Erin Brockovich foi a Ohio falar sobre os riscos do acidente com o comboio tóxico

O encontro reuniu mais de duas mil pessoas. Erin Brockovich abordou as preocupações da população com a falta de informação sobre o perigo dos químicos libertados no acidente.

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A activista ambiental Erin Brockovich discursa perante os cidadãos de East Palestine, Ohio ALAN FREED/REUTERS

Na sexta-feira passada, dia 24 de Fevereiro, num auditório de uma escola secundária de East Palestine, no Ohio (EUA), Erin Brockovich discursou perante cerca de 2500 residentes. A activista que ficou célebre depois de um filme inspirado na sua vida e protagonizado pela actriz Julia Roberts, avisou a população da cidade sobre os riscos a longo prazo, para a saúde e para o ambiente, dos químicos libertados no descarrilamento de um comboio da Norfolk Southern.

Erin Brockovich, técnica jurista e activista ambiental, tornou-se popular em 1993 por instaurar um processo contra a Pacific Gas & Electrict Co., uma empresa de gás natural e electricidade acusada de contaminar águas subterrâneas em Hinkley, Califórnia.

Na reunião com a comunidade de East Palestine, a activista ambiental apelou à população para que façam perguntas e exijam respostas. No entanto, avisou que não há uma solução rápida para as preocupações dos cidadãos.

No início do mês, dia 3 de Fevereiro, descarrilaram 50 vagões de um comboio da Norfolk Southern, alguns deles transportando materiais químicos. O acidente resultou numa nuvem de fumo que obrigou mais de 1500 pessoas a abandonarem as suas casas durante vários dias.

Para evitar uma explosão, as autoridades libertaram propositadamente e queimaram cloreto de vinila, um dos químicos que estavam nos vagões do comboio. Medida que Erin Brockovich descreveu como “escavar um buraco, enchê-lo de químicos e pô-lo a arder”.

Apesar do porta-voz da Agência de Protecção Ambiental (EPA) ter dito que os químicos primários resultantes da explosão foram o cloreto de vinila e acrilato de butila, não há informações sobre a quantidade de toxinas libertadas para o ar e derramadas no solo.

O director executivo da Norfolk Southern, Alan Shaw, aceitou prestar declarações relativas a este acidente perante Comissão do Ambiente e Obras Públicas do Senado na próxima semana, adianta a Reuters.

Medo de voltar a casa

Menos de uma semana depois do acidente, as autoridades garantiram que era seguro regressar à zona evacuada (um perímetro de cerca de um quilometro e meio em torno da área do descarrilamento). No entanto, a população afectada duvida da garantia de segurança que foi dada. Inclusive, alguns residentes afirmaram sentir náuseas e dores de cabeça quando regressaram às suas habitações.

Erin Brockovich diz que esta hesitação é normal porque a conduta das autoridades tem sido questionável. “As pessoas foram forçadas a sair das suas casas porque há químicos tóxicos no ar, e depois toda a gente volta a casa e dizem-lhes que é seguro. Mas depois dizem-lhes para não beber a água, e depois dizem que afinal podem beber a água. Isto gera muita confusão.”

Brockovich disse que nunca viu uma situação como esta, deixando um aviso aos cidadãos de que os dados que lhes ia apresentar não iam ser fáceis de ouvir. Deixou, no entanto, uma palavra de conforto, garantindo aos residentes preocupados que “não estão sozinhos”.

“Estes químicos demoram tempo a movimentar-se na água”, informou a activista, salientando a necessidade de “monitorizar as águas subterrâneas”. A jurista aconselhou quem depende de águas de poço a ter especial atenção.

Façam perguntas e exijam respostas

Erin Brockovich pediu ainda às pessoas que não se dividam, que ouçam o seu instinto, que verifiquem informação, façam perguntas e exijam respostas.

Mikal Watts, um advogado do Texas que falou depois da activista ambiental, deixou um conselho à população: que “para o seu próprio bem, fizessem imediatamente análises ao sangue e urina”.

Mais de uma dúzia de residentes iniciaram um processo de acção colectiva, afirmando que o acidente tóxico colocava a sua saúde e propriedade em risco.

Segundo a Reuteurs, a Norfolk Southern enviou uma resposta em carta na quinta-feira, dia 23 de Fevereiro, aos advogados destes residentes avisando que ia destruir os vagões depois de 1 de Março. No entanto, acrescentaram que dariam dois dias de antecedência para que os residentes e os seus representantes inspeccionassem os danos.

Os cidadãos de East Palestine queriam impedir a empresa de destruir o que consideram ser uma prova importante e apresentaram moções na sexta-feira, dia 24 de Fevereiro. Com isto conseguiram um dia extra para inspeccionar os vagões do comboio que derramou resíduos tóxicos na sua cidade.

O grupo de reflexão americana, Data for Progress, fez um inquérito sobre o acidente. Quase metade das pessoas entrevistadas acredita que o descarrilamento do comboio foi culpa da Norflok Southern. O estudo inquiriu 1,243 pessoas, 49% das quais culpam a Norflok Southern pelo acidente.

O National Transportation Safety Board (NTSB) diz que "problemas mecânicos" num dos eixos dos vagões ferroviários foram a causa mais provável do acidente.

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