Turquia cancela visita oficial do ministro da Defesa da Suécia

Político sueco de extrema-direita queimou exemplar do Corão em frente à embaixada turca. Tensão complica adesão da Suécia e da Finlândia à NATO.

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O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, exige a extradição de 130 curdos EPA/TURKISH PRESIDENT PRESS OFFICE / HANDOUT

O Governo da Turquia cancelou um convite feito ao ministro da Defesa sueco para uma visita ao país, em mais um exemplo das dificuldades nas negociações entre os dois lados sobre o processo de adesão da Suécia e da Finlândia à NATO.

O ministro sueco Pal Jonson deveria deslocar-se a Ancara na próxima semana, mas a visita foi cancelada na sexta-feira, à margem da reunião dos aliados da Ucrânia que decorreu em Ramstein, na Alemanha.

A decisão foi anunciada neste sábado pelo ministro da Defesa turco, Hulusi Akar. Segundo o governante, o motivo do cancelamento do convite a Jonson é a realização de mais uma manifestação, em Estocolmo, de apoio à comunidade curda.

Meio milhar de pessoas saiu às ruas da capital sueca, neste sábado, para protestar contra o acordo que foi assinado entre a Turquia, a Suécia e a Finlândia, em 2022, com vista ao fim do bloqueio de Ancara à adesão dos dois países nórdicos.

Segundo Akar, a sucessão de protestos na Suécia "esvazia" a oportunidade da visita do governante sueco. Na semana passada, a Turquia cancelou também uma visita do presidente do Parlamento sueco, Andreas Norlén.

À margem da manifestação pró-curda, o líder de um pequeno partido da extrema-direita da Suécia, Rasmus Paludan, queimou uma cópia do Corão em frente à embaixada da Turquia.

"Condenamos da forma mais veemente possível este ataque vil contra o nosso livro sagrado", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco num comunicado. "É inaceitável que este acto anti-islão tenha sido autorizado. Atinge os muçulmanos e insulta os nossos valores sagrados, e é feito sob a capa de liberdade de expressão."

Adesão em suspenso

Numa decisão impensável antes do início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em Fevereiro de 2022, os governos e os parlamentos da Suécia e da Finlândia formalizaram os pedidos de adesão à NATO em Maio do ano passado — um processo que só pode ficar concluído após a aprovação de todos os 30 membros da aliança.

Em resposta, a Turquia — membro da NATO há 71 anos, e detentora do segundo maior Exército da aliança, atrás dos EUA — exigiu como condição para a sua aprovação uma série de medidas contra membros e actividades do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e da milícia síria YPG, que Ancara diz ser um ramo do PKK.

O PKK liderou uma revolta contra as autoridades da Turquia nas décadas de 1980 e 1990, em resposta a décadas de repressão contra a ambição do povo curdo de ter o seu próprio Estado independente. No conflito morreram cerca de 40 mil pessoas, e o PKK integra a lista de organizações terroristas na Turquia, mas também nos Estados Unidos e na União Europeia.

Aquando do pedido de adesão da Suécia e da Finlândia à NATO, em 2022, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, exigiu aos dois países — mas principalmente à Suécia, destino de milhares de refugiados curdos — mais dureza no combate a actividades de pessoas ligadas ao PKK.

Em particular, Ancara obteve dos governos sueco e finlandês o levantamento de um embargo à venda de armas e um compromisso com vista à extradição de dezenas de curdos, a que a Turquia se refere como "terroristas". A primeira extradição aconteceu no início de Dezembro, com a chegada a Ancara de Mahmut Tat, condenado a mais de seis anos de prisão na Turquia.

Já este ano, na sequência da recusa do Supremo Tribunal sueco em autorizar a extradição do jornalista curdo Bulent Kenes — que a Turquia diz ser um dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado de 2016 —, Erdogan afirmou que a Suécia tem de fazer mais para contar com a aprovação da Turquia no processo de adesão à NATO.

A próxima eleição presidencial na Turquia realiza-se em Junho e o Parlamento do país deixará de poder votar o pedido de adesão da Suécia e da Finlândia a partir de Maio. Para além da Turquia, só a Hungria ainda não ratificou a adesão, mas o Governo de Erdogan é o único que ameaça vetar o pedido.

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