Setenta e cinco anos de tragédia e sofrimento para o povo palestiniano

O ano da comemoração dos 75 anos da existência do Estado de Israel tem sido, até ao momento e desde a fundação do mesmo, o mais violento e mortal para os palestinianos.

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Megafone P3: 75 anos de tragédia e sofrimento para o povo palestiniano REUTERS/MOHAMMED SALEM
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O Estado de Israel foi fundado a 14 de Maio de 1948. Desde então o povo palestiniano, espalhado pelo mundo fora, relembra no dia 15 de Maio aquilo que foi a sua grande catástrofe – a Nakba – durante a qual se deu a expulsão de cerca de 800 mil palestinianos da Palestina. O número actual de refugiados palestinianos espalhados por todo o mundo, fruto da Nakba de 1948 e de uma segunda onda, aquando da Guerra dos Seis Dias em 1967, atinge quase os seis milhões.

Na Palestina (Cisjordânia e Gaza) vivem actualmente, sob ocupação israelita, cerca de cinco milhões e meio de palestinianos e em Jerusalém Oriental cerca de 362 mil. O número de colonos israelitas no mesmo território é, entretanto, de quase um milhão.

O ano da comemoração dos 75 anos da existência do Estado de Israel tem sido, até ao momento e desde a fundação do mesmo, o mais violento e mortal para os palestinianos. A normalização da ocupação tem levado a um crescimento sucessivo e descontrolado de ataques aleatórios a palestinianos e a assassinatos. A violência das forças de ocupação israelitas tem assim tomado proporções inimagináveis.

A quantidade de palestinianos detidos em prisão administrativa atingiu também recentemente um novo recorde, número nunca ocorrido desde o fim da primeira Intifada. A violência e o ataque de colonos a palestinianos, invadindo aldeias e terrenos e atacando pessoas, pegando fogo a casas, carros e olivais, tem tornado todo o território extremamente perigoso para os palestinianos, nunca sabendo quando, em que momento e de que forma, poderão ser atacados e se terão forma de se proteger a si e aos seus.

No momento dos 75 anos da comemoração da fundação do Estado de Israel os palestinianos estão menos livres do que nunca e temem, mais do que nunca, pelas suas vidas. A morte faz, desde 1948, parte do quotidiano e muitas vezes nem tempo há para chorar um amigo ou um ente querido porque a morte, num abrir e fechar de olhos, pelas mãos das forças da ocupação israelita, arrebata sorrateiramente mais um ser humano, sem sobreaviso.

O Estado de Israel não respeita nem actua de acordo com a Declaração Internacional dos Direitos Humanos da ONU, assim como não respeita nem cumpre o Direito Internacional. Médicos, jornalistas e funcionários de organizações humanitárias são constantemente atacados e, por vezes, não só lesionados, como deliberadamente assassinados. Assim foi o caso da jornalista palestiniana da Al Jazeera, Shireen Abu Akleh, que foi assassinada, enquanto fazia o trabalho dela, por soldados israelitas nesse fatal mês de Maio de 2022.

Não obstante o facto de a terem assassinado com uma bala na nuca — o único ponto que não estava protegido nem pelo colete à prova de balas nem pelo capacete — também atacaram posteriormente o seu cortejo fúnebre, espancando com bastões os civis que carregavam o seu caixão, levando-o quase a cair ao chão e a abrir-se. Não é suficiente roubar e ocupar um povo, condicioná-lo em vida, maltratá-lo e matá-lo. Também há, na morte, que martirizá-lo e roubar-lhe o direito de se despedir em paz e de simplesmente, lamentar a perda dos seus. Há que traumatizá-lo e querer roubar-lhe a dignidade.

Estes 75 anos de existência do Estado de Israel são anos marcados por morte, desumanização, ocupação, opressão e injustiça. Criar um Estado sobre os cadáveres de um povo, ocupá-lo e oprimi-lo não só é injusto, como também disfuncional e não é nada pelo qual se possa estar orgulhoso.

Basicamente nada há que comemorar.

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