Uma águia tentou chocar uma pedra: recebeu uma cria e finalmente tornou-se pai

Murphy, que nunca teve descendência, começou a chocar uma pedra. Dias depois, recebeu uma cria no viveiro e cuida dela desde então. “Ele não é o padrasto, é o pai que se chegou à frente.”

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A águia Murphy com a cria World Bird Sanctuary

Em Março, os visitantes do World Big Sanctuary, em Valley Park, no estado norte-americano do Missouri, começaram a ficar preocupados com Murphy. Viram a águia-careca de 31 anos praticamente imóvel, sentada numa zona do viveiro, e ficaram preocupados com o facto de poder estar doente ou ferida.

À medida que o mês foi avançando, foram tantas as pessoas que manifestaram aos tratadores as preocupações que tinham que o santuário decidiu afixar uma placa perto do recinto a explicar porque é que o animal mal se mexia debaixo do poleiro e estava sentado num ninho improvisado.

"O Murphy não está ferido, doente, ou sequer em sofrimento", dizia o aviso. "Ele construiu um ninho no chão e está cuidadosamente a chocar uma pedra. Desejamos-lhe a melhor das sortes!"

Um tweet fez com que a missão de Murphy se tornasse viral rapidamente e levou milhares a seguir as novidades ao mesmo tempo que a águia tentava chocar a pedra, apesar de saberem que o feito era impossível. Mais tarde, deu-se uma reviravolta e os fãs viram o animal ser pai, quando, no início de Abril, começou a criar laços com uma cria que o santuário recebeu.

"Ele estava sentado numa pedra e todos lhe diziam: 'É uma pedra, não vais chocar nada'”, recorda Dawn Griffard, responsável pelo santuário. “De repente, na cabeça dele, a pedra eclodiu e tem uma cria", acrescenta.

Murphy chegou a este santuário, que tenta libertar as aves que recebe de volta ao meio selvagem, há cerca de 30 anos. Foi transportado de Oklahoma com uma pata partida, que foi tratada antes de ser libertado. Contudo, pouco tempo depois, regressou com uma asa ferida.

Nessa altura, os tratadores concluíram que a ave tinha sofrido danos permanentes que a tornaram incapaz de voar ou de sobreviver na natureza, onde a maioria das águias vive 20 a 30 anos e, desde então, vive no santuário.

No início de Março, Murphy estava num viveiro com outras quatro águias-carecas quando os funcionários repararam que, pela primeira vez, tinha levado uma das pedras que estavam no recinto para junto de si.

Segundo Dawn, durante várias semanas o animal tornou-se tão protector da pedra que não deixava que as outras quatro aves se aproximassem. Se o tentassem fazer, piava ou atacava.

Apesar de a águia nunca ter chocado antes, a directora do centro destaca que esta situação não é invulgar durante a época de reprodução da Primavera, momento em que as hormonas das aves estão em alta. Segundo a mesma, algumas tentam chocar pedras ou bolas de golfe quando não têm descendência.

"Nunca tivemos uma ave no santuário que protegesse um ninho de forma tão violenta como esta. Ele estava muito empenhado", acrescenta Dawn.

A 4 de Abril, alguns dias depois de Murphy ter começado a proteger demasiado agressivamente o seu "bebé de pedra", os funcionários do santuário levaram-no para um recinto separado e privado. Apesar de a ave não fazer ideia do que se seguia, em breve teria uma cria verdadeira debaixo da asa.

Nessa mesma semana, a equipa de resgate trouxe uma águia bebé da localidade de Ste. Geneviève para o santuário, depois de uma tempestade de vento lhe ter destruído o ninho. Segundo Dawn, a outra águia com a qual vivia morreu no Outono.

Depois de a cria ter sido examinada para saber se estava ferida, os funcionários do santuário tinham a tarefa de descobrir a quem a iriam juntar. Queriam evitar qualquer contacto com humanos, uma vez que isso impediria que o animal fosse libertado na natureza. Segundo a responsável pelo centro, Murphy era "a melhor escolha".

"Ele já estava a mostrar os aspectos hormonais de cuidar de uma cria. E estava a tratar tão bem da pedra que decidimos que era a nossa melhor aposta", afirma.

No entanto, Murphy só tinha experiência em cuidar de uma pedra, por isso os tratadores decidiram pôr a cria numa pequena gaiola, que colocaram dentro do ninho da águia. A partir daqui, monitorizaram cuidadosamente o desenrolar da relação através de uma câmara que estava no recinto. A cria foi libertada da gaiola a 13 de Abril, depois de ter estado cerca de uma semana no ninho.

Foi então que Murphy "mostrou realmente interesse", explica Dawn.

Naquela manhã, a águia recebeu um peixe inteiro e para a cria foram espalhados pequenos pedaços pelo ninho. Quando os tratadores foram ver se ambos tinham comido, o peixe de Murphy tinha sido despedaçado, mas a pilha da cria permanecia intacta. No entanto, a zona do corpo desta ave onde a comida é armazenada estava cheia, o que significa que Murphy tinha alimentado a sua cria.

À medida que a relação se consolidava, Dawn e o santuário foram publicando actualizações nas redes sociais e chegaram comentários emocionantes de apoiantes de todo o país. "As pessoas dizem que ele não é o padrasto, é o pai que se chegou à frente", afirma.

Em breve, os funcionários vão começar a treinar a cria para voar e caçar para que possa ser libertada neste Verão.

Quanto a Murphy, a directora diz que as pessoas não devem preocupar-se com o facto de o animal ficar triste ou sozinho quando isso acontecer. "Há um momento em que os pais águias sabem que é altura de a cria partir e quase a expulsam do ninho. Por isso, ele saberá", conclui.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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