Mulher yanomami morreu de desnutrição na maior terra indígena do Brasil

Imagem da mulher tinha sido usada pelo presidente do conselho de saúde da tribo para denunciar o quadro grave de desnutrição e falta de assistência com que Bolsonaro deixou o seu povo.

Foto
Marcha em apoio aos direitos do povo yanomami na cidade brasileira de Porto Alegre Diego Vara/REUTERS

Uma mulher yanomami fotografada em condições graves de desnutrição, cuja imagem foi divulgada para denunciar as condições de saúde das pessoas na maior terra indígena do Brasil, morreu na semana passada na sua comunidade. A informação foi divulgada por Júnior Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) dos yanomami e ye’kuana.

Júnior é uma das lideranças locais que vêm denunciando o quadro de falta de assistência em matéria de saúde na terra indígena, com explosão de casos de malária e ampliação dos casos de desnutrição de crianças e idosos.

As principais imagens que circularam nas redes sociais mostrando o estado de saúde precário dos indígenas partiram do presidente do Condisi.

Nas redes sociais, Júnior Yanomami pediu agora que a imagem da mulher desnutrida deixasse de ser replicada e disse que a morte aconteceu na semana passada. Segundo ele, a constatação do óbito ocorreu em visita à comunidade Kataroa.

"Por questões culturais, a sua imagem não poderá mais ser divulgada", afirmou Júnior. “Na cultura yanomami, após o falecimento, não pronunciamos o nome da pessoa, queimamos todos os seus pertences e não permitimos que fotografias permaneçam sendo divulgadas", disse o presidente do Condisi.

Na sexta-feira, o Ministério da Saúde declarou, através de uma portaria, o estado de emergência em saúde pública no território yanomami, como forma de assegurar atendimento em saúde com carácter de urgência.

Além da declaração, um Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública foi instalado com uma equipa técnica que está em Roraima há uma semana. A previsão é de que venha a ser montado um hospital de campanha para atendimento aos indígenas.

No sábado, acompanhado de ministros, o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, visitou unidades de saúde indígena em Boa Vista, capital estadual, o que deu maior visibilidade à crise de saúde no território, agravada pela presença ilegal de 20 mil garimpeiros na reserva.

Lula afirmou ter ficado impressionado com as imagens, nomeadamente com o estado de saúde da mulher que morreu na semana passada.

Os indicadores de mortes e doenças, as fotos de crianças e idosos desnutridos, a constatação da falta de medicamentos básicos e de assistência de saúde na terra yanomami não são novidades e foram denunciados ao longo de todo o Governo de Jair Bolsonaro.

O problema agravou-se no mandato do anterior Presidente, houve inúmeros alertas e pedidos de socorro e até mesmo uma operação da Polícia Federal para tentar reverter o processo de falta de abastecimento de medicamentos básicos contra verminoses.

52% de crianças desnutridas

De acordo com o Ministério Público Federal, 52% das crianças yanomamis estão desnutridas. Nas comunidades mais isoladas, o índice chega a 80%. Esses indicadores são piores do que os registados em países do sul da Ásia e da África subsariana, onde estão os países com mais subnutrição infantil.

Também em termos da malária, o quadro é crítico. Foram 44 mil casos da doença em menos de dois anos e o cenário é de que toda a população yanomami, de 28 mil indígenas, está infectada, com um surto fora de controlo, como descreve o MPF na sua recomendação de Novembro de 2021.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo

Sugerir correcção
Ler 29 comentários