Marques’Almeida e o revivalismo dos anos 2000 para miúdos e graúdos

A dupla de Marta Marques e Paulo Almeida é o grande destaque do calendário da 52.ª edição do Portugal Fashion, o evento de moda do Porto, a decorrer até sábado, 18 de Março.

NEG - 16 marco 2023 - portugal fashion porto - marques almeida
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O final do desfile de Marques'Almeida Nelson Garrido
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As modelos alinhadas à espera do início do desfile Nelson Garrido
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Os chapéus exibidos na colecção Marques'Almeida resultam de uma parceria com a marca portuguesa Hurricane Nelson Garrido
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Paulo Almeida, da dupla Marques'Almeida, entra nos bastidores Nelson Garrido
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Uma das modelos nos bastidores do Portugal Fashion Nelson Garrido
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O ensaio antes do desfile Marques'Almeida Nelson Garrido
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Corrigem-se erros durante o ensaio para o desfile Marques'Almeida Nelson Garrido
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Detalhe nos bastidores de Marques'Almeida Nelson Garrido
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Últimos ajustes antes da colecção Marques'Almeida entrar em cena Nelson Garrido
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O momento do desfile Marques'Almeida Nelson Garrido
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Os vestidos Marques'Almeida cruzam o feminino com o grunge Nelson Garrido

Há mais de três anos, que Marta Marques e Paulo Almeida tinham exposta, no ateliê da Marques’Almeida, uma fotografia da Garagem Fiat, o edifício devoluto na Rua Latino Coelho, no Porto. E se há espaço que se identifica com a estética da marca é este, onde os grafítis das paredes dialogam com o tingimento das gangas de assinatura da dupla. Ao terceiro dia da 52.ª edição do Portugal Fashion, nesta quinta-feira, concretizaram o desejo e provaram, uma vez mais, que Marques’Almeida é mesmo para toda a família.

A menos de meia hora da primeira modelo pisar a passerelle, faz-se um último ensaio. Quem assiste, aplaude como se o desfile já estivesse a acontecer. Depois, nos bastidores, há que ultimar detalhes, antes de o público ver a colecção da dupla de criadores para o próximo Outono/Inverno. De alfinete em riste, Paulo Almeida ajuda uma das modelos a compor o decote de um vestido em ganga.

Já Marta Marques está de volta das crianças. É que, neste desfile, há modelos de palmo e meio. Na última estação, lançaram uma colecção de criança, que surgiu de uma necessidade de ambos. “Para nós é importante mostrar o máximo de variedade possível. Tivemos filhas e foi um desafio novo, porque tínhamos de encontrar roupa com que nos identificássemos. Tem sido uma coisa divertida de fazer”, conta Paulo Almeida aos jornalistas, no rescaldo da apresentação.

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Nelson Garrido
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Paulo Almeida ajusta o vestido de uma modelo Nelson Garrido

Antes de começar o desfile, há que entreter os miúdos. Enquanto Marta aplica sombra nos olhos de umas meninas, outras entretêm-se a ver desenhos no ecrã de um tablet. Afinal, não são (ainda) profissionais. As manequins já preparadas tiram fotografias umas às outras, enquanto comem e bebericam kombucha. Estes não são uns bastidores banais. Aliás, o espaço é a dobrar, quando comparado com outros desfiles.

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Uma das crianças a ser maquilhada Nelson Garrido

Não é por acaso. Além de trazerem dezenas de participantes para o desfile e terem colecções generosas, os Marques’Almeida são cabeças-de-cartaz do Portugal Fashion e um dos nomes mais conhecidos da moda portuguesa além-fronteiras. Durante mais de uma década, viveram em Londres, onde estabeleceram a marca que não só já vestiu nomes como Rihanna ou Beyoncé, como foi vencedora do prémio LVMH para jovens designers.

Mas voltemos ao ambiente dos bastidores. “Não podes fazer movimentos muito fortes porque se não isso cai”, diz Paulo a uma das modelos. Ao lado, ajustam-se as perneiras a outra modelo. Nesta estação, é esse um dos destaques da proposta: são como se fossem umas calças, mas que terminam antes de chegar ao joelho. Quase todas as manequins desfilam como este “acessório”.

