Preço do gás cai para valor mais baixo em 18 meses

O contrato para entrega em Março no TTF caiu 5%, para 49 euros MWh. Armazenamento na Europa ronda os 64%.

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A Rússia tem estado a perder receitas de petróleo e gás EPA/HANNIBAL HANSCHKE

A agressão russa contra a Ucrânia dura há quase um ano, mas os preços do gás natural parecem dar um sinal que em Fevereiro do ano passado poucos acreditavam ser possível – o de que a chantagem do gás está a deixar de ser uma arma à disposição de Moscovo.

Nesta sexta-feira, os preços no índice de referência TTF caíram mais de 5%, para os 49,2 euros por megawatt hora (MWh), algo que o Financial Times (FT) assinala ser uma estreia em 18 meses.

Longe vai o máximo histórico de 300 euros por MWh do Verão passado, ainda que o futuro da Ucrânia e o fim da guerra se mantenham em aberto. “Parece que a Europa foi bem-sucedida a libertar-se do gás russo”, disse ao FT Henning Gloystein, da consultora Eurasia Group.

Os níveis de armazenamento nos Estados-membros estão em média nos 64% (98%, no caso português, segundo a associação europeia de empresas do sector do gás, GIE), e o Inverno vai entrar na recta final, o que pode significar que os reservatórios se mantêm a um nível que torne mais fácil voltar a enchê-los para o próximo Inverno, sem colocar grande pressão sobre os preços.

O especialista ouvido pelo FT refere mesmo que os preços do TTF “continuam altos, mas já não têm de incorporar os receios de escassez de gás”.

De facto, os europeus têm sido bem-sucedidos a reduzir consumos energéticos (devido a um Inverno com condições mais amenas do que o habitual, e em boa parte também pelo factor preço) e os envios de gás natural liquefeito (GNL) de fornecedores alternativos como os Estados Unidos ou o Qatar têm permitido manter um afluxo regular aos terminais europeus.

Para os russos, trata-se de más notícias. As receitas energéticas que têm estado a permitir financiar o esforço de guerra estão a encolher, com o petróleo a ser vendido com desconto a grandes compradores como a Índia e China, e o gás a cotar a um preço que pode já não chegar para compensar a quebra nos volumes exportados.

Segundo a Bloomberg, este preço do contrato do TTF para entrega em Março, em torno dos 50 euros/MWh, é um marco e pode muito bem ser um novo patamar para os tempos futuros, ainda que mantendo-se acima dos valores históricos anteriores ao Verão de 2021 (à volta dos 20 euros MWh).

Mas Massimo Di Odoardo, especialista em gás natural, na Wood Mackenzie, disse à CNN que a competição com a China poderá mudar este panorama. Se no país asiático, liberto recentemente das restrições de combate à covid-19, voltar a acelerar a procura de gás, as quantidades disponíveis no mercado poderão diminuir, fazendo subir os preços novamente.

“A Europa está numa melhor posição do que estava há uns meses, mas será só em 2025, quando começar a chegar mais GNL ao mercado, que os preços poderão voltar a algum tipo de normalidade”, afirmou Di Odoardo.

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