Hierarquia torna muito difícil denunciar assédio na academia, defende BE

Bloco de Esquerda entende que deve existir uma estrutura independente para lidar com estes casos e anuncia que está a trabalhar numa proposta para que haja um mecanismo seguro para fazer denúncias.

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Catarina Martins é coordenadora do Bloco de Esquerda LUSA/RODRIGO ANTUNES

A coordenadora do BE, Catarina Martins, considerou neste domingo, no Porto, que é muito difícil fazer denúncias de assédio no meio académico português "dentro das próprias estruturas hierárquicas", defendendo uma estrutura independente para lidar com estes casos.

"Nós achamos mesmo que é preciso entidades independentes das faculdades ou dos centros de investigação, porque na verdade é muito difícil, como está à vista e como se percebe, fazer denúncias dentro das próprias estruturas hierárquicas, mesmo quando criam algumas comissões", disse Catarina Martins, no Porto.

Falando na conferência de imprensa de apresentação do festival Desobedoc, no Cinema Trindade, a coordenadora do BE adiantou que o partido está "a trabalhar numa proposta para que haja um mecanismo que não depende de cada faculdade ou de cada centro de investigação, um mecanismo que possa ser seguro para fazer a denúncia, e que possa tirar consequências das denúncias que são feitas".

Esta semana foram tornadas públicas acusações de assédio sexual feitas por três ex-investigadoras do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC) a dois professores — Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins que negaram todas as acusações.

Entretanto, a deputada estadual brasileira Bella Gonçalves também afirmou que foi assediada sexualmente por Boaventura de Sousa Santos, e o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e o jornal espanhol Publico suspenderam as colaborações com o sociólogo.

"Claro que ainda bem que o Centro de Estudos Sociais suspendeu Boaventura de Sousa Santos, ainda bem que vai ter uma comissão, mas isso não chega", disse Catarina Martins.

A responsável do BE considera que "há claramente um problema estrutural e transversal" na academia, já que "esta não é a primeira vez que aparece um problema".

"Eu diria que também não é só a academia a ter problemas, na academia também haverá mulheres que sabem fazer-se ouvir e ainda bem, começam a fazer-se ouvir", assinalou ainda.

Catarina Martins também discordou da ministra do Ensino Superior, Elvira Fortunato, que afirmou, no sábado, que as instituições podem autonomamente resolver os casos relativos a alegado assédio moral e sexual, e descartou criar já uma estrutura nacional, apesar de a ver como "benéfica".

Na quinta-feira, o Sindicato Nacional de Ensino Superior (SNESup) criticou a existência de canais de denúncia geridos internamente pelas instituições, defendendo em alternativa um portal nacional que garanta o anonimato das alegadas vítimas e de quem é acusado.

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