Morreu Bobby Caldwell, a voz de What you won’t do for love

O músico e compositor tinha 71 anos e vários discos. A sua carreira ganhou novo fôlego quando viu samples da sua música usados no rap.

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A música de Bobby Caldwell ganhou segunda vida nos anos 1990, samplada por diversas figuras do hip hop Andrew Lepley/Getty Images

Em 1978, Bobby Caldwell fez êxito com a canção soul What you won't do for love. Na capa do disco a que o tema pertence, o seu álbum de estreia homónimo, vemos a silhueta do cantor sentado num banco com um chapéu. Não era possível ver a cara por detrás da voz. Ainda não se vivia na era da omnipresença do teledisco – a MTV só apareceria três anos depois. Por isso, até hoje ainda há pessoas que continuam a ficar surpreendidas quando descobrem que aquela voz perfeita para soul e r&b que interpretou essa canção pertencia a um homem branco. Esse homem morreu na terça-feira, aos 71 anos.

Caldwell cresceu em Miami, Florida. Os seus pais também estavam no mundo do entretenimento e apresentavam programas de variedades na televisão. Cedo começou a tocar música, tendo passado por uma banda do início dos anos 1970 chamada Katmandu e mais tarde tocado guitarra ritmo na banda do lendário Little Richard. Ficou conhecido quando se lançou a solo.

A sua carreira passou não só pela chamada blue-eyed soul (soul feita por brancos), mas também por géneros de fácil audição como pop-rock, smooth jazz ou o crooning à Frank Sinatra, personagem que aliás encarnou num espectáculo em Las Vegas no final dos anos 1990 e no início dos anos 2000. Foi nesse espectáculo sobre o Rat Pack que Caldwell conheceu a sua esposa, Mary, com quem era casado desde 2004. Escreveu também canções para várias bandas sonoras, gravou vários standards do cancioneiro americano e ainda compôs a balada dos anos 1980 The next time I fall, para Peter Cetera, a voz dos Chicago, e Amy Grant.

Foi Mary quem deu a notícia da morte do músico no Twitter na quarta-feira, apontando como causa uma reacção negativa a antibióticos que provocou uma doença prolongada. Em declarações após a morte do marido, confessou ela própria não acreditar, até o conhecer, que aquela voz pertencia a um homem branco.

Nenhum dos mais de 15 álbuns de Bobby Caldwell chegou aos calcanhares da dupla platina nos Estados Unidos do álbum de estreia, mas o músico teve uma carreira respeitável, com muitos fãs no Japão, por exemplo. O seu derradeiro álbum, Cool Uncle, datado de 2015, juntava-o a convidados como CeeLo Green, Jessie Ware, Deniece Williams e Mayer Hawthorne.

A música de Caldwell foi ganhando uma segunda vida nos anos 1990, como matéria-prima para samples de rap. Mais famosamente, What you won't do for love em Do for love, êxito póstumo de Tupac Shakur – e em várias outras canções. Mas também em The light, de Common, uma das mais marcantes canções de amor de todo o seu género musical, na qual J. Dilla pegou no refrão de Open your eyes, transformando-o em algo de novo. Estes temas pegavam na voz de Caldwell, outros não. Sky's the limit, de Notorious B.I.G., foi beber ao instrumental, incluindo a kalimba, de My flame.

A forma como os artistas continuavam a pegar na sua música era algo que muito apreciava. Segundo a esposa e declarações do próprio em várias entrevistas, adorava que tal acontecesse. Após a notícia da sua morte, Chance The Rapper partilhou no Instagram uma troca de mensagens com o músico datada de Setembro do ano passado, em que Caldwell afirmava "Sentir-me-ei honrado se samplar a minha canção."

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