ONU está preocupada com uma alteração no programa nuclear do Irão

EUA, França, Reino Unido e Alemanha denunciam a resposta “inadequada” de Teerão à chamada de atenção da Agência de Energia Atómica. Macron fala em “fuga para a frente” que terá “consequências”.

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O Presidente, Ebrahim Raisi, é um protegido do ayatollah Khamenei, e um dos principais defensores do programa nuclear Reuters

As discussões políticas sobre o programa nuclear iraniano não têm avançado, pelo menos publicamente, desde o eclodir do movimento de contestação ao regime – Teerão já matou mais de 500 manifestantes, incluindo dezenas de crianças, desde Setembro. Só que o Irão continua a desenvolver as suas capacidades e a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) acaba de denunciar uma mudança técnica não declarada que identificou em Fordow, um complexo subterrâneo onde o país enriquece urânio a 60%.

As instalações de Fordow são consideradas tão importantes que o acordo internacional sobre o programa iraniano, assinado em 2015, proibia que ali se fizesse qualquer actividade de enriquecimento. Mas lá permaneceram 1044 centrifugadores IR-1, entretanto substituídas por outras mais avançadas. Desde que Donald Trump rasgou o acordo, em 2018, o Irão retomou o enriquecimento de urânio de forma progressiva, até chegar a uma pureza de 60%, a maior já registada (para desenvolver uma arma nuclear é preciso enriquecer urânio a 90%).

Numa visita realizada de surpresa, a 21 de Janeiro, a AIEA percebeu que “duas cascatas de centrifugadoras estavam interligadas de uma forma sensivelmente diferente” da que tinha sido declarada por Teerão.

Esta modificação é “incompatível com as obrigações do Irão” e a falta de informações prestadas à agência por parte dos iranianos “compromete a competência da AIEA para manter uma capacidade de detecção rápida [das actividades] nas instalações nucleares iranianas”, disseram, em reacção, os países ocidentais envolvidos nas negociações, Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha. “Lembramos que a produção de urânio altamente enriquecido nas instalações de Fordow traz riscos significativos de proliferação e não tem nenhuma justificação civil credível”, acrescentaram.

Teerão respondeu, apontando um “erro” à AIEA e garantindo que tinha “dado explicações imediatas” e que “o inspector da agência tinha ficado consciente do erro”. Uma resposta que Washington, Londres, Paris e Berlim consideraram “inadequada”. França reagiu ainda através de um comunicado do Presidente, Emmanuel Macron, divulgado depois de um jantar com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Macron denuncia “a fuga para a frente” do Irão: se o regime se mantiver neste caminho, avisa, isso trará “inevitavelmente consequências”.

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