BE insiste em fixar preços: “A grande distribuição não tem boa vontade”

A líder do BE criticou a decisão do Governo de aplicar o IVA zero aos bens alimentares através de um acordo com a grande distribuição e exigiu o aumento dos salários e o controlo das margens de lucro.

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Catarina Martins esteve em Gondomar numa acção de protesto em frente ao Pingo Doce LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

A líder do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, insistiu esta segunda-feira na necessidade de se fixarem os preços dos bens alimentares essenciais, considerando que o IVA zero que será aplicado pelo Governo ao cabaz alimentar a partir de Abril vai fazer com que a grande distribuição absorva a descida dos preços e a integre nos seus lucros.

"É preciso uma descida real e essa descida exige mecanismos de controlo dos preços e não simplesmente baixar o IVA 6% nalguns produtos e esperar que a grande distribuição tenha boa vontade. A grande distribuição não tem boa vontade, tem sido multada em milhões de euros pela Autoridade da Concorrência", afirmou Catarina Martins. "Vamos mesmo confiar que sem mecanismos é agora que os preços descem?", questionou, concluindo: "Não será seguramente".

A coordenadora do BE falava aos jornalistas numa acção pelo controlo de preços nos bens essenciais junto ao Pingo Doce de Rio Tinto, em Gondomar, dias depois de o Governo ter adoptado um pacote de medidas que passam por aplicar uma taxa zero ao IVA de cerca de 30 a 40 bens do cabaz alimentar, durante seis meses, através de um acordo com a grande distribuição e os produtores.

Para a líder dos bloquistas, o Governo "avança tarde" com esta medida que "pode significar a descida de 6% nalguns bens, poucos, e se a grande distribuição não comer a descida e a integrar nos lucros". Mas, para Catarina Martins, "precisamos mais do que isso", ou seja, de estabelecer o preços dos bens essenciais do cabaz alimentar e ir observando os mesmos "ao longo do tempo".

Caso contrário, alertou, "a descida do IVA vai ser incorporada nos lucros da grande distribuição", realidade que em Espanha "demorou 15 dias". E sublinhou que "a descida de 6% não compensa o aumento de 20%" dos preços dos alimentos.

Catarina Martins lembrou ainda que, nos últimos anos, os lucros da grande distribuição "não pararam de aumentar", tendo a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, acumulado "590 milhões de lucros" em 2022, enquanto "quem trabalha começou a comprar menos bens porque o salário não chega".

Defendendo que a subida nos preços dos bens alimentares não encontra "justificação nos salários dos trabalhadores", que "permanecem parados", mas sim, no aumento das margens de lucro, rematou: "Só controlando as margens e estabelecendo preços podemos acabar com o assalto aos salários".

Na sexta-feira, o Governo adoptou uma série de medidas para enfrentar o aumento do custo de vida que, além do IVA zero nos bens alimentares essenciais, contempla um aumento dos salários da função pública em 1% e do subsídio de refeição dos funcionários públicos para seis euros, uma ajuda às famílias mais vulneráveis com 30 euros mensais e 15 euros por mês por criança e um apoio à produção agrícola de 140 milhões de euros.

O Bloco de Esquerda vai levar o tema ao Parlamento com uma interpelação ao Governo, nomeadamente, ao ministro da Economia, António Costa Silva, esta quarta-feira, acerca dos "preços abusivos dos bens essenciais e o empobrecimento da população”.

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