Em Oliveira do Bairro há uma orquestra que junta um “mundo de gentes”

Projecto visa promover a integração dos imigrantes radicados neste município da região de Aveiro. Através da música gera-se uma verdadeira interculturalidade.

MUSICA COM MIGRANTES EM OLIVEIRA DO BAIRRO
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Não é preciso ter competências musicais para integrar a Cértima Orquestra. E todos são bem-vindos. De todo o lado ADRIANO MIRANDA / PUBLICO
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Não é preciso ter competências musicais para integrar a Cértima Orquestra. E todos são bem-vindos. De todo o lado ADRIANO MIRANDA / PUBLICO
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Magdalena Vargas foi uma das primeiras a chegar à sala de ensaios. Há dois meses que trocou “a falta de segurança” do seu país de origem, a Argentina, pela pacatez de Oliveira do Bairro, na região de Aveiro. Está a gostar de estar por ali, ainda que a entristeça o facto de, ao contrário do marido, ainda não ter conseguido arranjar emprego. “Na Argentina, era enfermeira, mas aqui estou disponível para tratar de idosos, cozinhar ou limpar”, anuncia, antes de contar que a falta de ocupação a estava a deixar triste. Foi por essa razão que decidiu aceitar, de imediato, o convite que a autarquia e o Conservatório Artes e Comunicação – Filarmónica União de Oliveira do Bairro estavam a lançar à população imigrante do município: fazer parte da Cértima Orquestra. Um projecto comunitário de criação artística que visa juntar pessoas originárias de vários países, promovendo a sua integração social.

Naquele final de tarde, a sala estava bem composta, mas ainda longe do número total de “artistas” que já responderam positivamente ao desafio. “Temos 18 imigrantes e mais 14 pessoas da comunidade local”, contabilizava Miguel Estima, presidente da direcção do conservatório. São Tomé e Príncipe, Argentina, Peru, Venezuela, Brasil e Ucrânia são os países de origem dos novos elementos da orquestra. “Já tínhamos tido este projecto no ano passado, mas só com a comunidade local. Dado o sucesso, fomos desafiados pela câmara a assumir este trabalho de proximidade com a população migrante”, explicou Miguel Estima.

No fundo, nesta orquestra promove-se a interculturalidade através das artes. “Ao mesmo tempo que os integramos na nossa cultura, também vamos conhecendo a deles”, acrescentou. Exemplo disso são as músicas e letras que estão a ser trabalhadas nos ensaios semanais — decorrem sempre à quinta-feira, das 19h às 20h. “São todas criadas com o contributo deles”, notava Luís Carvalho, formador da orquestra, exemplificando com a letra que estava escrita no quadro: “Sinto alegria dançando o samba. Sou carioca todo o dia.”

Contrariamente ao que se possa pensar, não é preciso ter competências musicais para integrar a Cértima Orquestra. “Quem não sabe tocar pode cantar, tocar instrumentos não-convencionais e fazer ritmos corporais. E a ideia é irmos percebendo quais são as competências de cada um”, revelou o formador, minutos antes de dar início a mais um ensaio. Naquele dia, contava com um estreante. Kirill Dubrovskii, de 15 anos, estava a contactar com o grupo pela primeira vez. Veio da Ucrânia para Oliveira do Bairro, com a mãe, para fugir à guerra, e naquela quinta-feira não sabia muito bem o que o esperava. “A minha mãe já veio a um ensaio e está a gostar, por isso quis voltar”, contava Kirill, antes de se juntar à roda de sons e ritmos.

Acolhimento e integração de quem vem de fora

A Cértima Orquestra — que tem previstas várias apresentações públicas — insere-se num “trabalho mais alargado” que a Câmara Municipal de Oliveira do Bairro está a fazer ao nível da migração. “Desde 2018 que verificámos que, para o desenvolvimento económico do nosso concelho, precisávamos de captar população”, enquadrou Lília Ana Águas, vereadora responsável pela área das migrações. Consciente de que a “população migrante é importante para a sustentabilidade territorial e fundamentalmente para a económica”, a edilidade começou a “adoptar políticas públicas” para atrair gente de fora.

Neste momento, são já “cerca de 1300 migrantes”, para uma população total de 23.000 habitantes. “São oriundos de 46 países, mas Brasil, Venezuela e Cabo Verde são os países mais expressivos”, revelou a vereadora, assegurando que não têm sido registados problemas de integração. “Isto é um trabalho que é feito em várias áreas: na integração no emprego, na educação, na saúde e na habitação. E com vários parceiros”, vincou Lília Ana Águas, acrescentando que “a cada migrante que vem, na semana seguinte já o temos integrado no mercado de trabalho, já conseguimos arranjar habitação, arranjar escolas para os filhos, apoio na saúde”.

Além da Cértima Orquestra, que acontece no âmbito do projecto Oliveira, Mundo de Gentes, o município também tem em curso o Oliveira do Bairro Acolhe, que visa prestar apoio aos refugiados oriundos do Afeganistão e da Ucrânia, através da sua recepção, acolhimento e integração no concelho — ambos os projectos são co-financiados pelo Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI). A aposta passa, assim, por “integrar, da melhor forma, todas estas pessoas”, sem descurar “a questão de interculturalidade”, evidenciou a vereadora. “Temos de sensibilizar a nossa comunidade para a recepção destas pessoas, perceber que têm uma cultura diferente, tradições diferentes, e que as temos que respeitar e acolher”, rematou.

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