Dez anos à procura de talentos na escrita e na ilustração para crianças

Quem nunca publicou um livro ou o desenhou tem desde há uma década a possibilidade de concorrer a esta distinção. Público-alvo: crianças.

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Nos últimos 16 anos, mais de 2 milhões de livros chegaram às famílias portuguesas em campanhas de incentivo à leitura DR
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O maior prémio de literatura infantil do país, de 50 mil euros, já encontrou o talento desta 10.ª edição na categoria de texto: Márcio Martins. O Livro Que Não Sabia o Que Queria Ser precisa agora de quem o ilustre. O concurso para artistas e designers gráficos arranca nesta terça-feira, dia 23, e termina a 29 de Junho. O valor será dividido em partes iguais pelos dois vencedores, 25 mil euros para cada um.

O prémio foi lançado em 2014 com o intuito de “incentivar a criatividade literária e artística de novos talentos”, diz ao PÚBLICO, via email, Filipa Pimentel, directora de Desenvolvimento Sustentável e Impacto Local do Pingo Doce. “Todos os anos distinguimos um autor e um ilustrador que nunca tenham publicado o seu trabalho em livro, desenvolvendo conteúdos acessíveis e de qualidade que ajudem a promover o gosto dos mais novos pela leitura”, acrescenta.

No entanto, a preocupação com a leitura na infância começou antes, “sendo o Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce resultado do trabalho desenvolvido pela companhia para promover a literacia infanto-juvenil num percurso de mais de 16 anos” e em que se ultrapassou o lançamento de 480 títulos para crianças e jovens.

Diz ainda aquela responsável: “Com esta aposta, pretendemos democratizar o acesso aos livros e estimular, desde cedo, hábitos de leitura em família. A distância física e a inacessibilidade financeira são factores que queremos ajudar a colmatar. Por isso, no Pingo Doce, consideramos os livros bens essenciais, vivendo harmoniosamente no mesmo espaço, nas mesmas prateleiras e aos mesmos preços acessíveis que os demais produtos das nossas lojas.”

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Livro vencedor da 1.ª edição do prémio, em 2014. Com texto de Joana Lopes e ilustração de Luís Belo Luís Belo

Os jurados são escolhidos pela empresa, com quatro elementos de mérito reconhecido em cada uma das vertentes do prémio: texto e ilustração. Acresce a presença de um representante do grupo Jerónimo Martins. É um júri rotativo e nomeado de três em três anos. Esta edição conta com as avaliações de Afonso Cruz, David Machado, Violante Magalhães, Sara Rodi (texto) e de Marta Madureira, André Carrilho, Bernardo Carvalho e Eduardo Côrte-Real (ilustração). Sara Miranda, directora de Comunicação da Jerónimo Martins, integra os dois júris.

Declaração de amor ao filho e aos livros

A edição de 2022 foi a que bateu o recorde de propostas recebidas ao longo destes dez anos: 3928 candidaturas, entre autores de texto (2930) e ilustradores (998). Nesta edição, de 2023, houve mais de três mil concorrentes na fase de texto.

Do vencedor, Márcio Martins, anunciado publicamente nesta segunda-feira, chegou-nos a seguinte declaração: “Ainda não parei de sorrir desde que recebi a notícia. Há muito que desejava escrever um livro infantil, por isso isto é, literalmente, um sonho realizado. Os livros e a literatura acompanham-me desde sempre e, há sete anos, com o nascimento do meu filho, esse amor alargou-se à literatura infantil. E esta é a minha declaração de amor ao meu filho, aos livros e ao poder da imaginação e da criatividade.”

Filipa Pimentel quer dizer também que em 2022 foram vendidos mais de 400 mil livros infanto-juvenis nos supermercados da marca que oferece o prémio. E reflecte: “Vários estudos têm revelado que ainda se lê pouco em Portugal, o que é preocupante, uma vez que, como sabemos, a leitura desempenha uma importância central no desenvolvimento cognitivo dos mais novos.”

Acrescenta ainda: “Numa fase precoce da vida, em que os pensamentos são recheados de sonhos e ideias futuristas, um livro tem a capacidade de expandir horizontes e ampliar todo o saber que uma criança ainda tem por desvendar. É importantíssimo este trabalho de aproximar os livros das pessoas, seja numa biblioteca pública, na estante do quarto ou na prateleira do supermercado.”

Contabilizando, nos últimos 16 anos, mais de 2 milhões de livros chegados às famílias portuguesas em campanhas de incentivo à leitura, Filipa Pimentel lembra que “os pais e a escola têm um papel muito importante neste tema”, já que “os telemóveis, com os jogos, aplicações e redes sociais; a televisão, com a vasta oferta de programação e streaming, são bastante aliciantes pela interactividade”.

No entanto, convida-os a contrariar essa prática com a ferramenta do exemplo. “As crianças seguem os exemplos dos pais, as pessoas que mais admiram. Logo aí teremos a responsabilidade de cultivar um ambiente propício à leitura, por vezes tão simples como ler jornais ou revistas na presença deles. Ler com os filhos todas as noites, criando uma rotina de leitura, também poderá ser uma forma eficaz de criar um hábito com os livros, tornando-os um objecto com que se vão familiarizar para o resto da vida.”

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Livro vencedor da edição do ano passado, com texto de Daniela Leitão e ilustração de Catarina Silva Catarina Silva

O mesmo para o ambiente escolar, desenhando aí “estratégias para que a leitura se torne fácil e divertida, de forma a ser atractiva e prazerosa para as gerações mais jovens”, assim como pôr à disposição “obras com qualidade artística e literária”, tudo para que se crie “um ponto de partida para cultivar o interesse das crianças para o exercício da leitura”.

Aqui se registam livros e autores já premiados ao longo destes dez anos: De onde Vêm as Bruxas? (Joana M. Lopes e Luís Belo), Orlando O Caracol Apaixonado (Sérgio Mendes e Elias Gato), O Meu Livro Tem Bicho (Madalena da Luz Costa e Ricardo Ladeira de Carvalho), Há Monstros no Túnel (Diogo Alegria Pécurto e Mara Isabel Santos Silva), O Narciso com Pelos no Nariz (Andreia Penso Pereira e Ana Granado), O Protesto do Lobo Mau (Maria Leitão e Pedro Velho), Leituras e Papas de Aveia (António Pedro Martins e Duarte Carolino), Assim como tu (Raquel Salgueiro e Jorge Margarido), O Avô Minguante (Daniela Leitão e Catarina Silva).

Falta agora esperar para conhecer quem visualmente acompanhará O Livro Que Não Sabia o Que Queria Ser, de Márcio Martins — que está de parabéns.

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