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Paulo ajusta as perneiras Nelson Garrido

Cinco minutos antes do desfile, Paulo continua a cirandar os bastidores, como que a fazer uma vistoria. E Marta? Ainda está com as crianças, a garantir que estão todas satisfeitas antes da hora da acção. Parece um último momento de calmaria antes da tempestade. Cada um sabe o que se segue, apesar de muitos não serem profissionais.

Isto porque a Marques’Almeida foi pioneira em trazer diversidade para a passerelle, algo que fazem desde 2010, quando começaram a apresentar-se na Semana da Moda de Londres. Há “modelos” de diferentes estaturas, diferentes etnias e aqui o género é indiferente — é para todos.

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O entusiasmo entre quem vai desfilar é palpável, mas também nas equipas de bastidores. Ter a oportunidade de trabalhar num desfile da Marques’Almeida é um sonho concretizado. Rafael Pinto, com quem o PÚBLICO conversou no dia anterior, tentou trocar a escala de serviço para poder servir como aderecista nesta apresentação. Não conseguiu, tal é a concorrência. “Sempre quis fazer Marques’Almeida e ainda não é desta”, lamentava.

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Cor, plumas e transparências

Chegou a hora. Na sala de desfiles, basta olhar em volta para ver dezenas de convidados a vestir Marques’Almeida. Começa a soar a música e entra o primeiro coordenado. Durante os próximos minutos, a plateia é transportada para os anos 2000, numa festa da cor e da perícia de Marta e Paulo. “Sempre fomos muito inspirados nos anos 90, porque tínhamos a ideia de que o irmão mais velho é que era cool”, recorda o criador.

A estética dos anos 80 e 90 sempre esteve presente no trabalho de ambos, mas desta vez deixaram essa visão romântica e viraram-se para anos 2000, para a sua própria juventude. “Foi quando começámos a consumir moda e é a década com que nos identificamos mais. Interessava-nos fazer um revivalismo”, justifica Paulo Almeida.

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Há muitas transparências, sensualidade e plumas em abundância, mas um toque de grunge. “É uma forma de mostrar o corpo, mas com um ar mais agressivo”, explica o designer. Como tal, não faltam as peças em cabedal, estilo motociclista, em minissaias ou casacos, e as gangas tingidas em cores garridas. Em contraste, as sedas e os tafetás que surgem em peças com “ar grunge ou desfeito”, mas também em silhuetas cintadas, estilo peplum — também já parte da assinatura da Marques’Almeida.

Subvertendo a ideia do feminino e cruzando-o com o edgy, os vestidos de noite são em ganga com uma longa cauda. Domina também o cor-de-rosa, tanto em miúdos como em graúdos, que dá vida a enormes casacos em pêlo. Os coordenados de adulto são mimetizados para a escala das crianças — que estiveram à altura do papel, tal e qual autênticos profissionais.

Passado o êxtase da passerelle, Marta e Paulo encontram a realização profissional na forma como “alguém completamente desconhecido” usa Marques’Almeida. Mais do que vestir celebridades, interessa-lhes conhecer quem são os clientes. “Continuamos a ver, de cada vez que sai uma encomenda, o que compraram e para onde foi”, diz Marta. O marido concorda: “Das primeiras vezes em que entrávamos no autocarro e encontrávamos uma pessoa a usar uma das nossas coisas era uma surpresa muito gratificante.”

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Volvida uma década de carreira, têm sido surpreendidos com compras de portugueses, ainda que continuem a representar uma ínfima fracção do negócio. “A questão do preço é crítica, mas tentamos ter várias linhas e um preço de entrada mais democrático”, argumenta Marta Marques, lembrando que também têm disponíveis peças usadas na loja online da marca.

Paulo Almeida confessa-se surpreendido “pela positiva” e celebra: “É bom ver que se está a usar moda portuguesa em Portugal. É muito gratificante.” A “comunidade”, como lhes chamam, aplaude efusivamente quando o casal vem agradecer. E não vêm sozinhos: trazem consigo o futuro da Marques’Almeida.

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O Portugal Fashion continua na Rua Latino Coelho, no Porto, até sábado, 18 de Março. Esperam-se, ainda, as apresentações de nomes como Alexandra Moura, Diogo Miranda, Huarte, Miguel Vieira ou Pedro Pedro.

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