“Contadores” de borboletas somam mais de 43 mil registos em Portugal. Quer ajudar?

Desde que começou o projecto do Censos já foram avistadas e registadas mais de 43 mil. Em 2022 observaram-se mais de cinco mil borboletas de 88 espécies diferentes. E qualquer pessoa pode ajudar.

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Em 2022 observaram-se mais de cinco mil borboletas de 87 espécies diferentes em Portugal

Durante três dias, em Avis, a conversa será dominada por um só tema: borboletas. Os "contadores" de borboletas preparam-se para fazer o balanço de um projecto de quatro anos no III Encontro Censos de Borboletas de Portugal que junta investigadores, voluntários, vigilantes da natureza e representantes de diversas instituições. ​Em 2022 observaram-se mais de cinco mil borboletas de 88 espécies diferentes. E desde que começou o projecto já foram avistadas 43.841.

Como estes animais coloridos são bioindicadores, ou seja, a sua diversidade é indicadora da diversidade de outros insectos, estes números não contribuem só para perceber o paradigma das borboletas em Portugal, mas também para avaliar a presença no território de outros insectos muito mais difíceis de monitorizar.

Os dados que chegam de outros países europeus indicam-nos que estes insectos estão a diminuir. Num relatório europeu que analisou as comunidades europeias de borboletas entre 1990 e 2009, dava-se conta de que “as borboletas não estão a acompanhar o passo das alterações climáticas”.​

Por cá, o Censos de Borboletas formou-se como um projecto de ciência-cidadã que observa e conta os indivíduos e espécies, contando com a participação de todos. A sua também. E, claro, quanto mais colaboração tiver este trabalho, mais robustos são os dados obtidos. Juntar toda a informação possível é um passo essencial para perceber o impacto das alterações climáticas e da poluição, preservar e proteger as borboletas.

A borboleta Maniola jurtina foi a mais avistada nos últimos quatro anos Rui Miguel Felix
A espécie Pieris napi foi avistada em Portugal 448 vezes em 2022 Albano Soares
O transecto de Serapicos Rui Miguel Felix
O transecto de Serra da Carregueira Eva Monteiro
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A borboleta Maniola jurtina foi a mais avistada nos últimos quatro anos Rui Miguel Felix

Ajudar este projecto significa sair de casa para observar e contar estes insectos. Mas antes, "é preciso conhecer um pouco da biodiversidade de borboletas da sua área" (veja aqui as 60 espécies mais comuns em portugal) conta-nos Eva Monteiro, coordenadora dos Censos de Borboletas de Portugal. O passo seguinte é contactar a organização, que o vai ajudar a marcar o seu transecto (o percurso que será percorrido de 10 em 10 dias à procura de diferentes espécies de borboletas).

Para estudar as populações de borboletas é preciso obter "dados constantes e com a mesma regularidade, durante pelo menos 10 anos", sublinha Eva Monteiro. Tendo em conta que o projecto se iniciou em 2019 e ainda não estabilizou, não é ainda possível calcular tendências em Portugal, refere.

O projecto envolve o Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) e o European Butterfly Monitoring Scheme (eBMS). Os investigadores e voluntários, bem como outros participantes neste programa de vigilância, juntam-se esta sexta-feira e durante o fim-de-semana em Avis para discutir os resultados dos primeiros quatro anos de contagens de borboletas. ​

Apesar de não existirem ainda dados suficientes para fazer leituras definitivas e classificar as diferenças que podem ter vindo a ser detectadas no número de transectos ao longo do tempo, a evolução das áreas vigiadas com este projecto parece animadora. “Em 2019 existiam nove trasectos, em 2020 subiram para 44 e depois 50”, contabiliza Eva Monteiro.

Agora, é crucial estabilizar estes números e “ter mais dados para perceber realmente as tendências”. A quantidade de insectos tem uma grande flutuação entre um ano e outro, explica a coordenadora do projecto, e uma maior ou menor quantidade pode estar apenas associada a condições atmosféricas ou meteorológicas daquele ano. Ficamos à espera para ver os resultados e obter conclusões mais claras sobre a presença destes insectos em Portugal, mas quem quiser fazer mais do que isso pode juntar-se ao projecto e tornar-se um voluntário contador de borboletas.

Artigo corrigido às 10h de 27 de Fevereiro: o número de registos é 43 mil e não 17 mil e o número de espécies é 88 e não 87.

Texto editado por Andrea Cunha Freitas

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