Israelitas bombardeiam Gaza um dia depois de terem matado nove palestinianos em campo de refugiados

Pelo menos 30 palestinianos já foram mortos desde o início de Janeiro. A violência já batera recordes em 2022, com o maior número de palestinianos mortos pelas forças israelitas em décadas.

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Depois do raide em Jenin houve confrontos em vários locais da Cisjordânia Reuters/MOHAMMED SALEM

O som das bombas voltou à Faixa de Gaza, alvo de vários ataques aéreos esta sexta-feira de manhã. O Exército israelita diz ter lançado os raides em resposta aos dois rockets disparados contra Israel minutos depois da meia-noite, ambos interceptados. Horas antes, as forças israelitas mataram nove pessoas num ataque no campo de refugiados de Jenin, incluindo dois civis, e feriram outras 20 – desde 2005 que uma só incursão israelita não provocava tantos mortos e os mediadores da ONU e dos países árabes intensificaram de imediato os contactos com os dois lados, antecipando uma escalada da tensão.

De acordo com a Al-Jazeera, os aviões israelitas lançaram pelo menos 13 ataques contra o campo de refugiados de Al-Maghazi, no centro da Faixa de Gaza, atingindo ainda o bairro de Al-Zaitoun, no sul da Cidade de Gaza, e uma zona a leste de Beit Hanoun, no norte do território, um dos mais densamente povoados do mundo, sem que haja relatos de vítimas.

Entre o raide em Jenin e o disparo dos rockets, confrontos em diferentes locais da Cisjordânia provocaram a morte de um palestiniano em Al-Ram, nos arredores de Jerusalém, enquanto a norte de Ramallah, quatro palestinianos foram alvejados por tropas israelitas, um deles com gravidade.

Com as vítimas de quinta-feira, sobem para pelo menos 30 o número de palestinianos – civis e membros de grupos armados – mortos desde o início do ano. Entre os mortos do campo de Jenin contam-se pelo menos dois civis, um homem e uma mulher de 61 anos, identificada pelas autoridades hospitalares como Magda Obaid, que a sua família diz ter sido atingida quando espreitou pela janela.

O ministro da Saúde palestiniano, Mai al-Kaila, acusa os militares israelitas de lançarem gás lacrimogéneo dentro da unidade pediátrica do hospital do campo, o que o Ministério da Defesa israelita desmente, explicando ter lançado uma “operação de contraterrorismo” para travar um atentado “iminente” que estaria a ser preparado por membros da organização Jihad Islâmica.

Denunciando um “massacre”, a Autoridade Palestiniana anunciou que põe fim à cooperação de segurança com Israel, algo que não acontecida desde 2020. O Departamento de Estado norte-americano lamentou esta decisão, dias antes da visita do secretário de Estado, Antony Blinken, esperado em Israel e na Cisjordânia na segunda-feira.

“Desde o início do ano, continuamos a observar níveis elevados de violência e as tendências negativas que caracterizaram 2022”, afirmou o coordenador especial das Nações Unidas para o processo de paz, Tor Wennesland, que no final de 2022 descrevia o conflito como estando “de novo a chegar a um ponto de ebulição”, após “décadas de violência continuada, expansão ilegal de colonatos, negociações em hibernação e ocupação intensificada”.

Segundo o Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), o número de palestinianos mortos por tropas israelitas ao longo de 2022 na Cisjordânia foi o maior desde que que a organização começou a fazer um registo sistemático das vítimas, em 2005. A ONU contabilizou 146 mortos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental entre 1 de Janeiro e 19 de Dezembro, enquanto as autoridades palestinianas dizem que 225 pessoas foram mortas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza ao longo do ano.

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