Amamos ser mulheres, amamos as mulheres

Ser mulher não é ter uma vulva; ser mulher é algo que vem de dentro e que pode ter outro corpo e expressar-se de várias formas. Todos os modos são válidos. Amamos ser mulheres.

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Amamos o nosso corpo com as suas formas largas e estreitas, a nossa voz azeda e melíflua, consoante o estado de espírito, o nosso cabelo frágil em época da espiga ou farto e saudável como a crina de um cavalo. Amamos a nossa pele imperfeita e sincera, e, podem não acreditar, gostamos até da nossa celulite e de todas as «ites» que nos querem impingir como fealdade. Somos o nosso corpo, somos também corpo, não há maneira de lhe fugirmos.

Porém, muito mais do que um corpo, amamos ser mulheres porque estamos conscientes de que trazemos às costas a nossa ancestralidade. Todas as mulheres antes de nós que se sacrificaram, que foram humilhadas e que lutaram para que hoje se possa ser Mulher, com maiúscula. Se durante muitos séculos fomos consideradas ser humano de segunda categoria — e em muitos países ainda o somos — e nos levaram a crer que há pouco de amável em nós, chegou finalmente a hora de nos amarmos por inteiro, com os defeitos e as qualidades que a natureza nos deu. Porque todas as mulheres são amáveis à sua maneira, dignas do amor-próprio e do amor dos outros.

Ser mulher não é ter uma vulva; ser mulher é algo que vem de dentro e que pode ter outro corpo e expressar-se de várias formas. Todos os modos são válidos. Amamos ser mulheres, amamos todas as mulheres. É tempo de explicarmos às nossas filhas e a todas as meninas do mundo que ser mulher é algo grande, digno de orgulho, que podem desejar ser o que elas quiserem e que o mundo tem de deixar de ser um lugar inseguro. É tempo de deixarmos claro às mulheres do presente e do futuro que o destino é de quem segura as rédeas e que as nossas mãos são tão válidas como as que guiaram a História até hoje.

Descobrimos tarde na vida que as mulheres são seres admiráveis, demorámos a amar as outras mulheres e a amar-nos a nós próprias. Crescemos a acreditar que éramos menos válidas e valentes. Injectaram-nos veneno para os olhos durante o nosso crescimento. Foram os gestos e os livros de outras mulheres que nos limparam os olhos e nos ensinaram a ler o mundo. Andávamos às cegas e não sabíamos. É triste ter de saber, mas antes a tristeza do desengano que a alegria da ignorância. E nós estamos finalmente de olhos abertos, mulheres. Olhos que enfrentam o espelho, que encaram a paisagem. Amamos ser mulheres, amamos as mulheres.

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