Avaliação do ensino médico em Portugal

Dois factos levaram-me a supor o enviesamento ideológico da A3ES: a provável entrada do “simplex” nos hábitos da agência e a “ginástica” na aprovação do projecto da Universidade Fernando Pessoa.

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Para construir um raciocínio, em artigo de opinião no PÚBLICO, o Professor João Guerreiro elegeu-me como maestro. Um primeiro andamento longo de convergência de opinião, um Andante non troppo, e seguiu-se um Pizzicato mais curto, a “beliscadela” que o Professor Guerreiro tinha como fito, visando a minha apreciação em relação à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, A3ES. Sugere ser a sua bandeira a ideologia da qualidade de ensino, “pinçando a corda”, quando admite haver em mim uma “sugestão sub-reptícia para a agência aliviar os seus procedimentos de avaliação”.

Puro engano, Professor Guerreiro, a sua bandeira será também a minha, se o rigor e a meritocracia dos projectos submetidos à A3ES forem respeitados. Excluem-se, assim, os divertículos de linguagem, aceita-se a verdade como único padrão para as deliberações. Dois factos levaram-me a supor o enviesamento ideológico que sugeri: a provável entrada do “simplex” nos hábitos da A3ES e a “ginástica” feita na agência para a aprovação do projecto da Universidade Fernando Pessoa.

Se o objectivo da A3ES é “promover a divulgação fundamentada à sociedade sobre a qualidade de desempenho das instituições de ensino superior”, bem como “o desempenho das funções inerentes à inserção de Portugal no sistema europeu de garantia da qualidade do ensino superior”, não se compreende o texto apressado da administração do Centro Hospitalar de Gaia e Espinho, uma semana após a aprovação do projecto da Universidade Fernando Pessoa, negando qualquer acordo desse centro hospitalar com essa universidade.

Assim, liquidou-se a principal arma da Universidade Fernando Pessoa quando submeteu o projecto, tendo em conta que o referido centro hospitalar era a principal garantia de qualidade para o estágio clínico dos putativos alunos.

Quanto ao provável apoio do “simplex” nos hábitos da A3ES, não se compreende como é possível tomar decisões sérias sobre um projecto submetido, tendo em conta a ausência da Comissão de Avaliação Externa nas instalações do proponente, caso concreto da CESPU, que viu o seu projecto reprovado pouco tempo antes da aprovação do projecto da Universidade Fernando Pessoa.

O ensino pré-graduado deve adaptar-se às necessidades dos estudantes, centrar nos estudantes a eficácia, a motivação e a exposição precoce à Medicina Clínica, Geral e Comunitária. Devem os alunos ter capacidade de empatia e comunicação com os doentes, algo diferente do ensino clássico antigo que focalizava a aprendizagem nas salas de aula e no ensino teórico.

Contribuiu ainda, para a hipótese de “simplex”, a atitude demonstrada pela agência de acreditação na negação de diálogo, e de empatia, mostrando inegável sobranceria no julgamento do projecto da CESPU.

Assim, compreendendo o descaso nos dois projectos de ensino privado, na degenerada polémica que algumas desatenções provocaram, na imagem asséptica que a A3ES poderá ter provocado, estarei de acordo com o Professor João Guerreiro: é fundamental que a ideologia da A3ES seja não só a qualidade, também o rigor e a meritocracia.

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