Seymour Stein (1942-2023), o editor que descobriu Madonna, os Talking Heads e os Ramones

Empresário e editor teve uma carreira recheada de contactos com grandes nomes da música. Tinha 80 anos.

Foto
Seymour Stein e a mulher, Linda (ao centro) com Iggy Pop e os Ramones Roberta Bayley/Redferns/getty images

Seymour Stein, empresário no mundo da música que co-fundou a editora Sire Records e trabalhou na Warner Records, morreu domingo aos 80 anos com cancro. O seu nome não é tão conhecido quanto os daqueles que descobriu ou a quem deu contratos que os catapultariam para as páginas centrais da história da pop, como Madonna, Talking Heads, Ramones e Lou Reed. A Stein coube igualmente ter lançado bandas britânicas como The Smiths, The Cure ou Depeche Mode nos EUA e para o mundo.

A notícia da sua morte foi confirmada pela filha, a realizadora Mandy Stein, sendo público que o empresário sofria de cancro há anos. Seymour Stein morreu domingo de manhã em sua casa, em Los Angeles.

O New York Times elogia-lhe o conhecimento enciclopédico de música e revela que o seu apelido era na verdade Steinbigle — Seymour nasceu numa família judia ortodoxa e alterou-o, como muitos filhos de imigrantes chegados aos EUA, para o tornar mais simples, a conselho de um produtor que lhe serviu de mentor nos anos 1950. Seymour Stein começou por estagiar, em dois Verões consecutivos, na King Records, onde se editava, por exemplo, James Brown. Daí seguiu para uma carreira alimentada tanto pelo seu profundo amor pela música quanto pelo conhecimento bibliográfico e talento para identificar potenciais êxitos.

“Ele sabia as letras de todas as músicas que alguma vez ouvimos”, disse em tempos Chrissie Hynde dos Pretenders, citada pelo New York Times e vocalista de uma das bandas que constava da lista de artistas editados pela Sire Records. Sempre quis trabalhar em música, disse o próprio Stein à revista Billboard, na qual também começou a trabalhar muito cedo, aos 16 anos, após o final das aulas. Primeiro, ainda com 13 anos, começou por escrever críticas para a revista; só depois veio um lugar como estagiário e com acesso ao mundo profissional musical. Posteriormente, na King Records, em Cincinnati, criou as fundações do que previa ser a forma certa de trabalhar na edição discográfica.

A Billboard estava sediada em Nova Iorque e foi a essa cidade que voltou para trabalhar noutra editora, a Red Bird. Só em 1967 fundou finalmente a Sire, com Richard Gottehrer — que viria a abandonar a editora em 1975. Começou como editora independente, mas sete anos depois viria a ser absorvida pela poderosa Warner. O primeiro músico que contratou chamava-se Steven Tallarico. “Que mais tarde se tornaria Steve Tyler, dos Aerosmith”, contou Stein à mesma Billboard. Entre as primeiras edições da Sire Records estão canções dos Fleetwood Mac, por exemplo.

Talento & sorte

A Sire começou a agregar grandes futuros nomes. Alguns deles vinham da prospecção militante de Stein, que andava pelos bares e clubes nocturnos em busca de novos artistas. Foi assim que, a conselho da sua mulher, Linda, viu um ensaio dos Ramones em 1975, como relata o Guardian, altura em que se estabeleceu também a ligação com a pequena banda que fazia a abertura para o grupo punk nova-iorquino — os Talking Heads.

Houve também algum acaso, ou sorte, de permeio. Madonna, por exemplo, chegou através do DJ Mark Kamins, cujo contrato com a Sire lhe permitia ser igualmente produtor e ganhar mais. E uma das artistas que trouxe foi a cantora que se veio a tornar uma estrela pop global. Depois de ouvir a gravação amadora de Everybody, Stein, que estava a recuperar de uma situação cardíaca no hospital Lenox Hill, em Nova Iorque, recorda-se de ter dito: “Esta mulher é mais esperta do que nós todos. Saiam-lhe do caminho.” Foi o maior sucesso comercial da editora.

Lou Reed, Pretenders, Replacements, Soft Cell, mas também The Cure ou Depeche Mode foram nomes trazidos para a editora, a par de outros mais recentes como Aphex Twin ou Regina Spektor, recorda o diário britânico The Guardian. Já o New York Times especifica que convencia os seus correligionários britânicos a licenciar temas para os EUA viajando carregado de cheesecakes ao estilo nova-iorquino.

Com a Warner vieram Ice-T, My Bloody Valentine, Echo & the Bunnymen, Madness, the Undertones ou os Smiths e o seu cantor, Morrissey, a solo. Uma das suas colaborações mais emblemáticas é com Brian Wilson, o brilhante Beach Boy, editando o seu primeiro álbum a solo. New York, o álbum a solo de Lou Reed editado em 1989, também teve a mão de Stein.

Mas há quem o tenha posto numa espécie de posteridade diferente: os escoceses Belle and Sebastian escreveram um tema sobre Stein ter decidido não os contratar. A canção chama-se Seymour Stein, sublinha o Guardian.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários