Plantas que dão luz, abraços 6G e telemóveis de enrolar – o futuro visto do Mobile World Congress

O PÚBLICO resume as novidades da edição de 2023 do Mobile World Congress, a grande feira de tecnologia de Barcelona. Desde plantas que “dão” electricidade e cães robóticos a abraços virtuais via 6G.

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As plantas da Bioo funcionam como interruptores biológicos DR
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Edição de 2023 do Mobile World Congress, em Barcelona,Edição de 2023 do Mobile World Congress, em Barcelona Reuters/NACHO DOCE,Reuters/NACHO DOCE
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Edição de 2023 do Mobile World Congress, em Barcelona EPA/Enric Fontcuberta
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Edição de 2023 do Mobile World Congress, em Barcelona,Edição de 2023 do Mobile World Congress, em Barcelona EPA/Enric Fontcuberta,EPA/Enric Fontcuberta

Telemóveis que se desenrolam como um pergaminho, plantas que produzem electricidade e funcionam como interruptores, e cães robóticos foram alguns dos destaques da edição deste ano do Mobile World Congress (MWC), a grande feira de electrónica do consumo que passou esta semana por Barcelona, Espanha. Como habitual, o evento juntou gigantes tecnológicas e startups de todo o mundo.

Desde o final dos anos 1980 que muitas empresas escolhem esta semana para apresentar novos produtos e projectos. O PÚBLICO traz um resumo da tecnologia em exposição nos oito pavilhões da feira, que este ano levou mais de 88 mil pessoas à cidade espanhola – o maior número desde a pandemia da covid-19.

Abraços via redes 6G

Muitas empresas de telecomunicação aproveitaram o MWC para falar sobre o potencial da tecnologia 6G (sucessora do 5G), que deve chegar ao mercado em 2030. Além de proporcionar ligações ainda mais rápidas, o 6G vai diminuir a latência ou “ping” (essencialmente, o tempo de resposta) das comunicações. A japonesa NTT Docomo acredita que isto permitirá “chamadas hápticas”. Nestes telefonemas, além de se ouvir e ver alguém, é possível detectar o estado sensorial de uma pessoa (por exemplo, a textura de uma manta ou o batimento do coração de um bebé).

A NTT Docomo levou um protótipo da tecnologia ao MWC. O sistema consiste num dispositivo (como um anel ou uma luva) que detecta as sensações de um dos intervenientes da chamada háptica. Essa sensação é convertida em vibrações e transmitida ao outro interveniente através de um dispositivo “condutor” (por exemplo, uma esfera que se agarra com a mão).

A sensação é como ter uma espécie de coluna de som esférica nas mãos, que emite pequenas vibrações que se alteram consoante a textura que se quer recriar. Por exemplo, várias vibrações curtas e próximas simulam a sensação de uma mão a passar pelas cordas de uma guitarra. A experiência é muito diferente do toque humano, mas percebem-se bem as texturas que a outra pessoa está a sentir. No futuro, é esperado que esta tecnologia funcione sem fios e a longas distâncias.

Cães robóticos

Embora não sejam novidade, ainda é raro ver um cão robótico a correr no meio da rua – este ano, havia propostas da Xiaomi, da Unitree e da startup espanhola Keybotic no MWC. Independentemente da marca, todos os robôs de quatro patas atraíam a atenção dos participantes, que paravam para interagir com as máquinas capazes de correr, saltar e rebolar. As finalidades variam: alguns cães robóticos servem para transportar cargas pesadas, outros são usados para procurar sobreviventes entre escombros, e outros foram criados para fazer companhia a pessoas que se sentem sozinhas. Algumas máquinas também são usadas em aulas de programação para crianças e jovens.

A Xiaomi trouxe o CyberDog, apresentado em 2021 na China, onde foram vendidas mil unidades a fãs de robótica. O robô tem um processador da NVDIA, que inclui 11 sensores, GPS, visão computacional e suporta três quilos “às costas”. No futuro, a marca chinesa espera que o CyberDog possa ajudar pessoas idosas que vivem isoladas.

A Unitree levou o Aliengo (50 mil euros), que carrega até 13 quilos, tem uma autonomia de quatro horas, várias câmaras e foi criado para transportar cargas ou ajudar em missões de salvamento. Corria ao lado do GoU1 (2700 euros), criado para fazer companhia a pessoas ou fazer parte de aulas de programação de crianças e jovens.

Já o Keyper, da marca espanhola Keybotic, foi criado para inspeccionar zonas industriais e fábricas sem qualquer intervenção humana, usando câmaras e sensores para navegar em ambientes perigosos e complexos com vários objectos. A marca ainda está a trabalhar no produto final.

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Cão robótico da Unitree DR
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Os cães robóticos como o Cyberdog atrairam bastante atenção no MWC Marc Asensio/Getty

Plantas que dão luz

Entre milhares de ecrãs, centenas de robôs, telemóveis e gadgets, vimos também várias plantas e micro-hortas no MWC, com cada vez mais empresas focadas na sustentabilidade. À entrada do pavilhão 6, várias pessoas paravam num pequeno jardim interior para tocar em suculentas capazes de activar rádios ou as lâmpadas de jarros iluminados.

