ONU antecipa mais de 50 mil mortos no terramoto na Turquia e Síria

Até este sábado foram contabilizados mais de 25 mil mortos no sismo da passada segunda-feira. Acesso a zonas devastadas no Noroeste da Síria continua a ser dificultado por questões políticas.

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As buscas por sobreviventes prosseguem em cidades como Iskenderun Reuters/BENOIT TESSIER

O coordenador das operações de emergência das Nações Unidas, Martin Griffiths, disse que o terramoto de magnitude 7,8 que atingiu o Sul da Turquia e no Noroeste da Síria pode ter feito "mais do dobro" das mortes que foram registadas até agora.

Neste sábado, cinco dias após o sismo e as suas várias réplicas, as autoridades avançaram que estão confirmados mais de 25 mil mortos — com o balanço na Síria sem actualização desde sexta-feira.

"É difícil estimar com exactidão, mas estou convencido de que será o dobro, ou mais", disse o sub-secretário-geral da ONU responsável pela assistência humanitária.

Em declarações ao PÚBLICO, na sexta-feira, o director executivo da organização não-governamental Solaris, Fatih Sanli, disse que na Turquia admite-se a existência de 100 mil mortos.

Ouvido pelo canal britânico Sky News, Griffiths — um diplomata de carreira com vasta experiência na mediação de conflitos — mostrou-se "profundamente chocado com a ideia de que debaixo destas montanhas de destroços ainda estão pessoas, algumas delas vivas".

Numa visita à cidade turca de Adana, a oeste do epicentro do terramoto, o britânico sublinhou que as hipóteses de encontrar sobreviventes num desastre como o desta semana começam a diminuir após 72 horas.

Ainda assim, as equipas de emergência conseguiram resgatar mais alguns sobreviventes neste sábado, incluindo uma família de cinco pessoas na cidade de Nurdagi, 20 quilómetros a leste de Adana. Ainda mais perto do epicentro, em Kahramanmaras, uma criança de cinco anos foi retirada com vida dos escombros.

"A decisão de pôr fim a esta fase das operações de salvamento deve ser incrivelmente difícil", disse o sub-secretário-geral da ONU.

Pilhagens e detenções

O dia ficou marcado pelo registo de pilhagens e trocas de tiros nas proximidades de locais de salvamento, o que levou as equipas alemã e austríaca a suspenderem os seus trabalhos durante algumas horas.

Numa nova visita à região, neste sábado, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, recordou que as áreas afectadas pelo terramoto estão debaixo de uma declaração de estado de emergência.

"Isso significa que, a partir de agora, quem for apanhado a roubar vai sentir a mão firme do Estado nas suas costas", disse Erdogan.

Criticado no país pelo atraso no início das operações de resgate, o Governo turco anunciou neste sábado que mais de 100 pessoas foram detidas nas dez províncias afectadas pelo terramoto, suspeitas de terem responsabilidades na deficiente construção de milhares de edifícios.

Num dos casos, o construtor Mehmet Yasar Coskun foi detido no aeroporto de Istambul quando se preparava para partir em direcção ao Montenegro. Coskun foi o responsável pela construção de um edifício de 12 pisos e 250 apartamentos, na província de Hatay, que ficou completamente destruído.

Segundo os jornais turcos, muitos construtores contornam as exigentes leis de construção — em vigor desde o terramoto em Izmit, em 1999, que fez pelo menos 17 mil mortos — usando misturas com materiais de baixa qualidade; e os cidadãos denunciam uma cultura de "amnistias" a quem não cumpre as leis, a troco do pagamento de uma multa que regulariza a situação.

"O responsável é o Estado", disse ao New York Times Mesut Koparal, um habitante de Adiyaman cuja mãe morreu no terramoto. "Quando temos uma pequena dívida, o Estado persegue-nos e encontra-nos, mas não faz vistorias aos edifícios. Não sou engenheiro nem construtor, como é que era suposto eu saber?"

Do outro lado da fronteira, no Noroeste da Síria, a assistência humanitária continua por chegar em força às áreas mais afectadas, que já eram zonas devastadas por quase 12 anos de guerra. O balanço mais recente, de sexta-feira, dá conta de mais de 3500 mortos.

Confrontado com críticas à demora na chegada da ajuda à Síria — principalmente às zonas ocupadas pelos rebeldes —, Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que compreende a indignação.

"Se eu estivesse no meio da devastação, também estaria insatisfeito", disse o responsável. "Mas posso garantir que a ONU está ao lado do povo da Síria, seja nos territórios rebeldes, seja nos territórios controlados pelo Governo."

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