André ViaMonte assinala o 25 de Abril com videoclipe de Gentle Dawn (e Beatriz Nunes)

Em Maio de 2022, estreou Deadfall, uma canção “contra a guerra ou todas as guerras que se possam perpetuar”, tal como em Maio de 2020 respondera à pandemia com Aqui, canção “feita em contexto onde o medo tenta predominar devido a um vírus que invadiu o nosso quotidiano”. Agora, neste Abril que não tarda a chegar a Maio, lança em videoclipe Gentle Dawn, uma canção do seu segundo álbum, com a participação da cantora Beatriz Nunes, e com o objectivo de assinalar o 25 de Abril com a ideia de que, “mais do que lembrar o passado, é importante resgatá-lo” criando “pontes emocionais entre gerações”. Gentle Dawn, que no álbum Monte (2019) faz uma ponte temática com a canção seguinte, Leda Madrugada II, inspirada num soneto de Camões, foi criada já a pensar numa voz, diz André ao PÚBLICO: “Eu estava a fazer uma linha melódica muito Madredeus e pensei no óbvio, que era a voz da Teresa Salgueiro. Mas depois pensei que era melhor trabalhar com alguém mais próximo. E quando fui falar com a Beatriz Nunes, descobri que, por acaso, ela era nessa altura vocalista dos Madredeus.”

A linguagem do tema, diz André, “não é nada inocente”: “Porque mistura o inglês com o português tradicional, o que os Madredeus não fizeram, porque cantaram sempre em português. Mas eu acho que nós podemos manter o que é tradicional, fundindo-o com uma linguagem mais global, respeitando a raiz portuguesa. Por isso é que eu chamei a Beatriz.” André canta a parta da canção em inglês e Beatriz canta a parte portuguesa: “O tempo muda... muda a vontade/ O passado cura... ama a saudade!” O que quer isto dizer, para André ViaMonte? “Fiquei completamente rendido à mensagem de Camões nesse soneto, que é intemporal e é esta: se houver saudade, então é porque houve amor, existiu verdade no amor e no afecto que tivemos com os outros. E não há nada melhor de que elevarmos o nosso amor pela nossa saudade.” A ligação desta ideia com o 25 de Abril é explicada assim por André: “Mais do que vandalizar ou retirar velhos símbolos, como os brasões do colonialismo, importa contextualizar o passado, reintegrando-o. Não é aceitá-lo passivamente, mas compreendendo-o, de um modo que consigamos ser melhores no futuro. Amar a saudade é isso. E é também uma consciencialização, não é só festejar o 25 de Abril porque sim, vamos relembrar porquê. As pessoas só o festejam, mas muitas delas nem sabem o que é a expressão da liberdade, nem falam do que é não ter essa liberdade.”

Nascido em 1983, em Zurique, filho de emigrantes, André ViaMonte viveu depois em Singen, uma cidade do Sul da Alemanha, crescendo a ouvir diferentes sonoridades e culturas musicais, do folclore português ao fado, à ópera, ao jazz, à bossa nova, até vozes búlgaras. Compôs cedo os seus primeiros temas, acabando por firmar aos 22 anos, e já em Portugal, um lugar na música, enquanto se formava em musicoterapia. Tem dois álbuns a solo: VIA (2016) e MONTE (2019).