A mente como medicamento?

Múltiplos estudos científicos têm demonstrado o efeito placebo em diversos contextos, desde o alívio da dor até a melhoria dos sintomas de doenças como a doença de Parkinson, depressão ou ansiedade.

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Este mês, o tema foi escolhido pelo meu filho a quem pedi uma sugestão de algo que gostasse de aprofundar, em relação ao funcionamento do cérebro. Ele disse-me logo que tinha imensa curiosidade acerca do efeito placebo.

O efeito placebo é um fenómeno fascinante que ocorre quando uma pessoa sente melhorias significativas de saúde ou bem-estar, devido à convicção de que recebeu um tratamento eficaz, embora o tratamento em si não tenha nenhuma propriedade terapêutica específica.

No século XVIII, o termo placebo entrou no campo da terapêutica quando foi usado para descrever um médico. Em 1763, no livro Bath memoirs: or, Observations in Three and Forty Years Practice do clínico Robert Pierce, este descreve um “Dr. Placebo” elegante, com impressionantes cabelos ondulados e longos, e que preparava cuidadosamente as gotas medicinais ao lado do leito da paciente. Quando o Dr. Pierce pergunta à paciente como ela está, esta responde: "Pura e bem, meu velho amigo, o doutor tem-me tratado com algumas das suas boas gotas." Foi a primeira sugestão que as melhorias se deviam mais à forma agradável do médico de lidar com os pacientes, do que ao efeito real do remédio contido nas gotas.

É um exemplo poderoso do papel da mente e das expectativas e do seu impacto positivo ou negativo na resposta fisiológica. Historicamente, o termo "placebo" deriva do latim placeo, placere, que significa agradar. No contexto médico, ele foi inicialmente usado para descrever a administração de uma substância inativa, como um comprimido de açúcar, a um paciente, com o objetivo de satisfazer a sua procura por um medicamento do qual não precisava.

Múltiplos estudos científicos têm demonstrado o efeito placebo em diversos contextos, desde o alívio da dor até a melhoria dos sintomas de doenças como a doença de Parkinson, depressão ou ansiedade. Em ensaios clínicos, um grupo de pacientes recebe o tratamento real, enquanto outro grupo recebe um placebo. Em muitos casos, os pacientes que receberam o placebo relatam melhorias significativas na sua condição. Isso destaca o poder das expectativas na experiência subjetiva de bem-estar.

Mas atenção, o efeito placebo não deve ser confundido com cura milagrosa ou cura exclusivamente baseada na mente. Nem pode substituir tratamentos médicos adequados e comprovadamente eficazes. No entanto, é fundamental o seu estudo para entendermos a complexidade da relação mente-corpo e a importância das informações e expectativas na resposta do organismo.

Os placebos não baixam os níveis de colesterol nem reduzem um tumor, mas podem ser eficazes em sintomas modulados pelo cérebro, como na perceção da dor, por exemplo. Ou seja, podem fazer-nos sentir melhor, mas não tratam. Tem sido utilizado o efeito placebo de forma eficaz na gestão de dor, em casos de insónia relacionados com stress ou no controlo de alguns efeitos secundários da quimioterapia, como fadiga e náuseas.

Quando acreditamos que um tratamento é eficaz, sabemos que há libertação de dopamina e endorfinas que ajudam a aliviar a dor, reduzir a inflamação e melhorar o humor. A compreensão do efeito placebo tem implicações significativas no campo da investigação médica. Para desenvolver tratamentos eficazes, é essencial separar os efeitos reais de um medicamento dos efeitos não-farmacológicos, ou seja, os efeitos placebo.

Estudos controlados nos quais se incluem grupos de placebo ajudam a determinar a eficácia real de uma intervenção e garantir que os benefícios observados são atribuíveis ao tratamento específico e não apenas ao efeito placebo. Embora o seu mecanismo exato ainda não esteja completamente esclarecido, a relação entre a mente e a resposta fisiológica é muito clara. Há em curso vários estudos de atividade cerebral em pacientes tratados com placebo para se perceber qual o padrão de atividade nesta situação.

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Reconhecer e aproveitar o potencial do efeito placebo na gestão do bem-estar das pessoas é de enorme importância e pode ser utilizado de forma complementar ao tratamento farmacológico. Isso mesmo defende a cardiologista Teresa Mota no seu livro O admirável placebo, que podem ler enquanto ouvem, por sugestão do meu filho, a música ‘Sugar Pills’ dos I don't know how but they found me.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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