termos de mortes por milhão de habitantes, Portugal teve uma das taxas mais elevadas, ficando atrás apenas de Itália, Grécia e Espanha”, afirmou ao PÚBLICO o co-autor Xavier Basagaña, investigador do Instituto de Barcelona para a Saúde Global, em Espanha.

As conclusões do estudo ancoram-se em estatísticas do Eurostat, que facultou dados relativos a mais de 45 milhões de mortes ocorridas em 35 países da Europa. O serviço de estatística da União Europeia verificou níveis elevados de excesso de mortalidade nesse período, mas, segundo os autores, nunca chegou a ser quantificado o impacto no continente europeu.

Os autores analisaram os dados de excesso de mortalidade (ou seja, mortes acima da média esperada para um determinado período de tempo) e, depois, recorrendo a modelos epidemiológicos, calcularam que fatia desse número total de óbitos poderia ser atribuída unicamente ao calor (e não à pandemia, por exemplo). Ao combinar tendências recentes de temperatura no continente europeu com padrões de mortalidade no mesmo período, os cientistas obtiveram uma correlação entre óbitos e valores de temperatura nos 35 países europeus.

Os investigadores estimam que, no período de 30 de Maio a 4 de Setembro de 2022, ocorreram 61.672 mortes como resultado do calor. A Itália está no topo da lista de mortalidade associada ao calor (18.010 mortes), seguida da Espanha (11.324), Alemanha (8173 mortes), França (4807 mortes), Reino Unido (3469 mortes) e Grécia (3092 mortes). Quando a informação foi desagregada em função do género, verificou-se que houve 56% mais mortes relacionadas com o calor entre as mulheres do que entre os homens.

Reavaliar planos de prevenção

“A nossa análise mostra que mesmo em países com consciência social sobre o problema, e até com alguns planos de prevenção em vigor, a mortalidade relacionada com o calor pode ser alta. Assim, os nossos resultados sugerem que esses programas de sensibilização são apenas parcialmente eficazes, devendo ser reavaliados e fortalecidos”, explica o investigador.

O Verão do ano passado foi a estação mais quente alguma vez registada na Europa, tendo sido marcada por uma série de vagas de calor. No Reino Unido, por exemplo, o calor foi tanto que derreteu ao alcatrão da pista do aeroporto de Luton, a cerca de 55 quilómetros de Londres, obrigando ao desvio de voos.

“Surpreendeu-nos constatar que, mesmo depois de terem sido postos em prática planos de prevenção e de maior sensibilização para o problema, as estimativas foram semelhantes às verificadas no Verão de 2003 (ainda que a comparação com 2003 não tenha sido perfeita, por termos utilizado uma metodologia diferente)”, observa Xavier Basagaña, numa resposta enviada por email.

O organismo humano possui limites na adaptação às temperaturas externas. Quando há ondas de calor – um fenómeno climático extremo que, com a crise climática, tende a ser cada vez mais frequente e intenso na Europa –, os nossos corpos enfrentam grandes desafios de termorregulação. Crianças, idosos e pessoas com doenças crónicas podem estar mais vulneráveis a golpes de calor, que podem ser fatais.

As conclusões do estudo indicam, segundo os autores, que os organismos europeus e nacionais dedicados à vigilância de calor e à elaboração de planos de prevenção e estratégias de adaptação de longo prazo devem considerar a reavaliação das medidas e mecanismos em vigor actualmente.

Sugerir correcção
Ler 11 comentários