Trabalhistas espreitam oportunidade eleitoral depois de renúncia de Boris Johnson
Mais dois deputados conservadores seguem o caminho do ex-primeiro-ministro, abrindo caminho para eleições parciais em três círculos cobiçados pelo Labour.
Um “cobarde”. Uma “vergonha”. O Partido Trabalhista não perdeu tempo a criticar a renúncia de Boris Johnson ao seu lugar de deputado no Parlamento britânico na sexta-feira à noite, uma decisão que lançou também ondas de choque no Partido Conservador.
“Acho que Boris Johnson mostrou-se mais uma vez como um cobarde”, disse este sábado a vice-líder do Labour, Angela Rayner, em declarações à Sky News. “Ele é um homem que nunca assume o que fez. E uma vergonha absoluta”, acrescentou Rayner, para quem o ex-primeiro-ministro conservador “saltou” do Parlamento para evitar ir a votos no círculo de Uxbridge e South Ruislip.
Johnson renunciou na noite de sexta-feira em protesto contra uma investigação parlamentar relacionada com a sua conduta como primeiro-ministro durante o auge da pandemia de covid-19, nomeadamente as festas realizadas em Downing Street quando todo o Reino Unido se encontrava em confinamento.
Na declaração em que apresentou a sua renúncia, Johnson criticou o inquérito destinado a esclarecer se mentiu perante a Câmara dos Comuns, dizendo que não existia “a mais pequena prova” contra ele.
“Estou a ser forçado a sair por um pequeno grupo de pessoas, sem quaisquer provas em apoio das suas alegações, e sem a aprovação sequer dos membros do Partido Conservador, quanto mais do eleitorado em geral”, afirmou Boris Johnson.
O ex-primeiro-ministro não foi o único parlamentar a abandonar a bancada tory. Ainda na sexta-feira, a sua aliada Nadine Dorries apresentou a sua renúncia, seguida, já este sábado, por Nigel Adams, que fez parte do Governo de Boris Johnson.
A saída dos três deputados conservadores abre caminho a uma eleição parcial nos círculos que representavam e, para o Partido Trabalhista, a oportunidade de roubar os assentos parlamentares aos tories.
“Vamos lutar para vencer nesses distritos”, disse este sábado a vice-líder Angela Rayner, desta vez à BBC.
O fim de Boris?
Henry Hill, vice-editor do site Conservative Home, considera que a saída de Johnson significa que ele deixou de ser o “líder no exílio” no Parlamento, sempre a ameaçar o controlo de Sunak sobre o partido.
“Isto significa que qualquer problema causado pelos seus aliados tem muito menos força”, disse Hill à BBC.
Uma sondagem do YouGov publicada este sábado mostra que 65% dos britânicos acham que Johnson enganou deliberadamente o Parlamento, em comparação com 17% que consideram o contrário.
A decisão de Johnson de renunciar ao seu lugar de deputado pode significar o fim da sua carreira política de 22 anos, iniciada como membro do Parlamento, a que se seguiu o cargo de mayor de Londres. Defensor do “Brexit”, chegou a chefe de Governo em 2019, após uma vitória esmagadora nas eleições legislativas.
No final da sua declaração, Boris Johnson deu a entender que a morte da sua carreira política pode muito bem ser exagerada: “É muito triste deixar o Parlamento - pelo menos por enquanto.”