Pororó: “A música é um lugar colectivo, as pessoas chegam e trazem universos”

Um quarteto de luxo em estreia absoluta em Espinho e Lisboa: Domenico Lancellotti, Norberto Lobo, Ricardo Dias Gomes e João Pereira. O seu nome: Pororó.

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Domenico Lancellotti, Norberto Lobo, Ricardo Dias Gomes e João Pereira: o quarteto Pororó Daryan Dornelles
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São, todos eles, músicos com carreiras firmadas, dois brasileiros e dois portugueses. Domenico Lancellotti, Norberto Lobo, Ricardo Dias Gomes e João Pereira. Juntos, formaram um quarteto a que deram o nome de Pororó. Do trabalho de experimentação colectiva feito pelos quatro vai sair uma música que evitam classificar, mas que terá estreia absoluta em dois espectáculos em Portugal, onde todos vivem: este sábado, dia 13, no Auditório de Espinho (21h30), e dia 16 no Teatro Maria Matos, em Lisboa (21h).

“Desde que cheguei a Portugal, peguei um período muito difícil, de quarentena, de pandemia”, recorda ao PÚBLICO Domenico Lancellotti, cantor e compositor carioca que se mudou para Portugal após a vitória eleitoral de Bolsonaro no Brasil. “Ficámos todos reclusos e não pude conhecer alguns músicos daqui que eu admirava.” Um deles era Norberto Lobo, criativo guitarrista português que desde o disco Mudar de Bina (2007) já gravou vários álbuns e tem vindo a receber elogios da crítica e do público.

Voltando a Domenico: “Quando passou esse período, a Inês Mota recebeu um convite para uma apresentação na França que teria de ter uma ponte, com um músico português. Eu não conhecia pessoalmente o Norberto, mas admiro muito o trabalho dele. Tive um programa de rádio no Porto, junto com Tomás Cunha Ferreira, ligado ao Museu da Cidade do Porto, botava músicas dele, mas não o conhecia. Daí, fiz uma coisa que se estivesse no Brasil não faria, que é ligar para uma pessoa que não conheço. Liguei, houve uma afinidade muito grande e desde então a gente tem se encontrado e tocado.”

Domenico tem um estúdio em Lisboa com outro dos músicos que veio a integrar o quarteto, o também brasileiro Ricardo Dias Gomes, baixista, membro da banda Cê de Caetano Veloso, com quem gravou (2006), Zii e Zie (2009) e Abraçaço (2012). Ricardo já tinha participado no mais recente disco de Domenico, Raio (2021), bem como nas respectivas apresentações ao vivo. “Aí, quando chegou o Norberto, ele vinha com outro músico muito bom, o João Pereira, e então a gente entendeu que seria um encontro entre dois duos e o espectáculo está a ser montado em função desse encontro.” João Pereira, baterista, é fundador da Robalo Music e um dos nomes em destaque na actual cena jazz portuguesa, onde já tocou com Mário Laginha ou Ricardo Toscano.

Pororó, nome escolhido para baptizar este quarteto que une dois músicos brasileiros e dois portugueses, significa “explosão” em guarani, mas o som que daí sairá não é ainda claro. No texto que apresenta o grupo, Domenico escreveu, a finalizar: “Ainda não sabemos classificar o som da banda, mas também não sei se é preciso. É isso, não é preciso.” Ao PÚBLICO, acrescenta: “Temos muito em comum. É uma coisa que pode ir para um lugar muito livre, de experimentação, mas ao mesmo tempo tem uma presença das origens do lugar de onde vimos. Quando comecei a escutar as gravações dos discos do Norberto, percebi que, embora muito livre, havia alguma coisa regional, que vinha de um lugar íntimo, muito da terra.”

O encontro dos quatro, diz Domenico, é como um encontro de rios, de águas de diferentes proveniências: “E encontram-se na coisa mais simples, que são as canções: as minhas, as dele, com janelas abertas para que possam ir para outros lugares. Além de coisas que a gente criou aqui, juntos. A música é um lugar colectivo, as pessoas chegam e trazem universos. É essa a grande riqueza da música.”

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