Jovens queixam-se de agressão homofóbica em bar do Porto

Seguranças de espaço cultural Maus Hábitos separaram grupos, puseram as vítimas na rua e, volvidos alguns minutos, os agressores. A violência recomeçou.

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O espaço Maus Hábitos, no Porto, foi palco de agressões entre clientes Paulo Pimenta

O confronto principiou à saída das casas de banho. Primeiro, ecoaram os insultos homofóbicos. Depois, começaram as agressões físicas. Os seguranças do espaço Maus Hábitos, na Baixa do Porto, não foram capazes de distinguir vítimas de agressores.

“Estas coisas não costumam acontecer”, comenta Daniel Pires, fundador e director do Maus Hábitos. “Isto é um espaço inclusivo. Não fazemos selecção à porta. Toda a gente entra. Quando há problemas, o que os seguranças fazem é separar. Têm um protocolo: mandar quem está a ser mais agredido embora primeiro.’”

Reconhece que o ideal teria sido alguém ter chamado de imediato os seguranças e estes terem sido capazes de perceber o que estava em causa e de alertar as autoridades. No calor do momento, "tratou-se de forma igual o que era diferente". “Quando os seguranças chegaram, estavam todos bastante enleados. Não perceberam quem era quem. Viram que um grupo estava a ser mais agredido e foi esse que mandaram sair.” Retiveram o outro uns minutos. “Os miúdos ficaram à conversa lá fora. Quando os outros saíram, ainda lá estavam.”

O caso veio a público quando um dos rapazes partilhou no Instagram imagens de uma mão ensanguentada e de nódoas negras num braço e numa perna. “Isto é o resultado da homofobia que existe neste país.” A indignação propagou-se rapidamente pelas redes sociais. “Os seguranças dos Maus Hábitos, em vez de ajudarem-nos, expulsaram-nos”, escreveu uma rapariga que se identifica como amiga do rapaz que estava com o namorado quando foi insultado e agredido por estranhos. “Foram depois ainda mais agredidos na rua.”

Pelos comentários que vai lendo em diversas plataformas online, Daniel Pires deduz que as vítimas se teriam sentido mais seguras se tivessem ficado dentro do estabelecimento e os agressores tivessem sido expulsos. “Pela nossa experiência, quando isso acontece, os agressores ficam ainda mais enraivecidos à espera. Separaram os grupos: ‘Ponham-se a milhas. Salvem-se. A gente segura-os aqui um pouco.’”

Os jovens agredidos apresentaram queixa na PSP. O Maus Hábitos endereçou-lhes um pedido de desculpa. "Foi um erro grave expulsarmos todos os envolvidos, e não foi suficiente darmos tempo a uns e a outros, deixando assim as vítimas vulneráveis", escreveu Daniel Pires na sua página pessoal.

Em comunicado, o Maus Hábitos prometeu “tomar medidas exemplares em relação aos intervenientes e reforçar os protocolos de gestão”. “Tudo faremos para garantir que situações similares não voltem a acontecer.” Questionado sobre o que tal significa respondeu o director: “Vamos voltar a falar de procedimentos com os nossos seguranças."

De certo modo, ao ler a enxurrada de comentários negativos nas redes sociais, Daniel Pires também se sente um tanto injustiçado. "Ainda no ano transacto tivemos formação sobre sexismo. Queremos que os funcionários tenham consciência que não devem fazer comentários sexistas, racistas, homofóbicos. Nas nossas equipas, há pessoas de todos os géneros e feitios. Acolhemos eventos de todas as tribos.”

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