Mais de 100 detidos em novo dia de protestos em França

Sindicatos convocam mais manifestações, antes de a constitucionalidade da reforma do sistema de pensões ser avaliada. Macron: “Se queriam reformar-se aos 60 anos não era a mim que tinham de eleger.”

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Uma minoria de manifestantes entrou em confronto com a polícia Mohammed Badra/EPA

Com menos afluência do que em anteriores jornadas, as manifestações contra a reforma do sistema de pensões voltaram às ruas de várias cidades de França e os sindicatos já convocaram para a próxima semana um novo dia de protestos, na véspera do Conselho Constitucional se pronunciar sobre a legalidade do diploma.

Em cidades como Paris, Nantes, Estrasburgo e Rennes houve novamente desacatos provocados por uma minoria dos manifestantes, que entraram em confronto com a polícia. Agências bancárias e imobiliárias foram danificadas ou incendiadas, um restaurante famoso na capital também foi atacado. A polícia usou gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar as pessoas.

“Condeno estes actos, não tem sentido e não têm qualquer relação com o combate que travamos”, declarou na televisão France 5 Laurent Berger, secretário-geral da CFDT, a central sindical mais representativa. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, que tem estado debaixo de fogo por dizer que a resposta policial à violência, também ela violenta, é proporcional, escreveu no Twitter que 154 agentes da autoridade ficaram feridos e que 111 pessoas foram detidas.

Os números do seu ministério apontam para 570 mil manifestantes em todo o país, enquanto a CGT, a outra grande central sindical, afirma que só em Paris houve 400 mil. Seja como for, ambos os números representam um decréscimo em relação a outras ocasiões.

“Sim, cada vez é mais duro para alguns trabalhadores, porque de cada vez [que se manifestam] têm perda de salário”, comentou Laurent Berger, lembrando que “esta foi a décima primeira jornada de mobilização” e que, mesmo assim, “é impressionante como ainda há tantas pessoas e um nível de apoio tão elevado entre a população”.

“A mobilização enfraquece, é normal. Pensei que chegasse mais rápido. O importante é manter a pressão sobre Emmanuel Macron”, disse ao Le Monde um sindicalista dos caminhos-de-ferro, Florent Anger.

De visita à China, o Presidente francês não voltou a pronunciar-se sobre a reforma do sistema de pensões, um assunto que deu já como praticamente encerrado. Mas o fracasso de uma reunião entre o seu Governo e oito sindicatos na quarta-feira, e sobretudo o que disse Laurent Berger, irritou-o. O sindicalista alertou que “a crise social está a transformar-se em crise democrática” e Macron não gostou.

“Que um Presidente eleito, com uma maioria eleita, relativa é certo, procure aprovar um projecto que apresentou democraticamente – isso não se chama crise democrática”, atirou o chefe de Estado, acrescentando: “Se as pessoas queriam reformar-se aos 60 anos não era a mim que tinham de eleger como Presidente da República.”

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