Vendas de casas derrapam mais de 20% no arranque deste ano

Os preços das casas aumentaram 8,7% no primeiro trimestre deste ano, uma taxa de variação expressiva, mas que representa uma desaceleração em relação ao ano passado, de acordo com os dados do INE.

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Preço médio de uma casa em Portugal é de 198 mil euros Maria Abranches
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Numa altura em que os preços das casas continuam a aumentar de forma expressiva, ainda que o ritmo de subidas esteja a desacelerar, o mercado volta a contrair-se. No arranque deste ano, e pelo terceiro trimestre consecutivo, o número de vendas de casas caiu mais de 20% face a igual período do ano passado, levando o montante total transaccionado a recuar mais de 15%. Esta evolução é explicada, sobretudo, pela retracção do mercado nacional, enquanto os compradores estrangeiros têm um peso cada vez maior no sector imobiliário português.

Os dados foram publicados, esta quinta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que dá conta de que, no primeiro trimestre de 2023, o índice de preços da habitação registou um aumento de 8,7% face a igual período do ano passado. Apesar de expressiva, esta taxa de variação representa uma desaceleração em relação ao aumento de 11,3% que tinha sido registado no trimestre anterior, bem como face à subida de 12,9% que se verificava no primeiro trimestre de 2022. Ao mesmo tempo, esta é a taxa de crescimento homólogo mais baixa desde o segundo trimestre de 2021.

Este movimento é registado num período em que foram transaccionadas 34.493 casas em Portugal, número que representa uma queda de 20,8% face ao ano passado. É preciso recuar até 2018 para encontrar um primeiro trimestre com um número tão baixo de vendas de casas: nessa altura, foram transaccionadas 34.449 habitações.

Estas vendas, indica ainda o INE, foram concretizadas por um montante total de 6857 milhões de euros, valor que corresponde a uma quebra de 15% em relação ao ano passado. Ainda assim, e graças ao aumento ininterrupto dos preços que se tem sido verificado, este valor continua a ser superior àquele que se registava no primeiro trimestre de 2021.

Estrangeiros pagam mais 87,5%

A contribuir para este movimento está o mercado interno, que regista quebras expressivas, enquanto o volume transaccionado por compradores estrangeiros continua a aumentar.

No primeiro trimestre deste ano, os compradores com domicílio fiscal em território nacional foram responsáveis por 32 mil transacções, o equivalente a 92,8% do total de transacções, por um montante total de 5983 milhões de euros, o que corresponde a 87,3% do montante global. No primeiro trimestre do ano passado, os nacionais respondiam por 94,1% do número total de transacções e 89,6% do montante total transaccionado, percentagens que, em 2021, ainda subiam para 95,8% e 92,3%, respectivamente.

Já os compradores com domicílio fiscal em território estrangeiro foram responsáveis por 2492 das transacções de casas. Este número representa uma quebra de 2,5% em relação ao ano passado, mas, tendo em conta que a queda do mercado interno foi muito mais acentuada, os estrangeiros reforçaram o peso no mercado nacional e respondem agora por 7,2% do total de transacções, acima da proporção de 5,9% que representavam em 2022 e de 4,2% em 2021.

Ao mesmo tempo, os estrangeiros desembolsaram cerca de 873,8 milhões de euros na compra de casas em Portugal durante o primeiro trimestre deste ano, um aumento de 3,5% face ao ano passado. Assim, responderam por cerca de 12,7% do volume total transaccionado, aumentando o seu peso também neste indicador (respondiam por 10% em 2022 e 7,7% em 2021).

Feitas as contas, tendo em conta o montante total transaccionado e o número de casas vendidas, o preço médio de uma habitação em Portugal aumentou para 198,8 mil euros no primeiro trimestre, mais 7% do que em igual período do ano passado.

Esse valor médio cai para 186,9 mil euros se forem considerados apenas os compradores com domicílio fiscal em Portugal e aumenta para 350,6 mil euros considerando só aqueles que têm domicílio fiscal fora do país. Assim, compradores estrangeiros pagaram, em média, mais 87,5% do que os nacionais para comprar uma casa.

Lisboa e Algarve em queda

A análise por regiões revela, ainda, que a contracção do mercado foi comum a todo o país, mas com particular expressão nas duas regiões mais caras: Área Metropolitana de Lisboa e Algarve.

No primeiro caso, onde o preço médio de uma casa já é de 285 mil euros, venderam-se 9761 casas, por um total de 2782 milhões de euros, números que correspondem a quedas de 27,5% e 18%, respectivamente. Já no Algarve, onde as habitações têm um custo médio de 307,5 mil euros, foram vendidas 3080 casas, uma queda de 25%, para quase 947 milhões de euros, menos 15%.

Por outro lado, nas regiões onde os preços médios são mais baixos, também se verificou um recuo do mercado, mas menos acentuado. No Alentejo, onde o valor médio das casas de 114 mil euros é o mais baixo do país, o número de vendas caiu 17% e o montante transaccionado recuou 13%. Já a Madeira foi a região onde o mercado apresentou maior resistência à tendência nacional, com o número de vendas a diminuir em 12% e o montante total transaccionado a recuar 4,5%.

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