Trump confunde acusadora num processo de violação com ex-mulher

Acusado de ter violado E. Jean Carroll, Trump negou a acusação porque a escritora não era o seu “tipo de mulher”. Agora, confundiu-a numa fotografia com Marla Maples.

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Donald Trump é alvo de dois processos judiciais por parte de E. Jean Carroll Reuters/DAVID DEE DELGADO

O anterior Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pôs em causa um dos seus principais argumentos para negar a acusação de que violou E. Jean Carroll em meados da década de 1990, ao confundir a antiga colunista e escritora com a sua segunda mulher, Marla Maples. Desde que a denúncia foi feita, em 2019, Trump disse várias vezes que não conhecia a sua acusadora e que não podia tê-la violado porque ela não era o seu "tipo de mulher".

O caso aconteceu em Outubro de 2022, durante o depoimento de Trump num processo em que é acusado de difamação por Carroll, e foi conhecido nesta quinta-feira, depois de o juiz ter autorizado a divulgação pública do testemunho do anterior Presidente dos EUA.

Durante o questionário, Trump foi instado a identificar uma mulher que surgia ao seu lado numa fotografia, tirada numa cerimónia de angariação de fundos no início da década de 1990, numa altura em que o magnata do imobiliário estava casado com a sua primeira mulher, Ivana. Desde o início do processo, Trump tem afirmado que não conhecia a sua acusadora na época em que a violação terá ocorrido.

"É a Marla", disse Trump assim que olhou para a fotografia. "Sim, é a Marla, a minha mulher."

Segundo a transcrição do depoimento, o anterior Presidente dos EUA foi corrigido de imediato pela sua advogada, Alina Haba: "Não, é a Carroll."

Trump e Marla Maples estiveram casados entre 1993 e 1999 e tiveram uma filha, Tiffany Trump.

E. Jean Carroll, escritora e colunista da revista Elle entre 1993 e 2020, e colaboradora premiada de publicações como a Atlantic, Vanity Fair, Esquire e Playboy, acusa Trump de a ter violado num provador dos luxuosos armazéns Bergdorf Goodman, em Manhattan, em meados da década de 1990.

Carroll, agora com 79 anos, fez a primeira denúncia em público em 2019, no livro What Do We Need Men For?: A Modest Proposal. Segundo a escritora, Trump interpelou-a à saída da loja e pediu-lhe que o aconselhasse na escolha de roupa interior para uma outra mulher; a violação terá ocorrido no provador, depois de Trump ter empurrado a escritora contra a parede.

Em declarações aos media norte-americanos depois da publicação do livro, duas amigas de Carroll disseram que a ex-colunista lhes contou o caso na época em que a violação terá ocorrido.

Trump negou sempre a acusação uma de várias feitas por mais de uma dezena de mulheres desde 2016. Numa primeira reacção, ainda em 2019, disse que não sabia quem era Carroll e acusou-a de mentir para fazer dinheiro com a publicação do livro. E disse que nunca a teria violado porque ela não era o seu "tipo de mulher".

O anterior Presidente dos EUA é alvo de dois processos judiciais interpostos pela escritora. Num deles, é acusado de difamação por causa das declarações que fez sobre Carroll em 2019, quando era Presidente dos EUA; no outro, é acusado de agressão sexual e de difamação, por causa de declarações sobre Carroll que fez em 2022, já depois de ter saído da Casa Branca.

O início do julgamento no segundo processo foi marcado para Abril, depois de Carroll ter aproveitado uma lei temporária, aprovada em Nova Iorque, que dá um ano a antigas vítimas de agressões sexuais para fazerem acusações nos tribunais mesmo que os casos já tenham prescrito.

No segundo caso, o início do julgamento – ou o arquivamento do processo – está dependente de uma decisão final do Tribunal da Relação de Washington sobre se Trump pode ser alvo de um processo por difamação, já que as suas primeiras declarações foram feitas quando era Presidente dos EUA.

Se o tribunal decidir a favor de Trump, o Departamento de Justiça irá substituir-se ao anterior Presidente na qualidade de acusado; e, nesse caso, o processo será arquivado porque o Departamento de Justiça não pode ser acusado por difamação.

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