Não há “condições ideais” para provas de aferição digitais, reconhece Iave

Organismo responsável pela avaliação externa nas escolas reconhe que a transição foi acelerada pela existência de verbas do PRR. Exames serão digitais a algumas disciplinas do secundário em 2024

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Provas de aferição começam esta terça-feira e serão feitas por 250 mil estudantes Nelson Garrido

O presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) reconheceu que ainda não estão garantidas as "condições ideais" nas escolas para avançar com provas nacionais digitais, mas garantiu existirem planos alternativos caso algo falhe.

Esta semana começam as provas de aferição para os alunos do 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade que, pela primeira vez, serão feitas em formato digital: Em vez de uma esferográfica, mais de 250 mil estudantes irão mostrar os seus conhecimentos usando o teclado e o rato do seu computador.

Para o presidente do IAVE, Luís Pereira dos Santos, a transição digital "é uma inevitabilidade" dos tempos actuais e era preciso aproveitar a "janela de oportunidades": O Ministério da Educação tinha um plano para distribuir computadores por todos os alunos, aumentar a formação dos professores e melhorar a rede de internet nas escolas. A isto somavam-se os 12 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para pôr em marcha o projecto que definiu que em 2025 todas as provas e exames nacionais serão em formato digital.

No entanto, em entrevista à agência Lusa, Luís Pereira dos Santos reconheceu que as condições nas escolas "ainda não são as ideais, mas o IAVE tentou desenvolver um sistema que pudesse mitigar essas dificuldades".

Os directores escolares têm alertado para problemas da rede de internet em alguns estabelecimentos de ensino, em especial nas zonas mais recônditas, e para a falta de especialistas informáticos capazes de resolver eventuais problemas técnicos que possam surgir durante as provas.

Em resposta, o IAVE desenhou modelos que permitem que as provas sejam feitas online, mas também "num processo offline em que a internet não é necessária ou em que não é sempre necessária", explicou. No caso do processo offline, existem duas hipóteses: Usar uma rede local ou o computador de cada aluno como o seu próprio servidor. As escolas instalam uma aplicação no servidor e num determinado momento, "que não será cinco minutos antes da prova", podem fazer o download das provas.

O presidente do IAVE acredita que os alunos nem irão notar qualquer diferença, "vão achar que estão a aceder a um browser e à Internet". No final, as escolas fazem uma sincronização com os servidores do IAVE e descarregam as provas: "Só precisam da internet antes da prova e depois da prova, sem necessitar de ter uma banda larguíssima, porque sabemos que as escolas ainda não têm essas condições", disse Luís Pereira dos Santos.

As escolas podem também dividir os estudantes em dois turnos, em que o segundo grupo de alunos começa a prova imediatamente a seguir ao primeiro terminar, sem que se possam cruzar. "Vamos melhorar certamente. Nem tudo vai correr como nós desejaríamos já no primeiro ano, mas é um processo em construção que queremos fazer com as escolas", disse.

As provas de aferição arrancam esta semana: Entre 2 e 11 de Maio, os alunos do 2.º ano irão prestar provas a Educação Artística e Educação Física, duas áreas em que se mantêm o modelo antigo. Entre 17 e 27 de Maio começam as provas dos alunos do 5.º ano e 8.º ano, sendo que as provas digitais realizam-se às disciplinas de Português, Estudo do Meio, Matemática, História e Geografia de Portugal, Ciências Naturais e Físico-Química, Tecnologias da Informação e Comunicação e Inglês.

Nos últimos dias, vários pais têm afirmado que não irão enviar os seus filhos mais novos para as provas de aferição. Em resposta, o presidente do IAVE lembrou os resultados do teste-piloto que mostraram que o desempenho dos alunos do 2.º ano foi semelhante ao dos que fizeram a prova em papel, tanto na dimensão como na qualidade dos textos escritos no teclado. "Não tenham receio destas provas, não implicam habilidades digitais extremamente apuradas pelos nossos alunos", disse, garantindo que o digital "não é nenhum papão".

As provas de aferição são importantes para avaliar os conhecimentos dos alunos, identificar as suas dificuldades e trabalhar nessas áreas, mas não têm peso na nota final dos alunos. A 16 de Junho, arranca a 1.º fase das provas finais do 9.º com a disciplina de Matemática.

Exames digitais no secundário

Um grupo de alunos do ensino secundário vai realizar pela primeira vez no próximo ano exames nacionais digitais, segundo o IAVE, que decidiu que o projeto-piloto será aplicado a "duas ou três disciplinas". O plano que põe fim às provas e exames nacionais em papel foi experimentado no ano passado junto de seis mil alunos do ensino básico e deverá estar concluído em 2025, quando todos os estudantes tiverem de ler os enunciados das provas num ecrã.

Numa carta de solicitação enviada ao IAVE, o ministério decidiu que no próximo ano será a vez de avançar com o projeto-piloto no secundário num "conjunto de exames nacionais". "O projeto-piloto será aplicado a todos os alunos que fazem uma determinada disciplina. Ainda não escolhemos as disciplinas, mas serão duas ou três que não tenham nem muito poucos nem muitos alunos inscritos", revelou o presidente do IAVE, Luís Pereira dos Santos, em entrevista à Lusa.

Seguindo esta ideia, deverão ficar de fora disciplinas como Biologia e Geologia, Português, Física e Química A ou Matemática, que chegam a ter mais de 40 mil alunos inscritos só na 1.º fase. Por outro lado, também não deverão ser escolhidos os alunos que fazem exames de Português Língua Não Materna, Mandarim ou Latim A, uma vez que são muito poucos: No ano passado, por exemplo, inscreveram-se 21 estudantes a Mandarim e 29 a Latim A.

Certo é que em 2025 todas as provas serão em formato digital, desde as provas de aferição do ensino básico até aos exames nacionais. No entanto, os exames nacionais têm um peso acrescido, uma vez que são visto como uma espécie de bilhete de acesso ao ensino superior, valendo tanto quanto as notas atribuídas pelo trabalho realizado ao longo dos três anos do secundário.

Sobre o modelo das provas digitais, o presidente do IAVE explicou que serão "muito idênticas" à estrutura das provas em papel: "Não esperem grandes revoluções, não é isso que nós queremos". No futuro, as provas digitais permitirão apresentar questões com simulações, modulações ou gráficos interactivos, mas para já "não haverá nada disso", garantiu.

As regras dos exames do secundário mantêm-se exactamente iguais às do ano passado, com um conjunto de perguntas obrigatórias e outro opcional. As respostas obrigatórias são "uma amostra muito representativa do que os alunos têm mesmo de saber no final do ensino secundário ou no 11.º ano", já no caso dos itens opcionais "só vão contar para a classificação final aqueles a que os alunos têm melhor classificação", recordou.

O presidente do IAVE deixou um conselho aos alunos: "Façam a prova toda, não pensem que há itens obrigatórios e opcionais. A prova é para ser feita toda". Para os professores e estudantes mais ansiosos, Luís Pereira dos Santos sugeriu que visitem o site do IAVE, onde estão disponíveis provas digitais com "exemplos muito próximos" dos que serão apresentados nos exames.

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