Porque é que o meu cão come relva? E quando é que não é seguro?

Ao contrário do que se pensa, os cães não comem relva quando estão indispostos. Alguns fazem-nos porque gostam do sabor, outros porque estão aborrecidos.

Foto
Porque é que o meu cão come relva? E quando é que isso não é seguro para ele? Mitchell Orr/Unsplash
Ouça este artigo
--:--
--:--

Já alguma vez te perguntaste porque é que o teu cão está a comer a tua relva perfeitamente aparada ou a mordiscar a que está no parque canino? Comer relva é um comportamento comum nos cães. Na verdade, alguns inquéritos mostram que até 80% dos tutores notam que o seu animal petisca relva com regularidade.

Contudo, comer relva não é um comportamento novo ou apenas executado por novas raças de cães. Estudos que tiveram lugar no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, mostram que a matéria vegetal (principalmente relva) é encontrada em 74% das fezes dos lobos, o que sugere que este comportamento é, possivelmente, herdado desde o início dos tempos caninos.

Porque é que o meu cão come relva?

Muitas pessoas pensam que os cães comem relva quando têm dores de estômago, porque acreditam que a planta lhes provoca vómitos. No entanto, é provável que esta não seja a razão. Um estudo realizado com 12 cães que comiam relva diariamente concluiu que existiram poucos episódios de vómito e que os que ocorreram se registaram depois de o animal ter comido uma refeição.

A par disto, se um cão tiver um ligeiro distúrbio gastrointestinal causado por algo que tenha comido é, de facto, menos provável que prefira relva a ração normal. Da mesma forma, outras teorias sugerem que os cães comem relva porque querem um laxante ou porque lhes fornece fibras. (Apanha essa fibra!).

Mas tal como os vómitos acima mencionados, há poucas ou nenhumas provas científicas para a maioria destas teorias. Por exemplo, no estudo dos 12 cães, todos os animais estavam desparasitados e não tinham problemas digestivos anteriores. No entanto, todos comeram relva alegremente (709 vezes).

Assim sendo, a principal conclusão do estudo revelou que quando o cão ainda não tinha comido a refeição diária, era mais provável que comesse relva. Em suma, quanto mais fome tinha, maior era a probabilidade de comer plantas.

A resposta sobre a razão que leva o teu cão a comer relva pode ser simplesmente porque gosta. Pode estar aborrecido e mastigar relva é uma forma de estar entretido. Também é possível que o teu cão apenas goste de comer relva. Arrancá-la do chão pode ser satisfatório, a textura e o sabor oferecem algo diferente do que ele costuma comer. Podes até notar que a prefere em certas estações, e talvez a relva fresca da Primavera seja a iguaria preferida dele.

Há alguma razão para não deixar o meu cão comer relva?

Bem, sim, há várias. Em primeiro lugar, é provável que não queiras que o teu cão coma o relvado impecavelmente arranjado do teu vizinho. Mas mais importante que isto é o facto de a relva ser, por vezes, tratada com herbicidas, como acontece com a dos campos desportivos ou a dos parques locais, que pode ter sido pulverizada.

A propósito disto, há câmaras municipais que utilizam um corante não perigoso para mostrar os sítios onde a relva foi pulverizada com herbicida, o que é bastante útil.

Os produtos químicos para relva são frequentemente detectados nos relvados até 48 horas depois de aplicados e na urina dos cães que têm acesso aos locais tratados desta forma. A investigação sugeriu ainda que pode haver uma ligação entre o cancro da bexiga em cães e a exposição a herbicidas.

Foto
Newpowa/Unsplash

Na verdade, estes animais podem até agir como sentinelas. Os mesmos elementos químicos aparecem na urina de cães e de pessoas que partilham o mesmo ambiente. Se usares herbicidas na tua relva, mantém o teu cão afastado, assim como os brinquedos dele, a comida e os bebedouros antes de qualquer aplicação.

Além disto, certifica-te que o pesticida secou completamente antes de deixares o teu animal ir para a relva e verifica na embalagem o tempo de secagem indicado. É o caso dos pesticidas granulados ou fertilizantes que se infiltram no solo, uma vez que pode ser preciso esperar 24 horas ou mais. Se quiseres reduzir ainda mais o risco, arrancar ervas à mão pode ser a melhor opção.

Além da relva, há muitas folhas, flores e bagas de plantas comuns que podem ser tóxicas para o teu cão, como é o caso do oleandro e do lírio. Os orégãos e as folhas de louro também podem provocar vómitos e diarreia nestes animais.

Uma das melhores coisas que podes fazer pelo teu cão é levá-lo a passear. E se ele comer alguma relva pelo caminho, desde que não tenha sido pulverizada com herbicidas, não há problema. Também não precisas de te preocupar se ele vomitar ocasionalmente. Contudo, se os vómitos ou a diarreia forem mais graves, leva-o ao veterinário.


Exclusivo PÚBLICO/The Conversation

Susan Hazel é professora auxiliar na Escola de Ciência Animal e Veterinária, na Universidade de Adelaide, na Austrália
Joshua Zoanetti é candidato doutorado em Biociências Veterinárias na Universidade de Adelaide

Sugerir correcção
Ler 1 comentários