Cimeira da NATO transforma capital da Lituânia numa fortaleza

Estados-membros da Aliança Atlântica enviam soldados, sistemas de defesa antiaérea e caças para proteger os líderes que começam a chegar a Vílnius nesta segunda-feira.

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Crianças brincam num parque infantil junto ao aeroporto de Vílnius, com lançadores de mísseis Patriot como pano de fundo EPA/FILIP SINGER

Nas vésperas da cimeira da NATO, que começa na terça-feira, Vílnius foi transformada numa verdadeira fortaleza para proteger os líderes dos Estados-membros da Aliança Atlântica, com o Presidente dos EUA, Joe Biden, à cabeça. A capital da Lituânia fica situada a apenas 32 quilómetros da fronteira com a Bielorrússia, aliada da Rússia.

Dezasseis aliados da NATO enviaram um total de cerca de mil soldados para salvaguardar a cimeira de 11 e 12 de Julho, que terá lugar a apenas 151km da própria Rússia. Muitos deles estão também a fornecer sistemas avançados de defesa antiaérea de que os Estados bálticos não dispõem.

“Seria mais do que irresponsável ter o nosso céu desprotegido enquanto Biden e os líderes de 40 países estão a chegar”, disse o Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda.

Lituânia, Estónia e Letónia, outrora sob o domínio de Moscovo, mas que fazem parte da NATO e da União Europeia desde 2004, gastam todos mais de 2% do PIB na defesa, uma percentagem maior do que a maioria dos outros Estados-membros da NATO.

Mas para uma região com uma população total de cerca de seis milhões de pessoas, este valor não é suficiente para sustentar grandes forças armadas, investir nos seus próprios caças ou numa defesa aérea avançada. A Alemanha enviou 12 veículos lançadores de mísseis Patriot, utilizados para interceptar mísseis balísticos e de cruzeiro ou aviões de guerra.

A Espanha forneceu um sistema de defesa antiaérea NASAMS, a França vai enviar obuses autopropulsionados Caesar, a França, a Finlândia e a Dinamarca preparam-se para enviar caças para a Lituânia e o Reino Unido e a França vão transferir armas anti-drone.

Por sua vez, a Polónia e a Alemanha enviaram forças de operações especiais equipadas com helicópteros, enquanto outros forneceram material destinado a fazer face a eventuais ataques químicos, biológicos, radiológicos e nucleares. Para Nauseda, o esforço dos aliados para garantir a segurança aérea durante a reunião dos líderes significa que a NATO precisa de criar urgentemente defesas aéreas permanentes nos Estados bálticos. “Estamos a pensar no que vai acontecer depois da cimeira e vamos trabalhar com os aliados para criar uma força rotativa que garanta uma protecção aérea permanente”, disse o Presidente lituano.

Nas aldeias situadas junto à fronteira com a Bielorrússia, os habitantes locais afirmam à Reuters que se sentem totalmente seguros, apesar da oferta do país aliado da Rússia para receber os mercenários do grupo Wagner e acolher armas nucleares russas.

"Acham que o Wagner ou a Bielorrússia poderiam atacar a Lituânia, que pertence à NATO? Eles não têm coragem. A NATO é a NATO, e sentimo-nos seguros porque estamos na NATO. Porque é que havíamos de ter medo dos bielorrussos?", diz Edvard Rynkun, 67 anos, em Kaniukai, uma aldeia a um quilómetro da Bielorrússia.

“Se a Lituânia estivesse sozinha, eu teria uma opinião diferente”, acrescentou. “Se não fosse a adesão à NATO, as coisas aqui poderiam ser iguais às da Ucrânia”, garante Elena Tarasevic, 55 anos, vizinha de Rynkun.

No aeroporto de Vílnius, oito lançadores de mísseis Patriot, operados pela Alemanha, estão apontados na direcção de Kaliningrado, o exclave da Rússia situado entre a Lituânia e a Polónia. Outros dois estão apontados na direcção da Bielorrússia. Todos os lançadores estão operacionais desde sexta-feira de manhã.

“Sabemos onde estamos situados geograficamente e sabemos muito bem de onde vem a ameaça”, diz o tenente-coronel Steffen Lieb, comandante do destacamento Patriot.

"A Lituânia pediu-nos protecção para a cimeira e a NATO também pediu ajuda à Alemanha. Esta é a nossa resposta”, acrescentou.

Fronteiras reforçadas

A Lituânia triplicou, por sua vez, o destacamento de guardas fronteiriços nas fronteiras com a Bielorrússia e a Rússia, reforçados por agentes da Letónia e da Polónia. Os dois países também enviaram polícias para ajudar a patrulhar Vílnius.

“Estamos a preparar-nos para várias provocações”, refere o chefe da guarda fronteiriça, Rustamas Liubajevas, dizendo temer vagas de migrantes na fronteira, violações da fronteira ou o aparecimento de veículos militares sem explicação.

Milhares de migrantes do Médio Oriente atravessaram a fronteira com a Bielorrússia em 2021, num fluxo que a Lituânia e a União Europeia disseram ter sido orquestrado por Minsk, uma acusação que esta negou. Desde então, os números diminuíram.

“A situação é realmente muito tensa, devido à agressão da Rússia contra a Ucrânia. Por isso, a protecção das fronteiras já estava a um nível muito, muito elevado antes da cimeira”, afirmou Liubajevas.

Os controlos fronteiriços nas fronteiras da Lituânia com a Polónia e a Letónia, todos membros da UE, foram reintroduzidos para a cimeira.

Já o presidente da Câmara de Vílnius sugeriu aos cidadãos que passassem férias fora da cidade se quisessem evitar perturbações, uma vez que grande parte do centro da capital lituana estará encerrada para a cimeira.

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