Das cinzas do Palácio Ford nascerá um novo quarteirão no Porto

O projecto tem assessoria da Ordem dos Arquitectos e será escolhido por via do primeiro concurso público na cidade envolvendo privados.

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O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda

Quantas faces poderá ter uma rua, um jardim ou um quarteirão? Ainda este ano será possível responder com mais precisão a esta pergunta aplicada a uma área específica que nascerá no Porto das cinzas de um complexo industrial do início do século XX. Abandonado há mais de três décadas, o Palácio Ford, escondido atrás de uma entrada da Rua do Heroísmo, vai dar lugar a um novo quarteirão aberto à cidade, composto por um hotel de 5 estrelas, habitação turística, habitação a rendas acessíveis, espaços de fruição pública e serviços.

A concepção desta futura área urbana situada numa das zonas mais deprimidas da cidade será idealizada por todos os arquitectos disponíveis para darem largas à sua criatividade. Esta quarta-feira, ao final da tarde, abre um concurso internacional no âmbito do arranque da 6ª edição do Archi Summit, que, após uma passagem por Lisboa, regressa ao Porto, onde nasceu. Uma das premissas do procedimento concursal é não repetir os mesmos erros cometidos noutras zonas da cidade.

Na fronteira entre o Bonfim e Campanhã, junto ao Centro Comercial Stop, na entrada do número 291 ainda está assinalado um pedaço da história do complexo industrial que se esconde no interior. Para a posteridade, sobrou uma placa que remonta aos anos 1930. Só assim se percebe que ali existiu o Palácio Ford. Do outro lado, desvenda-se um terreno de 32 mil metros quadrados em terra batida, onde, só lá no fundo, se erguem pavilhões que desde a década de 1920 serviram diferentes negócios, desde a metalurgia aos esmaltes. Desde há cerca de trinta anos estão quase todos abandonados – sobram alguns armazéns que ainda funcionam.

O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda
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O complexo industrial construído na década de 1920 encerrou há cerca de 30 anos. Hoje, sobram apenas uns armazéns ainda em funcionamento Adriano Miranda

O conjunto de pavilhões ficou mais conhecido pela sua ligação ao sector automóvel. Quem lá trabalhava nunca esteve virado de frente para rua. Mas, futuramente, quem usufruir do espaço vai ter essa oportunidade. Com assessoria da Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos, a IME - Imóveis Empreendimentos Hoteleiros, proprietária do espaço, está a abrir o primeiro concurso público no Porto, envolvendo privados, para a concepção do projecto. Aos arquitectos que demonstrarem interesse em participar no concurso internacional só serão dadas algumas linhas orientadoras.

Bruno Oliveira, da IME, definiu as prioridades do projecto que quer ver ali nascer: “Será tripartido em turismo, habitação e uma parte de serviços. Mas não queremos cortar as pernas à parte criativa”. Existirão 52 mil metros de área de construção para o novo quarteirão que será aberto para fazer ligação com a Rua do Barão de Nova Sintra, onde está o Parque das Águas, e com a Rua do Heroísmo. Para inspiração dos arquitectos poderá servir “o passado industrial” do complexo ao qual foi dada nova designação: “Oficina do Ferro”.

Não repetir erros do passado

Recorrer a um procedimento concursal é uma decisão que advém da vontade de poder ter acesso ao maior número de hipóteses. Serão várias as propostas para dar àquela zona uma nova face. Mas, no final, só uma será vencedora. Dispor de um leque de opções mais alargado servirá também para que não se repitam erros cometidos a nível urbanístico noutros pontos da cidade.

Parte da decisão passará pelo arquitecto João Paulo Rapagão, que trabalhou com a Ordem dos Arquitectos (OA) nos moldes do concurso e fará parte do júri. “Queremos recolher o máximo de propostas e transformar isto numa espécie de laboratório de ideias de arquitectura”, afirma. A opção por seguir a via concursal, afirma, “garante transparência e idoneidade”.

O arquitecto recorda o passado do edifício, de onde saiu um de três carros que ali foram construídos para as mãos de Manoel de Oliveira (1908-2015), quando o cineasta ainda vivia a sua vida de piloto de competição, na década de 1930. O objectivo, reforça, é continuar a fazer uma ligação com o passado. Será também por isso fundamental ligar o quarteirão com o Parque das Águas. Noutros tempos, recorda, os dois terrenos já estiveram ligados, quando faziam parte da Quinta das Oliveiras.

O vice-presidente da Secção Regional do Norte da OE, Bruno Baldaia, considera que este modelo deveria ter mais preponderância no privado. ”Temos lutado muito para que o recurso ao concurso seja cada vez mais generalizado”, afirma. Dessa forma, recorrer-se-ia menos vezes “à adjudicação directa”. Para garantir a transparência, as candidaturas, que decorrem até 14 de Outubro, serão anónimas. A proposta vencedora será premiada com 30 mil euros. Mais 20 mil euros serão distribuídos pelos restantes concorrentes que não forem excluídos.

No final do procedimento concursal, muita antes da execução do projecto, pretende ver concretizado um dos objectivos que definiu como prioritário: “Proporcionar exercícios a nível urbanístico, paisagístico e arquitectónicos que promovam a coesão da malha urbana”.

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