Festival Palheta Bendita, da celebração da gaita de fole às músicas do mundo

Santo Tirso volta a receber, na sua 17.ª edição, o Festival Palheta Bendita, reunindo construtores de instrumentos, músicos e público. De 9 a 11 de Junho, no Parque de Geão.

Foto
Encontros musicais no Palheta Bendita DR
Ouça este artigo
--:--
--:--

Já vai na 17.ª edição e promete continuar. É o Festival Palheta Bendita, que volta este mês de Junho a Santo Tirso, agora no Parque do Geão, naquela que será a sua primeira edição ao ar livre. Criado em 2005, foi evoluindo de um encontro em torno de um único instrumento para oficinas de construtores de vários instrumentos e músicos em concerto, atraindo o público.

A decorrer desde as 18h de sexta-feira, dia 9, até ao final da tarde de domingo, 11 de Junho, o festival inclui duas palestras, a habitual feira de construtores de instrumentos musicais, cinco concertos, animação de rua, circo e uma baile improvisado. A Feira de Construtores abre à mesma hora do festival, continuando no sábado (das 11h à meia-noite) e no domingo (11h às 12h30). A animação de rua, com a Escola de Música Tradicional da Ponte Velha, tem três sessões anunciadas: dia 9 às 19h, dia 10 às 17h15 e dia 11 às 15h. As palestras decorrerão na Biblioteca Nacional, às 11h, dia 10 com Xerardo Santomé e “A Treboada Galega”, e dia 11 com Jorge Castro Ribeiro (Universidade de Aveiro) e “O processo de inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial das ‘As práticas do bombo em Portugal’”.

Os concertos começam sexta-feira com João Martins & Pedro Viana (21h30) e Orquestra Bamba Social (23h), ambos no Palco dos Gansos, que no sábado receberá Saeid Shanbehzadeh (21h30) e os Galandum Galundaina (23h). Antes deles, actuarão as Crua, mas no Palco dos Patos (sábado, 18h), o mesmo onde no domingo cantam os Muiñeiros do Sarela (18h), uma hora depois de haver circo para todas as idades com o espectáculo Circoreto, pela Companhia Nuvem Voadora (17h), mas no Parque do Geão. Os fins de noite de sexta e sábado também têm programa (23h59) anunciado: na primeira noite, haverá um DJ set de Urbano Ferreira no Carpe Diem Bar e na segunda um baile improvisado na Associação Amigos do Sanguinhedo.

Foto
Crua DR

Napoleão Ribeiro, da organização do Palheta Bendita, recorda ao PÚBLICO como começou este festival, há 18 anos: “Somos uma associação que na altura tinha criado uma escola para aprendizagem da gaita de fole. E o festival nasceu a partir das oficinas de afinação. As primeiras edições eram totalmente dedicadas à gaita de fole, mas depois achámos que não fazia sentido manter essa exclusividade e foi-se ampliando a outros instrumentos populares. E já estamos a caminhar mais para as músicas do mundo.” A ligação à Galiza vem desde o início. “Este tipo de gaita de fole é popular, é tradicional, de Portugal e da Galiza. Só que enquanto a Galiza fez dela o seu instrumento nacional, nós fizemos a guitarra portuguesa. Isso aumentou o número de tocadores e construtores e a partir dos anos 20, anos 30, começam a chegar a Portugal, vindos da Galiza, instrumentos melhores e mais baratos, porque houve um desenvolvimento técnico. Mas em Lisboa, no século XIX, ainda havia um bom construtor de gaitas de fole, que tinha oficina e fazia outros instrumentos, como clarinetes e oboés. Era a Casa Silva, na Rua do Loreto…”

Agora há construtores de vários tipos de instrumentos (cordofones, percussões, etc.) e as oficinas continuam a ser um ponto de encontro fulcral nesta iniciativa. “São sempre locais de socialização entre músicos e construtores, que é a principal relação aqui criada”, explica Napoleão Ribeiro.

Quanto aos concertos, este responsável pelo festival enumera-os e justifica-os assim: “Na sexta, temos a Orquestra Bamba Social, um colectivo que já mistura hip-hop, jazz e outras formas mais contemporâneas com o samba brasileiro, mostrando que a tradição nunca é estanque e há sempre coisas novas; e temos o Pedro Viana e o João Martins, que tocam braguesa, sanfona e adufe, com a Diana Ferreira, mostrando uma abordagem já mais contemporânea da música. No sábado temos as Crua, um grupo de vozes femininas e percussões que trabalham muito o folclore português e galego também com uma abordagem contemporânea; os Galandum Galundaina, embaixadores por excelência da cultura mirandesa; e uma preciosidade da Pérsia, Saeid Shanbehzadeh, um guru da música do Irão que também toca gaita de fole e serve para mostrar a diversidade deste instrumento, que é muito mais mediterrânico do que atlântico.”

Foto
Galandum Galundaina Jorge Almeida

O domingo, dia de encerramento, é “mais direccionado para as famílias”: “Tem um espectáculo do novo circo, para que as pessoas possam desfrutar com as crianças do Parque do Geão, que é onde decorre o festival; e temos, como não podia deixar de ser, música da Galiza, com cânticos de taberna pelos Muiñeiros do Sarela, que fazem até um festival muito bonito em Santiago de Compostela dedicado às cantigas de taberna, como aqui havia o fado vadio, o baldão no Alentejo ou os cantares ao desafio. É pegar, nesse perspectiva, na taberna como espaço de comensalidade, mas esta nunca vem sozinha, traz essa vertente social e cultural, que é muito importante.”

Foto
Muiñeiros do Sarela DR

O apoio da Câmara de Santo Tirso, que mais do que apoio é também co-organização, vem “quase desde o início”, diz Napoleão Ribeiro, e “foi sendo gradual conforme o festival foi crescendo”. A caminho de duas décadas de existência, o balanço feito é muito satisfatório, acrescenta este responsável pelo festival: “Faço um balanço positivo. Até porque as oficinas, sendo a génese do festival, tem ajudado ao logo destes anos a divulgar muitos instrumentos e muitos músicos mais velhos com um repertório que aprenderam dos pais e dos avós, por transmissão oral. Falando de património imaterial musical, julgo que, nesse sentido, temos cumprido essa pequena missão de ajudar a divulgar determinado instrumento, pessoa ou repertório. Desde as violas às gaitas de fole, à concertina, aos cantares e até às danças.”

Sugerir correcção
Comentar