UE em busca de um acordo no G7 para restringir comércio de diamantes russos

Europeus contam com o apoio dos EUA para criar um novo mecanismo para rastrear a origem das pedras preciosas. Ideia passa por limitar as receitas arrecadadas pela Rússia.

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Com as maiores reservas do planeta, a Rússia é o maior produtor mundial de diamantes naturais Reuters/Sergei Karpukhin
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Apesar de o comércio de diamantes não fazer parte da proposta para o 11.º pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia por causa da invasão da Ucrânia, Bruxelas vai aproveitar as discussões entre os líderes do grupo das economias mais avançadas (G7) na cimeira de Hiroxima para tentar negociar um acordo para o estabelecimento de restrições à importação dessas pedras preciosas vindas da Rússia.

Com as maiores reservas do planeta, a Rússia é o maior produtor mundial de diamantes naturais, que além da joalharia são usados pela indústria metalomecânica e da construção, nos computadores ou colunas de som e em vários instrumentos de precisão, por exemplo médicos. Segundo os dados coligidos pela Statista, em 2022 o volume de produção ultrapassou os 39 milhões de quilates, com um valor estimado superior aos 2000 milhões de euros.

Ao nível da União Europeia, a hipótese de incluir o comércio de diamantes no regime das sanções esbarrou sempre na oposição da Bélgica, que se mostrou sempre contra uma proibição total, mas não objectou a aplicação de medidas alternativas para limitar as importações a partir da Rússia — replicando o modelo que o G7 montou para controlar o preço do petróleo russo transportado por via marítima.

“A fixação do tecto de preço revelou-se um sucesso, que está a conseguir manter o valor do petróleo em baixo, cumprindo o objectivo proposto de limitar a capacidade da Rússia de arrecadar receitas para prolongar a guerra”, observou uma fonte europeia, que confirmou a intenção da UE de avançar nas discussões de um sistema semelhante, que possa ser aplicado a nível global, para restringir a venda de diamantes russos.

A Bélgica montou, unilateralmente, um mecanismo de rastreabilidade que permitiu reduzir drasticamente (em cerca de 80%) as encomendas a fornecedores russos. Segundo várias fontes de Bruxelas, a ideia passa por negociar um acordo no G7 para alargar este sistema de rastreio, desenvolvendo uma tecnologia que permita identificar a origem da pedra, eliminando assim o risco de evasão ou contorno das restrições através países terceiros, caso dos Emirados Árabes Unidos ou da Índia.

“Há diferentes actores a intervir na cadeia de produção de diamantes”, sinalizou um responsável europeu envolvido nas negociações, revelando que por esta altura os parceiros do G7 ainda estão numa “dança diplomática” com a Índia, que é o único país asiático com indústria de diamantes (o volume de produção é relativamente baixo, mas é líder mundial no corte, polimento e exportação desta pedra preciosa).

A Índia tem estado a “beneficiar” do acordo do G7 para um preço máximo para as exportações de petróleo russo para comprar crude à Rússia, que depois é refinado na Índia e vendido no mercado global, incluindo na Europa. O negócio levantou dúvidas por potencial violação do regime de sanções da UE ao petróleo russo, mas de acordo com uma fonte de Bruxelas, não é o caso, uma vez que o petróleo refinado na Índia é considerado como um novo produto.

Este ano, a Índia detém a presidência do G20, e o primeiro-ministro, Narendra Modi, é um dos convidados da presidência japonesa do G7 para a cimeira de Hiroxima, que tem como temas centrais a resiliência das cadeias de abastecimento globais, no rescaldo da pandemia e da guerra na Ucrânia, e a questão da segurança económica — uma discussão sensível e que está ligada à interdependência da China e à coerção económica exercida por Pequim. A Índia é vista como um parceiro estratégico fundamental para a diversificação e redução de riscos face à China.

Outro chefe de Estado que os parceiros do G7 vão ouvir com atenção em Hiroxima é Lula da Silva: ao lado de Modi, o Presidente do Brasil, que assumirá a liderança do G20 no próximo ano, apresentará a perspectiva do chamado “Sul Global” nos debates sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que vão incluir uma discussão sobre a paz.

Um diplomata europeu envolvido na preparação da cimeira admitiu que existe um “interesse especial” na intervenção de Lula, após a polémica provocada pelas suas declarações sobre a guerra na Ucrânia. No comunicado final, os líderes do G7 reforçarão que qualquer iniciativa para resolver o conflito terá necessariamente de ter por base as condições apontadas pela Ucrânia no seu plano de paz.

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