O último condenado à morte no Reino Unido foi injustamente acusado

Supremo Tribunal norte-irlandês condenou o Estado britânico a pagar multa de quase 400 mil euros por obter uma confissão sob tortura. Liam Holden morreu o ano passado sem conhecer a decisão.

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Liam Holden, em 2012, quando a sua sentença foi anulada Reuters

O Supremo Tribunal da Irlanda do Norte considerou esta sexta-feira que Liam Holden, o último homem a ser condenado à morte por enforcamento no Reino Unido, foi injustamente acusado da morte de um soldado britânico, depois de a sua confissão ter sido obtida mediante tortura e ameaças de morte.

Holden foi condenado em 1973, viu depois a pena ser comutada para prisão perpétua, antes de ser anulada há 11 anos, mas já não sobreviveu para assistir à decisão do tribunal pela qual passou quatro décadas a lutar: morreu o ano passado, aos 68 anos.

“O meu pai já não está aqui para assistir a este final, para ver isto resolvido”, disse à BBC Radio o filho Samuel. Foi uma longa, longa jornada para ele, uma longa estrada – passou por muito para aqui chegar. Nunca devíamos ter passado por isto… hoje ficou claro que ele é inocente.”

Para o juiz Kevin Rooney, citado pelo Belfast Telegraph, Holden “foi sujeito a humilhação e degradação e os soldados actuaram de maneira opressiva, maliciosa, insultuosa e arrogante”. or isso, condenou o Estado britânico a pagar mais 350 mil libras (395 mil euros) aos herdeiros da vítima.

Holden recebeu em vida 1 milhão de libras (1,13 milhões de euros) de indemnização pelos danos causados. Este novo caso resulta de acção separada por danos contra o Ministério da Defesa britânico por improbidade em cargo público, agressão, espancamento e tortura.

No Twitter, o Pat Finucane Centre, grupo de defesa de direitos humanos e promotor da resolução não violenta do conflito norte-irlandês, escreveu que “o juiz leu o testemunho de Liam em tribunal no ano passado – ‘Eu só quero os documentos a provar que sou inocente e que um soldado diga ‘eu fiz isto’.’ Infelizmente, faleceu antes desta vindicação.”

O caso remonta a Outubro de 1972, depois da morte a tiro do soldado Bell na área da Springfield Avenue no lado ocidental de Belfast. Na altura com 18 anos e a trabalhar como cozinheiro, Liam Holden foi levado para um posto militar e submetido a afogamento simulado (waterboarding).

Com uma toalha molhada sobre a cabeça, imobilizado no solo, interrogado e insultado, temeu pela vida depois de quatro sessões do género. Mais ainda quando lhe enfiaram um capuz na cabeça e lhe encostaram uma arma à cabeça e exigiram que confessasse ter matado o soldado Bell.

Aí já não teve forças para resistir e concordou em aceitar que tinha sido ele a disparar, tendo-se livrado da arma depois.

De acordo com o Belfast Telegraph, um psiquiatra forense que o entrevistou em 2016 disse que ele confessou ter pesadelos mais vívidos do que qualquer experiência real.

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