Archi Summit aposta na diplomacia transformadora da arquitectura

Sétima edição do encontro realiza-se na Casa da Arquitectura, entre quarta e sexta-feira, assumindo como mote a ideia “menos estética e mais ética”.

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A Casa da Arquitectura, em Matosinhos, recebe a sétima edição do Archi Summit Nelson Garrido
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É preciso transformar e ir além da forma nos objectos, nos espaços e nas formas de viver – em suma, apostar em “menos estética e mais ética” ("less aesthetics and more ethics"). Este é o mote da sétima edição do Archi Summit, o encontro anual da indústria da arquitectura que desta vez tem lugar, durante três dias a contar desta quarta-feira, na Casa da Arquitectura, em Matosinhos.

Depois de no ano passado, no Porto, ter abordado a o impacto que as escolhas dos arquitectos têm no território, a dupla de curadores repetentes – Mafalda Rangel e o italiano Francesco Moncada, que formam o escritório Moncada-Rangel, dividido entre Siracusa, na Sicília, e o Porto – escolheu o tema TransForm.

“É um desafio que vem na sequência do tema do ano passado”, diz Mafalda Rangel ao PÚBLICO. “Vemos a arquitectura como um instrumento diplomático, que consegue fazer pontes entre o passado e o futuro, cidades e territórios, produções e comportamentos, humanos e o universo”, acrescenta a arquitecta e designer nascida no Porto em 1980, e formada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (2004), antes de se lançar numa carreira internacional.

À luz desta “visão alargada da disciplina”, a dupla luso-italiana convocou para as sessões do Archi Summit 2023 “arquitectos e designers que reflectem e dão importância não só ao produto final mas a tudo o que entra no processo que lhe dá origem e o antecipa: os materiais de construção, as práticas de projecto e as suas implicações económicas e sociológicas”, explicita Mafalda Rangel, ilustrando com a presença, na Casa da Arquitectura, de escritórios como o OMA, dos Países Baixos (o atelier fundado por Rem Koolhaas, autor da Casa da Música), o Fondamenta (fundado em Milão por Francesca Gagliardi e Federico Rossi), ou o BIG (Bjarke Ingels Group, um colectivo de arquitectos, designers e construtores com sede em Copenhaga e Nova Iorque).

“Quando dizemos ‘Transform, beyond form’ [‘Transforma, além da forma’], isso significa que vemos a arquitectura com uma forte responsabilidade ética, ecológica”, acrescenta a curadora, referindo os convites estendidos a Andreia Garcia e ao grupo Fosbury (Milão), respectivamente curadores dos pavilhões de Portugal e de Itália na 18.ª Bienal de Arquitectura de Veneza, actualmente a decorrer; mas também a Mariana Pestana, que foi curadora-geral da Bienal de Design de Istambul em 2020.

“Preocupámo-nos, desta vez, em alargar o leque dos convidados também ao design”, diz ainda Mafalda Rangel, sublinhando o papel fundamental que esta disciplina tem na prática projectual do arquitecto.

“A máxima ‘more ethics and less aesthetics’ é um bocadinho transversal a todos os convidados, que reflectem esta consciência que é preciso ter e que põe a forma, o resultado final, quase em segundo plano”, acrescenta. É assim que, num programa que atribui um tema-chave a cada um dos três dias do fórum – Disciplina, esta quarta-feira; Processo, quinta; Radicais, sexta –, vai ser ainda possível ver e ouvir testemunhos do trabalho de três escritórios nortenhos: Nuno Melo Sousa, Diogo Aguiar e Sérgio Rebelo.

Entre os convidados, encontra-se ainda o arquitecto e artista francês Didier Fiúza Faustino, com trabalho dividido entre Lisboa e Paris (de resto, recém-galardoado, em França, com o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras).

Em paralelo com as conferências dos convidados, o calendário da sétima Archi Summit inclui masterclasses; visitas guiadas a edifícios como a Casa da Música, o Terminal de Cruzeiros de Leixões ou o renovado Mercado do Bolhão; e uma exposição que dá a conhecer o podcast No País dos Arquitectos. Inclui ainda, já esta quarta-feira, o pré-lançamento do livro Siza. 90 Anos, edição conjunta da Editora 100 Folhas e do PÚBLICO: trata-se de uma nova biografia do arquitecto nascido em Matosinhos, cujo 90.º aniversário foi assinalado no passado dia 25 de Junho, também na Casa da Arquitectura. Sob a coordenação de António Choupina, o livro reúne textos de Carlos Campos Morais, Carlos Castanheira e Eduardo Souto de Moura, além de Kenneth Frampton, Francesco Dal Co e Brigitte Fleck, entre outros.

Criada no Porto, em 2015, com uma primeira edição no Silo Auto, a Archi Summit passou dois anos depois a realizar-se em Lisboa, onde cumpriu três edições. Após a interrupção motivada pela pandemia, regressou em 2022 ao Porto, tendo-se então realizado no desactivado Palácio Ford.

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