Assembleia do Tennessee expulsou dois afro-americanos por participarem em protesto

Justin Jones e Justin Pearson juntaram-se a uma manifestação no Capitólio estadual para exigir leis mais rigorosas para o porte de armas. Outra parlamentar democrata, que é branca, não foi expulsa.

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Justin Jones, Gloria Johnson e Justin Pearson no protesto dentro do Capitólio estadual que levou aos pedidos de expulsão Reuters/STRINGER

Dois parlamentares afro-americanos do Partido Democrata foram expulsos da assembleia estadual do Tennessee por participarem numa manifestação de centenas de pessoas que exigiu no Capitólio estadual medidas mais rigorosas de venda e porte de arma. Outra deputada estadual, que participou no mesmo protesto, mas é branca, acabou por não ser expulsa.

Justin Jones foi o primeiro nome a ir a votos no plenário da assembleia estadual, maioritariamente controlada pelo Partido Republicano, e os 72 votos a favor da expulsão superaram os dois terços necessários na câmara de 100 deputados. A seguir coube a vez a Gloria Johnson: o resultado de 65-30 ficou aquém do exigido por lei. Finalmente, na votação sobre a expulsão de Justin Pearson, os 69-26 decretaram também a sua perda de mandato.

Jones, Pearson e Johnson juntaram-se na semana passada a centenas de manifestantes para exigir uma regulamentação de armas mais rigorosa, na sequência de um novo tiroteio escolar em Nashville, a capital deste estado do sul dos Estados Unidos, no qual morreram seis pessoas, incluindo três crianças.

A fotografia dos três, com Gloria Johnson no meio, de mãos dadas no ar à frente dos manifestantes que entraram dentro do Capitólio estadual para pressionar os parlamentares estaduais a fazer mais para controlar as armas num estado maioritariamente conservador e pró-armas, foi considerada pelos seus pares como “comportamento desordeiro” que trouxe “desordem e desonra à Câmara dos Representantes”.

Jones e Pearson usaram um megafone para apelar aos manifestantes para gritarem palavras de ordem como "poder ao povo" e "sem acção, sem paz", de acordo com vários meios de comunicação social norte-americanos.

“O que queremos? Regulamentar as armas! Quando queremos? Agora!”, gritou-se nos corredores da sede do poder legislativo em Nashville.

“Um parlamentar eleito pode ser expulso por expressar a sua oposição, isto é inaudito no Tennessee. Isto nunca aconteceu na nossa história”, disse Justin Jones, em declarações às televisões. “O que o país está a ver é que não temos democracia no Tennessee”, acrescentou, garantindo que irá continuar a responsabilizar os deputados estaduais pela sua inércia.

“Não se trata apenas de mim, trata-se de tentar silenciar e excluir este movimento”, concluiu.

A notícia da expulsão dos deputados democratas levou o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também ele do Partido Democrata, a reagir na sua página no Twitter: “Três crianças e três líderes mortos a tiro em mais uma matança e em que se concentram os parlamentares eleitos do Partido Republicano? Em punir membros eleitos que se juntaram a milhares de manifestantes pacíficos para exigir acção".

Para Biden, o que aconteceu na quinta-feira em Nashville, “é chocante, antidemocrático e sem precedentes”.

No entanto, ao contrário do que afirmou Justin Jones e reiterou Joe Biden, a decisão de expulsar os deputados estaduais não é inédita, mesmo sendo extremamente rara. A assembleia do Tennessee expulsou um membro eleito em 1980 e outro em 2016.

O episódio violento que levou ao protesto da semana passada aconteceu a 28 de Março. Audrey Hale, de 28 anos, invadiu uma escola primária cristã armada com duas espingardas de assalto e uma pistola, onde matou seis pessoas antes de ser morta pela polícia.

O ataque à Escola Covenant foi planeado durante meses, a atiradora tinha um mapa detalhado das instalações e uma espécie de manifesto, segundo a polícia, que, no entanto, não sabe ainda a razão do ataque.

Este novo episódio violento numa escola reabriu o debate sobre o controlo de armas de fogo nos Estados Unidos, como sempre quando estes casos acontecem. No entanto, o mais provável é que tudo continue na mesma no Tennessee no que à aquisição de armas diz respeito. Audrey Hale era detentora de sete armas adquiridas em cinco lojas diferentes.

Em Junho do ano passado, o Congresso dos EUA aprovou um projecto de lei bipartidário com o objectivo de restringir o acesso a armas de fogo, sendo a reforma mais importante nos últimos 30 anos na luta contra a onda de violência armada.

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