Autoridades ucranianas procuram a última criança de Avdiivka

Quase três meses depois de o Governo ordenar a retirada obrigatória de menores de zonas próximas de combates, nesta cidade da região de Donetsk acredita-se que ainda há uma criança escondida.

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Governo ucraniano ordenou retirada de menores de cidades na linha da frente Reuters/GLEB GARANICH/Imagem de arquivo
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Em Avdiivka, na linha da frente da região de Donetsk, várias famílias esconderam crianças para impedir que fossem levadas pelas autoridades, após ser decretada a retirada obrigatória de menores das zonas debaixo de fogo. De acordo com a administração regional, há ainda uma criança na cidade, desaparecida há meses.

“Há uma criança que permanece na cidade, há meses que não conseguimos encontrá-la. Não vimos os pais no último mês, estão escondidos em algum lado”, afirmou o chefe da administração militar de Avdiivka, Vitalii Barabash, citado esta quarta-feira pela emissora ucraniana Hromadske.

“Às vezes pensamos ‘talvez já tenham fugido sozinhos’, mas não há confirmação de que a criança esteja num lugar mais seguro. Por isso, as buscas continuam”, acrescentou Barabash.

A ordem para retirada de crianças de zonas em que há combates activos foi aprovada em Conselho de Ministros e divulgada pelo Ministério da Reintegração da Ucrânia a 7 de Março deste ano. Aí previa-se que a recusa da família quanto à retirada dos jovens não fosse permitida, e que a saída forçada de crianças das suas casas implicaria que fossem acompanhadas por um dos pais ou encarregado de educação.

“É obrigação do Governo proteger a vida e saúde de uma criança. A decisão tomada deve incentivar os pais a ser mais ponderados quanto à retirada das crianças. Se um adulto não pode garantir a segurança de uma criança, isso terá de ser feito pelo Governo”, argumentou, à data, Iryna Vereshchuk, vice-primeira-ministra e ministra da Reintegração de Territórios Temporariamente Ocupados (também chamado Ministério da Reintegração da Ucrânia).

Para quem fica, “aceitar o destino” parece ser justificação suficiente. Iryna, de 60 anos, citada pelo Institute for War and Peace Reporting (IWPR), vive na cave da sua casa em Avdiivka com o filho, quatro gatos e dois cães. Diz não querer sair da sua cidade natal, apesar da violência que a rodeia: “Não podemos escapar ao destino. Se tivermos de morrer por causa disto, morremos.”

Nas contas ucranianas, no início de Abril permaneciam em Avdiivvka cerca de 1800 habitantes — menos de 5% da população da cidade, que antes da guerra ultrapassava as 30 mil pessoas. Por essa altura, pelo menos nos números oficiais, restavam menos de dez crianças na cidade, alegadamente escondidas pelas famílias em caves.

“É irresponsabilidade dos pais que escondem as crianças. Encontramo-las, preparamos tudo para a retirada no dia seguinte, e durante a noite mudam de localização e voltam a esconder-se”, contava Barabash, em declarações a um canal de televisão ucraniano.

Avdiivka tem sido um dos grandes alvos das tropas russas em Donetsk, a par de Bakhmut, a 50 quilómetros de distância. Ainda assim, os confrontos não são novidade para os moradores, numa cidade onde o som de disparos e explosões é habitual desde 2014, quando separatistas pró-russos autoproclamaram a República Popular de Donetsk.

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