A tecnologia é da espanhola Bioo, que desenvolve produtos que misturam plantas e tecnologia. Há canteiros que produzem electricidade a partir da energia libertada na decomposição de matéria orgânica, e suculentas que funcionam como "interruptores" biológicos.

“Isto funciona porque colocamos uma antena no solo que é activada quando as plantas detectam uma mudança de frequência devido ao toque humano. Esta mudança de frequência é convertida em voltagem”, explica ao PÚBLICO Aurélie Duran-Blanch, gestora do departamento de negócio da Bioo no Reino Unido. “Usamos suculentas porque são melhores condutores de electricidade e não requerem muita manutenção. O objectivo é que as pessoas se habituem à ideia de ver as plantas e a tecnologia integradas, porque faz parte do futuro.”

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Canteiros que produzem electricidade da Bioo DR
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Tocar nas suculentas da Bioo permite ligar e desligar luzes DR

Telemóveis com ecrãs que se enrolam

A norte-americana Motorola trouxe o protótipo de um telefone que se desenrola como um pergaminho, passando de um ecrã de cinco polegadas para um de 6,5 polegadas. O design lembra a série Motorola Rizr, produzida entre 2006 e 2008, com um ecrã que deslizava para cima para revelar um teclado.

A ideia do novo Rizr é proporcionar um telemóvel com um ecrã grande o suficiente para fazer várias tarefas ao mesmo tempo, sem deixar de ter um telefone que caiba no bolso. O visor é pOLED, uma espécie de ecrã OLED que, como o nome indica, utiliza o plástico como substrato em vez do vidro, o que permite mais flexibilidade e durabilidade.

Com o novo Rizr, a Motorola mostra que está a trabalhar na criação de smartphones diferentes. Desde 2007, com a apresentação do primeiro iPhone, o visual dos telemóveis mudou muito pouco. Em 2022, as vendas de smartphones diminuíram 11,3% (dados da analista IDC), com as pessoas a demorarem mais tempo a mudar de telemóvel e as marcas a focarem-se principalmente em melhorias incrementais ao nível das câmaras e da bateria.

Há anos que várias marcas tentam mudar o paradigma através de ecrãs dobráveis – a sul-coreana Samsung foi das primeiras empresas a apresentarem um modelo, com o Fold (2019). Um dos exemplos na MWC deste ano é o Honor Magic Vs (1600 euros), lançado na China em Novembro, que tem um ecrã de 7,9 polegadas que se dobra noutro, menor, de 6,45 polegadas. A Honor era a antiga marca low-cost da Huawei que foi vendida em 2020 depois de as sanções norte-americanas impedirem a empresa-mãe chinesa de usar serviços da Google nos seus dispositivos.

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O telemóvel da Motorola desenrola para ficar com um ecrã maior Enric Fontcuberta/Lusa

Ecrãs 3D e óculos de realidade aumentada

Na busca de ecrãs maiores e mais imersivos, muitas marcas apostam em óculos de realidade aumentada que sobrepõem imagens do mundo virtual ao mundo real. O foco da ZTE parece estar em criar tablets que simulam a ideia de profundidade sem necessidade de gadgets adicionais. A empresa chinesa usou o MWC para anunciar uma nova parceria com a Leia, uma empresa líder no desenvolvimento de tecnologia 3D, e mostrar o novo tablet da marca Nubia.

A experiência de olhar para o visor lembra os cromos dos anos 1980 e 1990 que vinham dentro de pacotes de batatas fritas e podiam ser inclinados para se ver imagens a mexer. Estas imagens reflectoras eram impressas em papel lenticular, que inclui pequenas lentes e prismas na superfície que reflectem a luz de diferentes formas. É por isso que os cromos, com duas ou mais imagens sobrepostas, simulavam uma sensação de 3D quando eram inclinados.

No caso do tablet da Nubia, a imagem 3D é criada através da colocação de uma camada de luz DLB (Diffractive Lightfield Backlighting em inglês) por baixo do visor LCD. O ecrã também está equipado com duas câmaras frontais, com oito megapíxeis cada, que seguem o olhar do utilizador permitindo que veja mais da imagem. Isto é uma vantagem face a um ecrã tradicional que só permite ver as imagens de um ângulo.

Quanto a óculos de realidade aumentada: a Xiaomi, a ZTE e a Huawei foram algumas das empresas com propostas no MWC. Em 2023, ainda é difícil ter uma experiência 100% imersiva neste tipo de óculos. Apesar de poderem ser adaptados a pessoas que têm miopia, são relativamente pesados e saem facilmente do lugar. Frequentemente, é preciso estar a agarrar os óculos para ver a imagem correctamente. O modelo de óculos da ZTE exigia a utilização de um cabo (USB-C) para ligar os óculos ao telemóvel.

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Óculos realidade aumentada da Huawei com ajuste de miopia DR

O PÚBLICO viajou ao Mobile World Congress a convite da Xiaomi

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