O futuro está nas nossas mãos

Com radicalismo e conflitos sem fim à vista, dificilmente conseguiremos prestigiar as escolas públicas e a educação para todos.

Ouça este artigo
00:00
03:19

Terminou o ano letivo e importa fazer um breve balanço do que de mais importante ocorreu nestes quase nove meses de trabalho nas escolas e em torno do mundo da educação.

Foi um ano atribulado e atípico, que nos traz algumas preocupações.

A primeira tem a ver com a aprendizagem dos alunos dos ensinos básico e secundário, já que no ensino superior o ano foi razoavelmente pacífico, o que se saúda como manifestação de maturidade do sistema e dos seus modos de governo.

A instabilidade vivida com greves e paragens sucessivas no funcionamento das escolas teve repercussões diretas nos processos de ensino e aprendizagem dos alunos, em particular daqueles que dispõem de menos recursos e para quem a escola é o elemento fundamental que vai moldar as suas vidas.

As desigualdades que existem na sociedade portuguesa constituem uma preocupação permanente.

Vemos com muita tristeza que esta instabilidade, que se segue à pandemia, só vem acentuar essas mesmas disparidades. Os grandes prejudicados deste ano letivo que termina deverão certamente ser os mesmos que já foram fortemente afetados pelos últimos dois anos, de que todos nos recordamos sem saudades.

A segunda preocupação relaciona-se com a saúde psicológica e mental de quantos estão envolvidos no trabalho das escolas, em particular os alunos e os professores, que sentem como ninguém os efeitos da instabilidade.

Será bom que se promova um trabalho de recolha de informação sobre os diferentes graus de prejuízo humano que cada um sofreu durante este longo período de turbulência.

Uma terceira preocupação prende-se com uma alteração de regras de jogo na concertação social pelo surgimento de movimentos quase inorgânicos. O movimento sindical tem hoje dentro de si um problema para o qual se não vê uma solução fácil, mas que exige uma profunda reflexão para que a cidadania representativa e a participação não sejam afetadas.

É essencial, no entanto, assinalar como aspeto muito positivo o trabalho fantástico que muitas escolas foram capazes de desenvolver apesar de todas as contrariedades que lhes foram colocadas ao longo do ano.

Temos de reconhecer que o país é heterogéneo e que ao lado de escolas com muitas dificuldades há estabelecimentos que pouco ou nada foram afetados pela incerteza.

Infelizmente as que têm e tiveram maiores problemas são seguramente aquelas que são frequentadas por quem mais delas necessita para se valorizar, para aprender e para poder encarar a vida com maior confiança e determinação.

O apelo que fazemos vai no sentido de se refletir seriamente sobre o que ocorreu e porque não foi possível encontrar soluções para muitos problemas que foram identificados.

O recorrente problema da "contagem do tempo de serviço" tem de ser visto numa dupla perspetiva.

Por um lado a reivindicação dos sindicatos e por outro a posição assumida pelo Governo.

Se queremos que haja respeito mútuo, temos de reconhecer que os professores foram afetados em conjunto com todos os outros funcionários, que viram igualmente interrompidas as suas carreiras no âmbito da função pública.

O interesse público tem de considerar a justiça, a equidade, a redução da dívida pública e a dignificação da educação e do serviço público de qualidade.

Apelamos assim ao equilíbrio, ao bom senso e ao realismo nos processos negociais, seguros de que não podemos pôr em causa o prestígio e a credibilidade das escolas públicas.

Para defender a escola pública, temos de reconhecer que o ano que passou teve consequências negativas que têm de ser minoradas.

Com radicalismo e conflitos sem fim à vista, dificilmente conseguiremos prestigiar as escolas públicas e a educação para todos.

O futuro está nas mãos de todos: escolas, famílias, sociedade e Estado.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários