Finalmente museu, a casa de Serge Gainsbourg abre ao público em Setembro

A residência onde passou os seus últimos 20 anos de vida em Paris dará a conhecer parte da intimidade do cantautor francês. Mas também será possível beber um copo e ouvir música no Gainsbarre.

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Serge Gainsbourg na sua casa da Rue de Verneuil em 1991, o ano em que morreu; junto a ele, uma foto de Jane Birkin com os dois filhos do casal JEROME PREBOIS/SYGMA/GETTY IMAGES

Figura mítica da canção francesa, emblema de uma certa forma de estar só sua, Serge Gainsbourg morreu em 1991. Mas parte da sua memória física e etérea renascerá em Setembro, quando a casa onde residiu nos últimos 22 anos da sua vida abrir ao público, em forma de museu: a Maison Gainsbourg, na rua de Verneuil, em Paris, cujo interior se mantém intocado desde a morte do músico.

Local de peregrinação desde a morte de Gainsbourg, que sucumbiu a um ataque cardíaco aos 62 anos, a fachada da casa está coberta de cartazes ou graffiti sempre em rotação, alguns com o rosto inconfundível do autor de Je t'aime... moi non plus e Bonnie and Clyde, outros com mensagens variadas. O seu interior, garantia em 2021 à agência de notícias AFP a filha do cantor, Charlotte Gainsbourg, “permaneceu intacto” e está recheado de instrumentos musicais, livros e objectos pessoais.

Este domingo, dia em que Gainsbourg faria 95 anos, foi de novo Charlotte a fazer o anúncio oficial: a Maison Gainsbourg abrirá ao público a 20 de Setembro deste ano. “Voilá, esta é a minha casa. Não sei o que é — uma sala de estar, uma sala de música, um bordel, um museu...", descreveu o músico em Abril de 1979, no programa de televisão L'invité du Jeudi, declarações agora recuperadas pela AFP. Já no ano passado as mesmas declarações haviam sido coladas em cartazes na fachada da casa, em jeito de pré-anúncio da abertura do espaço.

Charlotte Gainsbourg, actriz e cantora, a filha que Serge teve com Jane Birkin, diz-se “muito feliz e emocionada por anunciar a abertura da Maison Gainsbourg”, cita a AFP. A experiência dos visitantes desdobrar-se-á em duas visitas: a casa, sita no número 5 da rua de Verneuil, permitirá “um mergulho na intimidade" do cantautor; o museu propriamente dito, no número 14 da mesma rua, “irá refazer a vida" de Gainsbourg "através das suas obras e da sua colecção de peças emblemáticas”. Juntam-se ainda as valências de livraria, café e piano bar — que irá chamar-se Gainsbarre.

A história desta casa-museu desenrola-se há muito nos bastidores de uma família bem pública. Situada no sétimo arrondissement de Paris, uma zona residencial, a residência inspirou temas como L'hôtel particulier, do álbum Histoire de Melody Nelson (1971), e foi o cenário onde o músico escreveu Aux Armes et Caetera (1979). E os vestígios do seu famoso ocupante não terão desaparecido com o tempo. Segundo a revista Time Out, até as beatas dos últimos cigarros que Gainsbourg fumou se mantêm nos cinzeiros. Já a Vogue Paris relata que as garrafas de vinho tinto estão ainda meio cheias, a tampa do piano continua aberta, e os retratos de Brigitte Bardot e outras estrelas da constelação que o rodeava enchem as paredes.

Logo após a morte de Gainsbourg, nascia o plano de musealização do espaço que os parisienses, e em certa medida os fãs de todo o mundo, identificavam com o músico (a casa foi fotografada várias vezes, tendo servido de cenário a algumas imagens conhecidas do casal que formou com Jane Birkin). “[Mas] nos primeiros dez anos, quando estava mais segura do projecto, era muito complicado fazê-lo acontecer. E depois recuei, porque era um pouco do que me restava dele, e guardei-o como um tesouro", disse Charlotte Gainsbourg à AFP em 2021, quando passavam 30 anos sobre o desaparecimento do seu pai.

Entretanto, a herdeira de Gainsbourg foi viver para Nova Iorque e a distância ajudou. “Percebi que tinha de ser feito.” Em 2021, chegou a anunciar a abertura da casa-museu para Outubro do mesmo ano e partilhou imagens do espaço na sua conta pessoal Instagram. Mas o plano voltou a sofrer contratempos.

Charlotte Gainsbourg elenca memórias e elementos que agora poderão ser vistos pelos cerca de 100 mil visitantes que a Maison Gainsbourg espera receber por ano. Quando Jane Birkin vivia com Gainsbourg, a casa era “uma confusão muito arranjada”, ri-se a filha, que se recorda de por lá estar um busto da mãe, inicialmente em gesso e depois convertido em bronze. Com os anos, a casa ficou cheia de quinquilharia e recordações da sua vida, entre as quais a sua colecção de esculturas.

Serge Gainsbourg assinou 16 álbuns de estúdio, alguns dos quais conceptuais, e trabalhou também como actor, sendo um conhecido boémio e um polemista. Os seus duetos, a composição para outros artistas e a exploração de diferentes sonoridades ao longo da sua carreira, cimentaram o cariz emblemático do seu nome.

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