Gana é o primeiro país a aprovar a vacina contra malária da Universidade de Oxford

Vacina já tinha recebido apoio da Organização Mundial da Saúde em 2022 e é agora aprovada pela primeira vez para administração num país. Os dados mostram eficácia de 80% em crianças até aos três anos.

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Só em 2021, a malária causou mais de 600 mil mortes em todo o mundo REUTERS

A vacina contra a malária criada na Universidade de Oxford (Reino Unido) garantiu a primeira aprovação no Gana, numa altura em que este país africano intensifica o combate à doença transmitida por mosquitos – e que mata uma criança a cada minuto em todo o mundo.

A aprovação da R21/ Matrix-M é um dos vários esforços para combater a doença que mata mais de 600 mil pessoas por ano em todo o mundo, a maioria das quais são crianças do continente africano. A estrutura complicada do parasita da malária e o seu ciclo de vida têm frustrado muitas das tentativas de desenvolver vacinas.

Após décadas de investigação, a primeira vacina contra a malária, apelidada Mosquirix, da farmacêutica britânica GSK, recebeu o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a falta de financiamento e de potencialidades comerciais goraram a possibilidade de a empresa produzir as doses necessárias.

Já esta vacina de Oxford, que foi aprovada para crianças entre os cinco e os 36 meses – a faixa etária com maior risco de morte por malária – tem uma vantagem na sua escala, graças a um acordo com o Instituto Serum da Índia para a produção de 200 milhões de doses anuais.

Por outro lado, a GSK comprometeu-se a produzir até 15 milhões de doses da Mosquirix (que necessita de ser administrada quatro vezes) todos os anos até 2028, bem abaixo dos cerca de 100 milhões de doses anuais desta vacina que a OMS afirma serem necessários a longo prazo para cobrir as cerca de 25 milhões de crianças em risco.

Os resultados da fase intermédia dos testes da vacina de Oxford envolveram mais de 400 crianças e foram publicados na revista The Lancet Infectious Diseases em Setembro de 2022.

Doze meses após a quarta dose, a vacina de Oxford apresentou uma eficácia de 80% no grupo que recebeu a dose mais alta do componente adjuvante de reforço imunitário da vacina e 70% no grupo de dose mais baixa. As doses foram administradas antes do pico da época de malária no Burkina Faso.

Está em curso um ensaio clínico de fase III (fase de aplicação na população) no Burkina Faso, Mali, Quénia e Tanzânia, que envolveu 4800 crianças, cujos resultados devem ser publicados nos próximos meses. No entanto, os dados desta fase – que apontam para um desempenho semelhante à fase II – já foram partilhados com as entidades reguladoras nos últimos seis meses, adiantou Adrian Hill, investigador da Universidade de Oxford.

As vacinas infantis em África são, geralmente, pagas por organizações internacionais como a Gavi e a UNICEF, depois de receberem a aprovação da OMS. Esta é a primeira vez que uma vacina importante foi aprovada primeiro num país africano, antes das nações mais ricas, acrescenta Adrian Hill, destacando que era incomum que uma entidade reguladora em África analisasse os dados científicos mais rapidamente do que a OMS.

“Especialmente desde a covid-19, as entidades reguladoras africanas têm assumido uma postura muito mais proactiva. Têm dito… não queremos ser os últimos da fila”, conta Adrian Hill.

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