Ministro chinês diz que conflito EUA-China seria “um desastre insuportável”

No entanto, Li Shangfu e Lloyd Austin apenas apertaram mãos, não tendo tido conversações substanciais na reunião de Shangri-La, em Singapura. E atiraram farpas um ao outro.

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Li Shangfu fez o seu primeiro grande discurso internacional MARK CHEONG/Reuters
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O ministro da Defesa da China, Li Shangfu, disse este domingo, na cimeira de segurança do Shangri-La, em Singapura, que um conflito com os Estados Unidos seria “um desastre insuportável”, quando um incidente em águas internacionais no estreito de Taiwan desatou queixas norte-americanas.

Li Shangfu, que foi nomeado em Março, fez o seu primeiro discurso internacional, como sublinha a agência Reuters, nesta reunião do Diálogo de Shangri-La, considerado um dos principais encontros da região sobre segurança e defesa, organizado pelo International Institute for Strategic Studies (IISS) no Hotel Shangri-La, em Singapura.

“A China e os Estados Unidos têm sistemas diferentes e são diferentes de muitas outras maneiras”, afirmou. “Mas isto não deve excluir que os dois lados procurem interesses comuns para desenvolver as relações bilaterais e aprofundar a cooperação”, declarou o ministro chinês. “É inegável que um conflito grave ou confronto entre a China e os Estados Unidos será um desastre insuportável para o mundo.”

Uma série de questões, desde Taiwan às restrições dos EUA a semicondutores da China, passando pelo episódio dos balões espiões chineses nos EUA, têm levado a um aumento de tensão entre as duas potências.

Na véspera, o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, tinha criticado Pequim por se recusar a levar a cabo conversações militares. O diálogo, para o americano, “não é uma recompensa, mas sim uma necessidade”.

Li acusou ainda “alguns países” de intensificar uma corrida às armas e interferir em questões internas de outros países. “Está a surgir de novo uma mentalidade de Guerra Fria, o que aumenta muito os riscos de segurança”, declarou, acrescentando que “o respeito mútuo deve prevalecer sobre o bullying e a hegemonia”.

Na cimeira vários países da região apelaram a um diálogo sino-americano. O ministro da Defesa de Singapura, Ng Eng Hen, apelou aos dois países para manterem abertos canais de comunicação formais e informais, dando ainda conta da “extrema preocupação” dos países da região para o caso de serem obrigados a escolher um dos lados, no caso de piorarem as relações, segundo o South China Morning Post.

Se não houver canais de comunicação estabelecidos, acrescentou, uma crise ou incidente já será “demasiado tarde” para os abrir.

Apesar de se referir a afirmações dos EUA e China de que não querem que os países da ASEAN [que junta dez países do Sudeste asiático] escolham um lado, “os membros da ASEAN com uma recordação vívida de grandes rivalidades no passado estão extremamente preocupados com a possibilidade de que a deterioração das relações entre estes dois poderes force inevitavelmente os nossos Estados a ter de fazer escolhas difíceis”.

Mas se na sexta-feira houve um aperto de mãos entre Li e Austin, os dois não tiverem nenhum encontro.

Washington quer, diz a Reuters, um encontro para discutir questões militares, mas Pequim recusa enquanto o ministro continuar na lista de pessoas sujeitas a sanções por negociar armas com a Rússia (onde está desde 2018).

Entretanto, EUA e Canadá, por um lado, e China, por outro, trocaram farpas por causa de um incidente no estreito de Taiwan. O Exército chinês criticou os EUA e Canadá por “provocarem risco deliberadamente”, enquanto os EUA e o Canadá sublinharam que estavam a navegar em águas internacionais e que o navio chinês efectuou manobras “que não eram seguras”.

O especialista em China do German Marshall Fund Noah Barkin comentou no Twitter que Li “disse praticamente que as águas internacionais [do estreito] eram águas chinesas” e classificou o discurso de Li como sendo “de desafio”.

Já Chong Ja Ian, especialista em ciência política da Universidade de Singapura, achou que a abordagem e o tom pareceram mais brandos do que em discursos anteriores, mas “o conteúdo foi o mesmo”, declarou. “Foi um exemplo da distância entre os EUA e a RPC [República Popular da China], o que também sugere que qualquer esperança de uma resolução é ingénua. A concorrência entre os EUA e a RPC veio para ficar", cita a Reuters.

Também presente na reunião do Shangri-La esteve a ministra da Defesa, Helena Carreiras. A governante disse à agência Lusa que Portugal quer reforçar a cooperação no sector da defesa na região do Indo-Pacífico, incluindo nas áreas da governança marítima e das novas tecnologias, aprofundando laços já consolidados com Timor-Leste.

Queremos compreender as perspectivas destes outros países, aprofundar relações e calendarizar encontros para vir a desenvolver mais relações na área da defesa com estes países, declarou Helena Carreiras.

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