TAP: “Negociata” de Neeleman com Airbus foi para alguém “meter dinheiro ao bolso”

A afirmação da coordenadora da Comissão de Trabalhadores da TAP surgiu no seguimento das questões que Maria Mortágua lhe dirigiu sobre os chamados fundos Airbus.

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A coordenadora da Comissão de Trabalhadores da TAP, Cristina Carrilho LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

A coordenadora da Comissão de Trabalhadores (CT) da TAP, Cristina Carrilho, disse esta quinta-feira ter a certeza de que a "negociata" de David Neeleman com a Airbus serviu para alguém "meter dinheiro ao bolso", mas não a companhia aérea portuguesa.

"Relativamente à negociata - não lhe chamo negócio - do senhor David Neeleman, na altura o que soubemos é que ele tinha feito um acordo com a Airbus para que a TAP, em vez dos A350, recebesse os neo e os A350 iam para a Azul. Isto foi o que nós soubemos. Os meandros dos negócios, valores, quanto envolvia, nunca soubemos. No entanto, dissemos também na altura, com certeza nesta negociata alguém está a meter dinheiro ao bolso e não é a TAP", afirmou Cristina Carrilho na comissão de inquérito à TAP.

A coordenadora da CT respondia a questões da deputada bloquista Mariana Mortágua, sobre os chamados fundos Airbus, que, conforme tem sido noticiado, terão servido para o consórcio Atlantic Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa, capitalizar a TAP, na altura da privatização de 2015, alegadamente com fundos da própria companhia aérea.

Cristina Carrilho apontou ainda que o contrato para a compra dos aviões Airbus 350 previa que os "preços eram bastante favoráveis para a TAP", mas acabou por ser feito outro acordo entre David Neeleman e a fabricante francesa.

Já questionada sobre o contrato de prestação de serviços com o antigo administrador Fernando Pinto, com o pagamento de 60.000 euros por mês durante dois anos para serviços de consultoria, Cristina Carrilho disse que a situação não é inédita e que já terá acontecido com um antigo administrador financeiro.

"Se ele [Fernando Pinto] efectuou algum trabalho visível, não sei dizer, mas que o vi uma vez na TAP, vi. Se estava a trabalhar, se estava a visitar, o que foi lá fazer, não sei", apontou.

Relativamente ao negócio da TAP no Brasil, que a companhia decidiu encerrar no ano passado, a coordenadora da CT disse que as razões apontadas pela empresa para não fechar mais cedo prendiam-se com a "legislação muito apertada" no Brasil, que dificulta um processo de encerramento de um negócio.

Já questionada pelo deputado Filipe Melo, do Chega, sobre a falta de trabalhadores, que leva ao pagamento de indemnizações por voos cancelados, Cristina Carrilho disse que, na altura dos despedimentos, a gestão da companhia aérea foi avisada de que esta situação poderia ocorrer, caso a recuperação da pandemia acontecesse mais rápido do que estavam a prever.

"A resposta foi: 'os trabalhadores com que vamos ficar estão sobredimensionados para 2021 e ajustados para 2022'. Nota-se", comentou Cristina Carrilho, em tom irónico. Estes despedimentos, disse, "tiveram um grande impacto na operação da TAP", com a companhia a ter dificuldade em contratar trabalhadores, actualmente, devido aos cortes salariais ainda em vigor. "Ninguém quer ir trabalhar para a TAP com as condições salariais que a TAP oferece", acrescentou.

Questionada pela deputada socialista Fátima Fonseca sobre os canais de diálogo entre a CT e a administração e como funcionavam, a representante dos trabalhadores disse que não tem havido diálogo com a Comissão Executiva, embora se reúnam uma vez por mês como previsto na lei, e que, com o ex-presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, não houve qualquer reunião, apenas um telefonema de apresentação.

Já relativamente ao pagamento de bónus a altos quadros, Cristina Carrilho disse que esses pagamentos são "do conhecimento comum entre os trabalhadores da TAP", embora não tenham provas. "É tudo feito no segredo, debaixo do pano, alguns se calhar até vêm em saco azul, portanto não é divulgado, nem à Comissão de Trabalhadores, nem aos sindicatos", sublinhou.

Já ao deputado comunista Bruno Dias, a coordenadora da CT explicou que a estrutura não foi envolvida nas discussões do plano de reestruturação, tendo-lhes sido apenas apresentado "um powerpoint" elaborado pela consultora BCG.

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